80 anos do falecimento do Príncipe Dom Pedro Augusto de Saxe-Coburgo e Bragança
Por Dionatan da Silveira Cunha
Há 80 anos, em 19 de setembro de 1934, o
saudoso Conde de Afonso Celso, em nota necrológica da Sessão Ordinária do IHGB,
dizia: “entre os nossos consócios falecidos figurava um príncipe. Foi Dom Pedro
Augusto de Saxe Coburgo, neto do nosso grande imperador Pedro II e filho da
gentil Princesa D. Leopoldina”. Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior tinha
total conhecimento deste ilustre confrade, que tanto no Rio, quanto no exílio
pôde acompanhar.
Este Príncipe, que no final da vida
experimentou o esquecimento da Nação, foi recebido, ao nascer, com repiques de
sinos, salvas de canhões e girandolas de foguetes. Carregando o peso de ser o
neto primogênito do Imperador Dom Pedro II e de simbolizar a bonança, depois da
terrível Guerra do Paraguai - verdadeiro terremoto no sul dos trópicos, Dom
Pedro Augusto teve, portanto, as mais gloriosas honras do Império, mas também
as mais desventurosos penas do desterro.
Dom Pedro Augusto Luís Maria Miguel Gabriel
Rafael Gonzaga de Saxe-Coburgo e Bragança nasceu em 19 de março de 1866, sob os
auspícios do médico Cândido Borges Monteiro – primeiro e único Visconde com
grandeza de Itaúna, e com o árduo trabalho da parteira Marie Josephine Mathilde
Durocher, renomada profissional e famosa ensaísta – mais tarde primeira mulher
a ser recebida na Academia Imperial de Medicina. Naquela segunda-feira, o
Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Dona Teresa Cristina, emocionados,
acompanhavam todos os progressos no Palácio Leopoldina. Nascido, o pequeno
Príncipe passou a receber toda a atenção dos avôs maternos, sendo festejado
tanto pela Corte, quanto pelo povo. Dom Pedro Augusto foi batizado na Capela
Imperial, atual Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, e teve como
padrinhos o avô - Imperador do Brasil e a bisavó – a Rainha Maria Amélia da
França. O nascimento mereceu destaque na Fala do Trono, em cerimônia que
marcava a abertura dos trabalhos da Assembleia Geral do Império, de 3 de maio
de 1866, onde o Imperador Dom Pedro II declarava: "Cheio de prazer vos anúncio
o nascimento do Príncipe Dom Pedro, fruto do feliz consórcio de minha muito
cara filha a Princesa Dona Leopoldina com o meu muito prezado genro o Duque de
Saxe”.
O Duques de Saxe com o primogênito
Fruto do casamento de uma princesa brasileira
– nascida nos trópicos, e de um Príncipe alemão - nascido na França, Dom Pedro
Augusto era membro de duas das mais importantes Famílias Soberanas do mundo, os
Bragança e os Saxe-Coburgo-Gotha. Por sua mãe, a Princesa Dona Leopoldina
Teresa Francisca Carolina Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e
Bourbon, herdou as tradições das Casas de Borgonha e Avis que construíram
Portugal, fazendo daquele pequeno país uma grande potência mundial, também da
Dinastia Bragantina reconhecida por ter dados Reis e Santos àquelas terras e
por ter cimentado a Independência do Brasil, dando também a este país, os seus
dois melhores governantes. Dona Leopoldina descendia também dos Bourbon,
Família Soberana da França, Espanha e de parte da Itália. Por seu pai, o Príncipe Luís Augusto Maria
Eudes de Saxe-Coburgo-Gotha – Duque de Saxe, que fora indicado em 1863 para ser
eleito Rei da Grécia, Dom Pedro Augusto era um dos legatários dos Ducados
Ernestinos, originados na antiga Casa de Wettin, que dominaram Sachsen-Coburg
und Gotha, no centro da atual Alemanha, de 1826 a 1920. Esta Casa emprestou a
várias partes da Europa alguns de seus melhores varões, onde seus membros
subiram ao trono da Grã-Bretanha, Polônia, Bélgica e Bulgária. Dom Pedro
Augusto nascia aparentado com a realeza de todo o mundo: era neto dos
Imperadores do Brasil, bisneto do Rei Luiz Filipe dos Franceses, primo do Duque
Soberano Ernesto II de Saxe-Coburgo-Gotha, do Rei Francisco II das Duas
Sícilias, do Rei Leopoldo II dos Belgas, do Rei Dom Fernando II de Portugal e
do Príncipe Alberto – Consorte da Rainha Vitória do Reino Unido da
Grã-Bretanha. Dom Pedro Augusto era ainda sobrinho do Palatino da Hungria, o
Arquiduque José Antonio da Áustria-Toscana, do Czar Fernando I da Bulgária, e,
principalmente, da Herdeira do Trono brasileiro, a Princesa Dona Isabel.
Dom Augusto Leopoldo |
Depois do batizado do filho, o Duque de Saxe,
acompanhado da família, rumou para a Europa. A primeira viagem internacional do
pequeno Príncipe Pedro Augusto e da Princesa Dona Leopoldina serviu também como
oportunidade para conhecer os familiares do além-mar, inclusive a Imperatriz
Viúva Dona Amélia, que morava em Portugal e tinha como uma querida avó. A
família só voltou ao Brasil em 1867, quando a Princesa estava gravida do seu
segundo filho. Em 6 de dezembro daquele ano, nascia, em Petrópolis, Dom Augusto
Leopoldo, o Príncipe Marinheiro.
Dom José |
Depois da Guerra, a vida no Brasil se
desenrolava de maneira tranquila. Com os cunhados e os sogros, além dos amigos
que recebiam as terças-feiras no Palácio Leopoldina, os Duques de Saxe passavam
os dias entre as cerimônias oficiais de Estado e os eventos da vida pessoal. Em
21 de maio de 1869, Dom Pedro Augusto ganhava mais um irmão – nascia, na Cidade
Imperial, o Príncipe Dom José.
Em agosto de 1869, o Duque de Saxe e a
Princesa Dona Leopoldina desejaram retornar a Europa. A volta marcou a
despedida da Princesa das terras brasileiras. Foi uma grande temporada, entre
Paris, Viena, Graz, Ebenthal e tantas outras cidades onde o casal e os filhos
eram muito bem recebidos. Apesar das dificuldades politicas da Europa de então,
vivia-se feliz com as distrações domésticas e sociais. As crianças prendiam a
atenção da família, crescendo, desenvolvendo-se e aprendendo. Dia-a-dia
manifestavam progressos que eram compartilhados com os tios e os avôs no
Brasil. O pequeno Dom Pedro Augusto recebia também os cuidados do preceptor
Gustave Braun, que se encarregou das primeiras noções comportamentais do
pequeno Príncipe.
O Príncipe Luís e a Princesa Matilde |
Em 1870, nascia no bucólico Castelo de
Ebenthal, na Caríntia, o quarto filho dos Duques de Saxe, o Príncipe Luís. Uma
criança esperada, bela e saudável, que foi batizada pelo Conde d’Eu e pela
Princesa Dona Isabel do Brasil, que mais tarde viria a se casar com a Princesa
Matilde da Baviera, filha do Rei Luís III e tia da Princesa Dona Maria
(1914-2012), de jure Imperatriz do Brasil.
Apesar de toda a comodidade e fausto, a
precariedade do sistema sanitário abalava os grandes centros de todo o mundo.
Viena, onde os Duques de Saxe residiam parte do tempo em que estavam na Europa,
era uma metrópole cultural muito famosa, berço de Schubert e dos Strauss, era
também reconhecida pelas artes dos mestres da Academia, além da bela
arquitetura, como demonstra a Catedral de Santo Estevão e o Palácio de
Schönbrunn. A Cidade dos Músicos, como sempre foi conhecida a capital austríaca,
atraia gente de todas as partes do mundo e, com este fluxo, também emergiam as
doenças. Com estas mazelas, as populações eram dizimadas por febres, infecções
e outros vírus, que sem tratamento adequado e os parcos recursos da época,
tornavam-se letais. Bom exemplo foi a febre tifoide, uma moléstia
infectocontagiosa, extremamente perigosa, que debilitava as vítimas em pouco
tempo. Não foi diferente quando a Princesa Dona Leopoldina contraiu a doença. O
mesmo mal que acabou por levar o compositor austríaco Franz Peter Schubert, em
1828, e depois o tio do marido de Dona Leopoldina, o Príncipe Alberto –
Consorte da Rainha Vitória da Grã-Bretanha, em 1861, acabou por levar a
Princesa.
Aos 24 anos de idade, casada há 6 e com
quatro filhos na tenra idade, depois de muito sofrer as agonias da doença,
faleceu no Palácio de Coburgo, em 7 de fevereiro de 1871. A Família Ducal de
Saxe se encerrou num grande luto, assim como a Corte de Viena e os Imperadores,
que decretaram luto de 17 dias. O Núncio Apostólico em Viena, que viria a ser
mais tarde Cardeal da Santa Igreja, Monsenhor Mariano Falcinelli Antoniacci,
foi o encarregado dos ofícios fúnebres da Princesa, que muito bem conhecia por
ter estado no Brasil como Inter Núncio entre os anos de 1858 e 1863. Às
cerimônias comparecerem membros de diversas Casas Reais e, sobretudo, a irmã e
o cunhado da falecida, a Princesa Dona Isabel e o Conde d’Eu, que haviam
viajado à Europa e chegaram a tempo de presenciar os últimos momentos de Dona
Leopoldina. Foi enterrada na Cripta da Igreja de Santo Agostinho, em Coburgo.
Túmulo de Dona Leopoldina
É fácil imaginar o quão conturbado foi este
período na vida da Família Imperial. O Duque de Saxe padeceu de grande tristeza
e nunca mais casou. Na época, o pequeno Dom Pedro Augusto contava com 4 anos,
Dom Augusto Leopoldo com 3, Dom José com 1 e Dom Luís com apenas 6 meses de
idade. A tristeza abateu os amigos e a família. Dom Pedro Augusto nunca
conseguiu refazer-se de tão grande consternação. A partir de então, as perdas
passaram a ser uma constante na vida deste Príncipe, que com resiliência e fé
continuou a viver.
Os Imperadores do Brasil, também muito
abalados com a morte da filha, viajaram também para Coburgo para visitar seu
túmulo, onde foram recebidos pelo Príncipe Alfredo – Duque de Edimburgo e
futuro Duque Soberano de Saxe, pelo genro viúvo – o Príncipe Luís Augusto,
pelos netos - Dom Pedro Augusto e Dom Augusto Leopoldo, e pela Duquesa
Alexandrina de Baden, casada com Ernesto II, então Duque Soberano de Saxe. O
consenso familiar resolveu por levar a cabo as disposições da convenção
matrimonial, que citava nos artigos 3º e 4º as obrigações do Duque de Saxe
enquanto a sucessão da Princesa Dona Isabel não estivesse bem firmada. Decidiu-se,
portanto, que o primogênito e o secundogênito viessem a morar com os avôs no
Brasil.
De fato, a Princesa Dona Isabel não havia
conseguido engravidar e a situação colocava o Príncipe Dom Pedro Augusto como
seu possível sucessor. Mas, depois dar a luz, em 1874, a uma menina natimorta,
a Princesa Dona Isabel trouxe ao mundo o Príncipe Dom Pedro de Alcântara em
1875, tendo em seguida os Príncipes Dom Luís, em 1878, e Dom Antonio em 1881.
Em 30 de março de 1873, o Imperador Dom Pedro
II e a Imperatriz Dona Teresa Cristina, acompanhados dos netos Dom Pedro
Augusto e Dom Augusto Leopoldo, além do genro – o Duque de Saxe, desembarcaram
no Rio de Janeiro. Era o início de uma nova vida para os pequenos órfãos.
O pequeno Dom Pedro Augusto
Muito inteligente, Dom Pedro Augusto, já aos
9 anos, pôde aproveitar, sem nenhum privilégio, dos benefícios implantados por
seu avô, o Imperador do Brasil. Foi matriculado no Colégio Pedro II, grande
referencial da educação no Brasil e de lá saiu, em 1881, bacharel em Ciências e
Letras. Seguiu seus estudos na Escola Polytechnica do Rio de Janeiro, fundada
em 1792, como a primeira instituição de ensino superior do país e que serviu de
celeiro de professores para as demais faculdades que surgiriam. Foi lá que Dom
Pedro Augusto se graduou como Engenheiro Civil em 1º de abril 1887. Enquanto o
irmão – Dom Augusto Leopoldo, aproximava-se da Marinha de Guerra, para fazer
carreira como o avô – o Príncipe Luís, e o próprio pai, Dom Pedro Augusto
preferiu seguir o outro avô – Dom Pedro II. O Imperador, dedicado a educação
dos netos, transferiu a eles o gosto pelos estudos, pelas ciências e pelas
artes. Dom Pedro Augusto em quase tudo parecia com este avô Imperador. Eram
sempre vistos juntos, compartilhando livros, histórias e impressões.
Depois de formar-se Engenheiro, Dom Pedro
Augusto passou a residir no palacete de seus pais, na Rua Duque de Saxe (atual
Rua General Canabarro), em companhia do irmão Dom Augusto Leopoldo. Este, por
sua entrada na Escola Naval e o serviço como Oficial da Armada Imperial, pouco
permaneceu na residência. O Palacete Leopoldina, como passou a ser conhecida a
antiga casa de José Bessa, foi adquirido pelos Duques de Saxe, logo depois do
casamento. Era uma agradável vivenda que contava com um grande terreno,
acrescido de um lago e um belo jardim. A casa principal era um imenso pavilhão
e contava com muitos cômodos. O terreno contava ainda com duas casas
sobressalentes que foram ocupadas pelo pessoal de serviço dos Príncipes. Assim
que foi adquirida, os Duques de Saxe empreenderam uma considerável reforma no
casarão. Tapeçarias, louças, baixelas e objetos de arte vieram da Europa, tendo
pagado, os ilustres moradores, tanto pelo translado comercial, quanto pelas
altas tarifas alfandegárias. Os belos móveis foram executados, principalmente,
por mestres brasileiros. Quando Dom
Pedro Augusto foi morar no Palácio, teve que empreender muitas melhorias, pois,
apesar do devotamento do abegão Guilherme Wagner, o prédio não era habitado há
mais de 15 anos. O Príncipe adquiriu obras de renomados pintores brasileiros,
incorporou aos jardins várias espécies da flora nacional e revitalizou a antiga
propriedade.
A Família Imperial reunida
Numismata, filatelista e mineralogista, Dom
Pedro Augusto reuniu no Palácio grandes coleções que eram admiradas pelos
estudiosos, chegando a publicar trabalhos de pesquisa e ensaios profissionais,
tidos hoje como livros raros. Patriótico e atento às questões nacionais, fez de
sua casa um centro cultural informal, onde se discutia a literatura, as artes,
as ciências, a economia e, claro, a política, reunindo gente da cepa de Alfredo
d'Escragnolle Taunay - Visconde de
Taunay, Joaquim José de França Júnior, José Antunes Rodrigues de Oliveira
Catramby, José Joaquim de Maia Monteiro - Barão de Estrela, e muitos outros.
Com as reformas na casa, Dom Pedro Augusto, assim como os tios – a Princesa
Dona Isabel e o Conde d’Eu, recebia a todos, e tanto a população, quanto as
grandes personalidades da época foram acolhidos no palacete.
Aos 23 anos, Dom Pedro Augusto foi recebido
como sócio no prestigiado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e, como
muito bem notou o Conde de Afonso Celso, “tinha já real merecimento”. O
Instituto era motivo de grandes alegrias ao Imperador, que o colocou sob sua
“imediata proteção”, participando ativamente das sessões e colóquios ali
realizados. Também como o avô, o Imperador Dom Pedro II, Dom Pedro Augusto
fazia parte dos quadros do prestigioso Institut de France. Muito distinto, o
Príncipe possuía também a Grã-Cruz das Imperiais Ordens do Cruzeiro, de Pedro Primeiro,
da Rosa, sendo também agraciado, no mesmo grau, com dignidades estrangeiras,
como a Ordem da Torre e Espada de Portugal, de Leopoldo da Bélgica, Ernestina
da Saxônia - da Casa Ducal de Saxe, da legião de Honra da França e a de Santo
Alexandre da Bulgária.
Grande incentivador da cultura brasileira,
Dom Pedro Augusto defendeu a criação de um Museu de Arte Retrospectiva, para
abrigar objetos e documentos da História do Brasil. Sob sua presidência,
instalou-se a Sociedade Comemorativa da Independência, que preconizava em seu
estatuto, além da criação do museu, a instituição de medalhas comemorativas ao
7 de Setembro, como forma de premiação aos melhores trabalhos científicos sobre
temas de interesse nacional.
Em 1887, Dom Pedro Augusto acompanha Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina
Entre 1887 e 1888, durante a terceira viagem
do Imperador a Europa, o Príncipe Dom Pedro Augusto foi destacado para
participar da comitiva de Dom Pedro II. Era uma viagem para recuperação do
Monarca, que padecia de doenças severas que quase o levaram a morte. A comitiva
passou por vários países, alcançando principalmente a França, a Itália e a
Áustria. Dom Pedro Augusto, que pode rever o pai, os avôs Saxe, os tios e os
primos no Velho Continente - com os quais trocava intensa correspondência – lá,
dividia-se entre as visitas aos parentes e a assistência ao avô acamado. As
anotações da época dão conta que comentava com a avó paterna, a Princesa
Clementina, sobre a situação do Brasil e da Europa, mas principalmente sobre o
Imperador. Com sua outra avó, a Imperatriz do Brasil, e com o Conde de Motta Maia,
médico pessoal de Dom Pedro II, discutia alternativas para a cura do ilustre
doente. Mas, depois de grandes eventos no Brasil, incluindo-se a Abolição da
Escravatura, o Imperador Dom Pedro II, pela considerável melhora, resolveu
retornar ao Brasil com sua comitiva. O escritor Heitor Lyra, na página 64 da
obra “História de Dom Pedro II (1825–1891): Declínio (1880–1891)”, de 1977,
refere que o "país inteiro o recebeu com um entusiasmo jamais visto. Da
capital, das províncias, de todos os lugares, chegaram provas de afeição e
veneração”. Era muita alegria na Corte naquele dia 22 de agosto de 1888, pois
depois da grande apreensão com relação à saúde do Soberano, enfim ele retornava
com vigor à sua pátria.
Mas, a despeito de toda a alegria, chegava ao
Rio, pouco depois do Imperador e de sua comitiva, o comunicado da morte do
Príncipe José, ocorrida em 13 de agosto, na Áustria. Triste notícia que mais
uma vez abalava a todos, sobremaneira seu irmão, o Príncipe Dom Pedro Augusto.
Aos 19 anos desaparecia o jovem Príncipe José, que após contrair uma grave
pneumonia, adquirida na Escola Militar de Wiener-Neustadt, acabou por não
resistir. Era mais um duro golpe ao Príncipe Dom Augusto Leopoldo, sempre
marcado pelas tragédias. Infortúnios que para ele significavam muito, pois
tinha, conforme atestam as cartas e diários, um apurado senso de família, amor
fraternal e, sobretudo, a carência - da falta de sua mãe, da distância do pai.
Foram meses de luto, com poucos eventos sociais e quase nenhuma alegria,
finalizados para que pudesse transcorrer, mais a frente e com relativa
lentidão, a amargura do exílio, vinda com golpe republicano.
Mesmo abalado, o Príncipe Dom Pedro Augusto
quis oferecer um memorável jantar aos Oficiais do couraçado “Almirante
Cochrane”, do Chile, em 5 de novembro de 1889. O evento, onde compareceram as
maiores autoridades civis, militares e religiosas da capital do Império, tinha
o fim exclusivo de agradecer aos chilenos a calorosa recepção que o presidente
daquele país proporcionou a Dom Augusto Leopoldo, quando este esteve a serviço
em Santiago, navegando no “Almirante Barroso”. Este jantar ocorreu apenas dez
dias antes da proclamação da república.
Em 1889, na casa da Princesa Isabel, em Petrópolis, a Família Imperial se reúne para a última fotografia antes da queda do Império
Em 15 de novembro de 1889, a pequena
revolução alavancada pelos positivistas e endossada por um pequeno grupo de
militares, acabou com a monarquia no Brasil. Factualmente, os idealistas do
positivismo objetivavam a queda da monarquia e, como massa de manobra,
utilizaram os militares, que por desentendimentos com o novo Presidente do
Conselho de Ministros, pretendiam derrubar apenas o Ministério e não o Império.
Uma fatalidade. Essa situação também foi fatal para o Príncipe Dom Pedro
Augusto. Era desde pequeno mencionado por pasquins e pelo povo como o neto
predileto do Imperador e onde quer que fosse, sua inteligência e porte elegante
atraiam a atenção. Era querido por todos. Reunia todas as características de um
príncipe de sangue. Por todos os seus dotes, a impressa – já à época
sensacionalista e impiedosa, costumava apontá-lo como futuro Imperador, o que
de fato, não poderia ocorrer, tendo em vista que a sucessão da Princesa Dona
Isabel estava assegurada. Com estas mesmas ideias, foi também insuflado por
falsos amigos... Dom Pedro Augusto, pelas perdas tão frequentes e
significativas, já na viagem que levaria a Família Imperial para o exílio,
acabou por dar sinais de enfraquecimento mental, o que só fez piorar com o
falecimento de quase todos os seus entes queridos: a avó – a Imperatriz Dona
Teresa Cristina, falecida em 1889; o avô – Dom Pedro II, em 1891; a outra avó –
a Princesa Clementina e, sem seguida, o pai, em 1907; o querido irmão – Dom
Augusto Leopoldo, em 1922, e os primos Dom Antonio e Dom Luís de Orleans e
Bragança e os tios – o Conde d’Eu e a Princesa Dona Isabel, também falecidos
nesta mesma época.
Ainda naquele fatídico ano, com as resoluções
internas da Casa Imperial do Brasil, na condição de Família não reinante, Dom
Pedro Augusto passou a ser o Chefe do Ramo Dinástico de Saxe-Coburgo e
Bragança.
No exílio, em 1890, Dom Pedro Augusto de Saxe-Coburgo e Bragança
Vivendo principalmente no Palácio de Coburgo,
não reagindo a tratamentos ministrados pelos melhores médicos e cientistas de
então, incluindo-se aí o famoso Dr. Sigmund Freud, o Príncipe teve de ser
internado numa casa de saúde em Tülln an der Donau, permanecendo lá até o fim
de sua vida. Com a queda da monarquia no Brasil e a extinção dos Ducados
Ernestinos, sem nenhuma pensão, Dom Pedro Augusto, assim com todos os exilados,
passou por dificuldades financeiras e seus procuradores viram-se obrigados a
executar, em 25 de abril de 1900, um grande leilão de sua biblioteca.
Verdadeiro tesouro estava a venda em Viena, chegando a ser anunciado em jornais
da Europa, como sendo o leilão da biblioteca pessoal do Imperador do Brasil.
Em 7 de julho de 1934, Dom Pedro Augusto pode
enfim descansar, partindo para a vida eterna. Seu corpo foi depositado, junto
as sepulturas de seus pais e irmãos na Cripta da Igreja de Santo Agostinho, em
Coburgo. Na lápide de seu túmulo, pode-se ler a inscrição latina PETRUS AB
ALCANTARA AUGUSTUS LUDOVICUS MARIA MICHAEL GABRIEL RAPHAEL GONZAGA SAXONIAE
COBURGU ET GOTHAE PRINCEPS; SAXONIA DUX NAT, IN CIVITATE FLUMINENSI DIE XIX
MARTII MDCCCLXVI JUVENIS PRAECLARIS PRAEDITUS DOTIBUS PRAESERTIM ACUMINE
INGENII, PETRI BRASILIAE IMPERATORI NETOS PRAEDILECTUS. IN LAMENTABILI IMPERII
OCCASU GRAVI CORREPTUS INFIRMITATE. OBIT PIE IN DOMINO VINDOBONAE DIE VI JULII
A.D. MCMXXXIV R.I.P. Com sua morte, sucedendo-o na Chefia deste Ramo Dinástico,
o Príncipe Dom Augusto Leopoldo e posteriormente sua filha, a Princesa Dona
Teresa Cristina e, atualmente, o filho desta, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo
e Bragança.
Túmulo de Dom Pedro Augusto em Coburgo
Deixando uma brilhante história a ser
lembrada, a biografia de Dom Pedro Augusto de Saxe-Coburgo e Bragança ainda não
foi apresentada por completo. Algumas inserções sérias e isentas sobre a vida e
obra do Príncipe foram feitas por Clado Ribeiro de Lessa e Carlos Wehrs nas
Revistas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, mas é seu
sobrinho-neto, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança, legitimo
representante das tradições deste ramo da Família Imperial, que conta através
de suas palestras, ensaios e livros, algumas interessantes notas sobre seu
tio-avô. Dom Pedro Augusto, por seu patriotismo e abnegação, bem merece uma
biografia fora da ficção e do romance, que atente para a realidade dos fatos.
Maior justiça ainda seria feita com a transladação de seus restos mortais,
assim como o de seus pais e irmãos, para o Brasil, a serem depositados em um
mausoléu ou panteão à altura daqueles que tanto fizeram por sua pátria e jamais
poderão ser relegados ao esquecimento.
__________________
Referências bibliográficas:
Lessa, Clado Ribeiro de. O Segundo Ramo da Casa Imperial e a nossa Marinha de Guerra, in Revista do Instituto Histórico e
Geografico Brasileiro, vol. 211, 1951.
Bragança, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e.
A Princesa Leopoldina, in Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, vol. 243, 1959.
Bragança, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e.
As Visitas de Dom Pedro II a Coburgo,
in Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, vol. 272, 1966.
Bragança, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e.
Príncipe Dom Pedro Augusto de
Saxe-Coburgo e Bragança e o "Leilão em Viena", in Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, vol. 422, 2004.
Bragança, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e.
Palácio Leopoldina, in Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, vol. 438, 2008.
Figueiredo Junior, Afonso Celso de Assis. Palavras do Conde de Affonso Celso sobre o
falecimento do sócio honorário Dom Pedro Augusto de Saxe-Coburgo, in Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, vol. 169, 1934.
Patrimônio
do Príncipe Dom Pedro Augusto de Saxe-Coburgo e Bragança, Typografia do
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1891.
Bragança, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e.
A Intriga: Retrospecto de Intricados
Acontecimentos Históricos e Suas Consequências no Brasil Imperial. Editora
Senac. São Paulo, 2012.
Bragança, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e.
Dom Pedro II na Alemanha: uma amizade
tradicional. Editora Senac. São Paulo, 2014.
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