"Novos livros sobre a Família Imperial do Brasil", por Dom José Palmeiro Mendes
Por
Dom José Palmeiro Mendes*
Está nas bancas de jornais o número de
novembro de 2012 da sempre interessante
“Revista de História da Biblioteca Nacional”. A capa é dedicada ao imperador
Dom Pedro II: Pedro II, o estranho – Contradições do monarca republicano. Já se
vê que o artigo no interior da revista é polêmico. Como quer que seja, mostra o
permanente interesse dos historiadores e do público leitor pela figura de nosso
segundo imperador.
Por outro lado, está nas livrarias, já há
alguns meses, um importante livro sobre D. Pedro II, sem que sua publicação
tenha suscitado maior divulgação nos jornais e revistas semanais. Trata-se da obra
de Roderick J. Barman, “Imperador Cidadão – e a construção do Brasil” ($ 75,00).
É um lançamento da Editora UNESP, de S. Paulo. Trata-se de livro publicado em
inglês em 1999 (“Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825-91”,
Stanford University Press) e que, portanto, só agora foi traduzido para o
português.
De Roderick J. Barman, “Imperador Cidadão – e a construção do Brasil
O autor é um conhecido brasilianista, natural
da Grã-Bretanha e atualmente ensinando História no Canadá, na Universidade da
Columbia Britânica. É autor já de uma obra conhecida: “Princesa Isabel do
Brasil – gênero e poder no século XIX”, a qual de fato é posterior ao livro
atual, tendo saído em inglês em 2002 e em português em 2005 também pela Editora
UNESP.
“Imperador Cidadão” é uma obra de peso (616
pp), elogiada por José Murilo de Carvalho e outros historiadores, contendo
muito material inédito sobre o Imperador. Parece também ser uma obra polêmica,
o autor sendo ao mesmo tempo elogioso e crítico em relação a D. Pedro II. Sua
obra sobre Dona Isabel é também rica em informações inéditas e polêmica em
muitos aspectos. Efetivamente, poderemos discordar de certas interpretações do
autor, mas a documentação que apresenta é em si mesma importante.
A orelha do livro observa: “Figura basilar
para a consolidação do Brasil como Estado nacional, D. Pedro II é retratado
nesta obra não apenas a partir de suas intervenções políticas e públicas,
sempre cuidadosamente pensadas, mas também desde sua intimidade, seus anseios e
suas frustrações. Munido de uma vasta documentação, o historiador brasilianista
Roderick J. Barman nos oferece novas interpretações para a reservada
personalidade do monarca. Prudente e engenhoso, D. Pedro II mantinha uma
autodisciplina ferrenha e, sobretudo, nutria certo desprezo pela intimidade
alheia e por demonstrações de afetividade. Essa aparência impassível e ascética
refletia uma vida interior complexa, que desperta ao mesmo tempo simpatia,
exasperação e respeito. Educado para conduzir o Brasil, o monarca não se moldou
apenas pela formação clássica e erudita que recebera: acumulou penosas
experiências na infância e na adolescência, manteve ao longo da vida
relacionamentos conturbados com pais, irmãos, esposa, filhos e corte imperial.
Não sem razão, comparava-se a “um homem encerrado numa torre envidraçada”.
Seus principais conselheiros nunca foram
seres humanos, mas a página impressa, sobretudo monografias e resenhas em
francês que ilustravam para ela a “civilização” desejada. Entendia que o país
deveria tentar equiparar-se à Europa contemporânea em cultura e política. Isso
numa época em que, independente de Portugal há pouco, o Brasil consistia em um
punhado de regiões desconectadas, de interesses contraditórios.
Como o próprio D. Pedro II registrou:
“Durante o que é agora uma longa vida, apliquei todas as minhas forças e toda a
minha devoção para assegurar o progresso e a prosperidade de meu povo”. Ao
longo da obra, Barman nos mostra que, no monarca, o político e o pessoal
fundiram-se numa experiência particular, cuja trajetória revela, entre outros
aspectos, a obstinada busca de um imperador em tornar-se o cidadão modelo de um
país em vidas de construção”.
Barman dedica seu livro a D. Pedro Gastão de
Orléans e Bragança, “bisneto do Imperador Cidadão e tataraneto do Rei
Cidadão”. De fato, é devedor ao
príncipe, pois este generosamente lhe franqueou os arquivos do Palácio
Grão-Pará, deles tirando muita coisa interessante e inédita, tanto sobre D.
Pedro II, como sobre a Família Imperial.
Não damos aqui um parecer definitivo sobre o
livro, que só folhamos. Barman tem seus pontos de vista novos, originais, tem
também diversos preconceitos. Diz claramente que não é monarquista e nem
republicano (pp 10-11). Certas observações sobre D. Isabel mostram também não
ser católico, daí não entender a religiosidade da Princesa.
Como quer que seja, se tem a impressão que é
obra que ficará entre os livros fundamentais para se conhecer o grande
Imperador, ao lado das biografias clássicas
de Heitor Lyra (“História de D. Pedro II”, 1ª edição, 1938-1939; 2ª
edição aumentada, 1977) e de Pedro Calmon (“História de D. Pedro II”, 1975)
(Calmon já tinha publicado “O rei filósofo” em 1938).
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A propósito deste novo livro sobre D. Pedro
II, é interessante assinalar como o mercado editorial brasileiro continua
interessado na Família Imperial, publicando quase todos os anos alguma obra, de
mais ou menos valor, sobre nossos Imperadores e Príncipes.
Façamos aqui um elenco dos principais livros
publicados nos últimos anos:
- 1998: Lilia Moritz Schwarcz, “As barbas do
Imperador – D. Pedro II, um monarca nos trópicos”´(outra obra importante sobre D.
Pedro II).
- 2003: Roderick J. Barman, “Princesa Isabel
do Brasil – gênero e poder no século XIX”.
- 2004: Robert Daibert Jr., “Isabel, a
“Redentora” dos escravos”.
- 2006: Isabel Lustosa, “D. Pedro I – um
herói sem nenhum caráter” (subtítulo apelativo, mas é obra séria).
Armando Alexandre dos Santos, “Dom Pedro
Henrique – O Condestável das Saudades e da Esperança”.
Bruno da Silveira Antunes de Cerqueira
(organizador), “D. Isabel, a Redentora – Textos e documentos sobre a Imperatriz
exilada do Brasil em seus 160 anos de nascimento”.
- 2007: José Murilo de Carvalho, “D. Pedro
II” (livro pequeno, mas excelente sobre o Imperador, talvez possa ser
considerada fundamental para conhecer o nosso segundo Imperador).
Mary Del Priore, “O Príncipe Maldito – traição
e loucura na família imperial” (biografia de D. Pedro Augusto de Saxe-Coburgo e
Bragança, o neto mais velho do Imperador - o título é muito apelativo).
D. Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança,
“O imperador e a atriz – Dom Pedro II e Adelaide Ristori”.
2008: Mary Del Priore, “Condessa de Barral –
a paixão do Imperador”.
2009: D. Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e
Bragança, “A Princesa Flor Dona Maria Amélia – A filha mais linda de D. Pedro I
do Brasil e IV do nome de Portugal” (obra publicada em Funchal, Ilha da
Madeira, Portugal).
Augusto Oliveira Mattos, “Guarda Negra – A
Redemptora e o ocaso do Império”.
2010: D. Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e
Bragança, “D. Pedro II em Viena – 1871 e 1877”.
Teresa Malatian, “Dom Luis de Orléans e Bragança
– peregrino de impérios”: excelente biografia do “Príncipe Perfeito”, filho da
Princesa Isabel.
2011: Paulo Rezutti, “Titila e o Demonão:
cartas inéditas de D. Pedro I à marquesa de Santos” (o título é
sensacionalista, mas o livro é simpático para com D. Pedro I).
2012: Mary Del Priore, “A carne e o sangue –
A imperatriz D. Leopoldina, D. Pedro I e Domitila, a Marquesa de Santos”.
D. Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança,
“A intriga – Retrospecto de intrincados acontecimentos históricos e suas
consequência no Brasil Imperial” (sobre os casamentos das Princesas D. Isabel e
D. Leopoldina) – um pouco polêmico.
Roderick J. Barman, “Imperador Cidadão – e a
construção do Brasil”.
Está para sair, ainda este ano, um novo livro
de Mary Del Priore, agora focalizando a Princesa Isabel. Será mais uma obra
polêmica da conhecida historiadora. O livro vale-se de material inédito, do
Arquivo do Museu Imperial e também da correspondência do duque de Nemours, pai
do conde d´Eu, que se encontra num arquivo na Bélgica.
Não são exatamente biografias de D. João VI e
de D. Pedro I, mas merecem figurar aqui os bestsellers
de Laurentino Gomes, “1808” (2006) e “1822” (2010), que tem tido grande sucesso
(e o autor prepara atualmente uma terceira obra, “1889”.
Assinalemos também os vários livros que
saíram sobre D. João VI por ocasião do segundo centenário da trasladação da
Família Real Portuguesa para o Brasil (2008).
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Dom José Palmeiro, é Abade Emérito do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro,
pesquisador de genealogia e da História do Brasil.
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