Você sabia?
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Que foi na época da Monarquia que, pela primeira vez na história do Brasil, uma mulher comandou o país?
Depois da Independência do Brasil, duas mulheres foram as pioneiras na chefia de Estado. Dona Leopoldina, ainda como Princesa do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1822, foi a primeira mulher a governar o país, como regente em nome de Dom Pedro (futuro Imperador do Brasil). Foi ela que, em 2 de setembro daquele ano, determinou a Independência do Brasil.
"Leopoldina, Imperatriz consorte do Brasil" Retrato por Luís Schlappriz. Acervo do Museu do Estado de Pernambuco. |
Depois, durante o reinado do Imperador Dom Pedro II, foi sua filha, a Princesa Dona Isabel, a segunda mulher a governar o Brasil. Ela executou esta árdua tarefa por 3 vezes. A primeira delas apenas com 25 anos de idade e na qual, já demonstrando seus intentos abolicionistas, sancionou a Lei do Ventre Livre, que alforriava todas as crianças nascidas de escravos após a aquela data. Mas foi pela terceira regência, que a Princesa Dona Isabel ficou mais bem conhecida. Em 1889, depois de anos de luta, Dona Isabel conseguiu por fim a escravidão no Brasil, assinando a Lei Áurea, por ela sempre almejada.
S.A.I., a Senhora Dona Isabel, Princesa Imperial do Brasil Imagem pública |
Dona Isabel foi também a primeira senadora do Brasil.
Fonte:
Dona Leopoldina, Uma Habsburg no trono brasileiro. Glória Kaizer. Editora Nova Fronteira, 1997.
Princess Isabel of Brazil: Gender and Power in the Nineteenth Century. Roderick Barman. Wilmington: Scholarly Resources, 2002.
2
Que os maiores engenheiros do Império eram negros?
Os irmãos Rebouças, como eram conhecidos José, Antônio e André Rebouças, eram filhos de Antônio Pereira Rebouças, negro, advogado autodidata, deputado e Conselheiro do Imperador Dom Pedro II. Os irmãos engenheiros, como ficaram conhecidos, foram responsáveis por obras essências durante o período do Império, tanto em São Paulo, quanto no Rio de Janeiro e no Paraná. Neste último Estado, eles foram responsáveis pelas obras de transformação da recém criada província paranaense, sendo a eles atribuídas a construção da Estada da Graciosa, o chafariz na Praça Zacarias, em Curitiba, a Ferrovia Paranaguá-Curitiba (considerada a maior obra da engenharia férrea nacional), o Parque Nacional do Iguaçu e a estação ferroviária em Curitiba. Dos três irmãos, André Rebouças foi o que alcançou maior prestígio, no Rio, suas maiores obras foram o plano de abastecimento de água para a cidade, durante a seca de 1870, a construção das docas da Alfândega e das docas D. Pedro II.
"Retrato de André Rebouças" Óleo sobre tela de Rodolfo Bernadelli. Acervo do Museu Histórico Nacional |
André Rebouças também ficou conhecido pela luta contra a escravidão, fundando a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e a Sociedade Abolicionista.
Era amigo e homem de confinação do Imperado Dom Pedro II, tendo ocupado diversos cargos na administração pública. Em 1889, com o golpe da república decidiu embarcar voluntariamente para o exílio e acompanhar a Família Imperial, permanecendo junto ao Imperado até o falecimento deste, em 1891.
Posteriormente, o engenheiro passou por países da África, onde lutou pelo desenvolvimento local. Faleceu na Ilha da Madeira, debilitado pelo fim injusto que julgava ter tido a Monarquia e a Família Imperial do Brasil.
Fonte:
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=333
André Rebouças: um engenheiro do Império. Alexandro Dantas Trindade. Editora Hucitec. 2011.
3
Que se não fosse Imperador, Dom Pedro II escolheria ter sido professor?
O Imperador Dom Pedro II e seu livro, durante viagem aso EUA. Imagem pública |
“Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”. Foi com esta frase que o Imperador sintetizou a valorização que ele pessoalmente e o seu governo monárquico davam aos professores. Numa época em que a educação formal era pouco valorizada, Dom Pedro II a popularizou, fundando colégios públicos, como o Colégio Pedro II, e institutos educacionais, inclusive voltados para crianças com deficiências, como o Instituto dos Surdos-Mudos, hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos, fundado na segunda metade do século XIX. Dom Pedro II não se limitava ao planejamento estratégico da educação no Brasil, mas por onde passava frequentava escolas, participava de aulas e assistia exames e formaturas, criando um ambiente que propiciava a valorização do professor e o incentivo do aluno.
Fonte:
História de D. Pedro II. 1–5. Pedro Calmon. Editora José Olympio. 1975. Dom Pedro II: ser ou não ser. José Murilo de Carvalho. Editora Companhia das Letras. 2007.
Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891. Roderick J. Barman. Editora Stanford University Press. 1999.
4
Que o Cristo Redentor foi erguido graças a Princesa Dona Isabel?
Assim que assinou a lei que libertava os escravos, a Princesa Isabel foi cognominada por José do Patrocínio e outros como a Redentora. Foram muitas as iniciativas populares para homenagear a Princesa Imperial, uma delas sugeriu a criação de uma grande estátua em sua honra, no topo do morro do Corcovado. Ela recusou imediatamente. Com ânimo, incentivou a edificação de uma estátua em homenagem a Jesus Cristo. Infelizmente, como golpe republicano de 15 de novembro de 1889, a Princesa não pode ver seu intento alcançado. Depois de anos de paralisia, sob os auspícios do Cardeal Arcoverde, em 4 de Abril de 1922, a pedra fundamental do Cristo Redentor foi lançada pela nora de Dona Isabel, a Princesa Dona Maria Pia, vó do atual Chefe da Casa Imperial do Brasil, o Príncipe Dom Luiz.
A estátua do Cristo Redentor em construção. Acervo da Biblioteca Nacional |
Fonte:
Princess Isabel of Brazil: Gender and Power in the Nineteenth Century, Roderick Barman, da Wilmington: Scholarly Resources, 2002.
Le temps de ma Mère. Condessa René de Nicolaÿ. França.
5
Que muito antes do PROUNI ou CNPQ, Dom Pedro II custeava, com dinheiro do próprio bolso, os estudos superiores de muita gente?
Dom Pedro II, querendo transformar o Brasil – recém independente – em um país de ilustres homens e de grandes feitos, acreditou na educação como uma das bases para o construção de um grande Estado. Para tanto, além das iniciativas convencionais da fundação de escolas, institutos e faculdades, o Imperador decidiu investir dinheiro do seu próprio bolso, na formação de brasileiros no Brasil e no exterior. Os pintores Pedro Américo e Rodolfo Bernadelli, além do compositor Carlos Gomes, e até mesmo Benjamim Constant, aquele mesmo que conspirou a favor do golpe republicano, são exemplos dos que foram beneficiados com a bondade de Dom Pedro II. Autores como José Murilo de Carvalho, estimam que no total o Imperador distribuiu 151 bolsas de estudo, sendo 41 destas para o exterior.
Fonte:
Dom Pedro II: ser ou não ser. José Murilo de Carvalho. Editora Companhia das Letras. 2007.
História de Dom Pedro II (1825–1891): Declínio (1880–1891). Heitor Lyra. Editora Itatiaia. 1977.
6
Que a Família Imperial era abolicionista?
Dom Pedro I dizia: “Os escravos nos inoculam todos os seus vícios, e nos fazem corações cruéis, inconstitucionais e amigos do despotismo. Todo senhor de escravo desde pequeno começa a olhar o seu semelhante com desprezo, acostuma-se a proceder a seu alvedrio, sem lei nem roca, às duas por três julga-se, por seu dinheiro e pelo hábito contraído, superior a todos os mais homens, espezinha-os quando empregado público, e quando súdito em qualquer repartição não tolera nem sequer a menor admoestação, que logo o seu coração, pelo hábito de vingar-se e de satisfazer-se as suas paixões, lhe esteja dizendo: ‘Se tu foras meu escravo’”… o primeiro Imperador do Brasil tentou adicionar dispositivos legais na Constituição de 1824, que proibissem a escravidão no Brasil. No entanto, não teve apoio político ou força necessária para tanto, sendo vencido pelo interesse da maioria de então, o que também aconteceu com seu filho, durante o segundo reinando.
Na década de 1850, o Imperador Dom Pedro II ameaçou abdicar do trono, causando uma crise nacional, caso o tráfico negreiro no Atlântico não fosse declarado ilegal pela Assembleia Geral, o Congresso Federal da época. Alguns poderiam conjecturar que o Imperador apenas atendia os interesses ingleses de então, no entanto esbarram no fato de que sob o serviço direto do Imperador, nunca trabalharam escravos. Prova disso era Rafael, negro que compartilhou a infância, juventude e vida adulta com Imperador, sendo seu homem de confiança, a quem Dom Pedro II protegeu durante a velhice.
No século XIX, quase 30 países mantinham a estrutura servil da escravidão. No Brasil, até 1870 poucos eram contrários e um número ainda menor tinha coragem de se manifestar publicamente contra. Dom Pedro II foi um dos que não se conformavam com isso e declarava publicamente que o trabalho escravo era “vergonha nacional”. Opositores do Imperador frequentemente diziam que “a abolição era seu desejo pessoal e não o desejo da nação”. De fato, Dom Pedro II como monarca de um Império parlamentarista e constitucional, não tinha poder para decretar leis sem a aprovação da maioria do parlamento. No entanto, a obstinação pelo fim desta vergonha marcou a vida pública do Imperador, prova disso foi o fomento que garantiu aos ideais e aos projetos de leis neste sentido, como as leis "Euzébio de Queiroz", de 1850, e "Nabuco de Araújo", de 1854. Em 1866, o Imperador encarregou o Ministro Pimenta Bueno, de elaborar um plano a ser enviado ao parlamento para a extinção da escravidão. Este projeto encontrou grande oposição, mas serviu de base para as leis posteriores. Em 1867, durante seu discurso na abertura dos trabalhos legislativos, disse aos parlamentares disse que “o elemento servil no Império não pode deixar de merecer oportunamente a vossa consideração, provendo-se de modo que, respeitada a propriedade atual, e sem abalo profundo em nossa primeira indústria, a agricultura, sejam atendidos os altos interesses que se ligam à emancipação”. Na verdade, a mão de obra escrava era utilizada por toda a sociedade brasileira. Não apenas ricos tinham escravos, mas também os pobres e inclusive alguns negros alforriados, que quando conseguiam sua independência financeira, não hesitavam em usar daquele meio. Sabendo disso, não contente com a morosidade parlamentar, mais uma vez se manifestou publicamente, em advertência ao parlamento, em 1883: "Fazendo justiça a vossos sentimentos, espero que não vos esqueçais da gradual extinção do elemento servil, adotando medidas que determinem sua localização, assim como outras que auxiliem a iniciativa individual de acordo com o pensamento da lei de 28 de setembro de 1871".
O trabalho de Dom Pedro II foi incansável, tanto que Joaquin Nabuco reconheceu que “o resultado da ação perseverante e paciente do Imperador, vencendo resistências sociais e políticas e sabendo encontrar, no momento oportuno, o homem para realizar a ideia pela qual sacrificaria o Trono".
Detalhe da capa da Revista Semana Illustrada, em que uma família negra cultua a Princesa Isabel. Imagem pública |
A filha do Imperador, a Princesa Dona Isabel, que era herdeira do Trono e por isso atenta as mazelas nacionais, não pode ficar infensa aos esforços do pai. Ela também muito religiosa, via a escravidão com verdadeira abominação. São famosos os contos de que em recepções oficiais em que negros eram deixados de lado para dança, a Princesa tomava a iniciativa de convidar o preterido para dançar a primeira música, como aconteceu em Caxambu, Minas Gerais, ou no ultimo baile do Império, com Andre Rebouças. Talvez menos conhecidos seja os contatos que a Princesa Isabel tinha com abolicionistas, como Joaquim Nabuco, por exemplo, ou o apoio que dava ao Quilombo do Leblon. Se a alguns homens de então faltava coragem para se manifestar a favor da abolição, a Dona Isabel sobrava. Ela ficou celebre por enfeitar sua casa com a flor símbolo do movimento abolicionista: a camélia. A flor da liberdade, como ficou conhecida naquela época, era cultivada por negros e enviadas a Princesa. Um agradecimento que ela utilizava como forma de garantir apoio àqueles irmãos injustiçados. Seus filhos, os Príncipes Dom Pedro, Dom Luís e Dom Antônio, editavam um jornalzinho abolicionista em Petrópolis, que circulava entre a família e a população local. Um panfleto inocente, mas carregado de simbolismo.
Em 1888, depois de considerar insustentável a situação dos negros no Brasil, a Princesa Imperial, então regente em nome de seu pai, o Imperador, parece ter ignorado as forças contrárias e num ato heroico, aboliu a escravidão no país. Pouco mais de um ano depois, perdeu o Trono e foi exiliada do Brasil. "Se mil outros tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para por fim à escravidão!", disse a Princesa a uma famoso escravocrata da época.
A República, implantada através de golpe, em 15 de novembro daquele ano, fortemente amparada pelos escravocratas, ignorou a presença de negros recém libertos no Brasil, nada mencionado em seus primeiros documentos.
Fonte:
Livro Falas do Trono: Legislaturas e sessões da assembléia Geral do Império do Brasil.
D. Pedro I, Isabel Lustosa. Editora Companhia das Letras. 2006.
Dom Pedro II: ser ou não ser. José Murilo de Carvalho. Editora Companhia das Letras. 2007.
História de Dom Pedro II (1825–1891): Declínio (1880–1891). Heitor Lyra. Editora Itatiaia. 1977.
As Camélias do Leblon e Abolição da Escravatura - Uma investigação de história cultural. Eduardo Silva. Editora Companhia das Letras. 2003.
Princess Isabel of Brazil: Gender and Power in the Nineteenth Century, Roderick Barman, da Wilmington: Scholarly Resources, 2002.
Os Escravos Sobterrados. Maria Helena Guedes. 2015.
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