"Homenagem a S.A.I.R., a Princesa D. Maria Elizabeth de Orleans e Bragança: 100 anos do nascimento, 66 anos de devotamento ao Brasil"
Conferência realizada por Dionatan da
Silveira Cunha, editor do Blog Monarquia Já, durante o XXIV Encontro
Monárquico, no Rio de Janeiro. Com imagens do arquivo do Blog Monarquia Já
Nascida Maria Isabel Francisca Teresa Josefa,
Princesa Real da Baviera, no Castelo de Nymphenburg, em Munique, a 9 de
setembro de 1914, S.A.I.R., a Princesa Senhora Dona Maria era a segunda filha
do Príncipe Francisco (Franz) da Baviera e da Princesa Isabelle, Princesa de
Croy. S.A.I.R. era neta do último monarca da Baviera, o Rei Luís III
(1845-1921), (foi regente do reino a partir de 1912, devido à incapacidade do
Rei Oto I, assumindo a coroa com sua morte no ano seguinte, até 1918, quando da
proclamação da república na Alemanha no final de 1918) e de sua esposa, a
Rainha Maria Teresa Henriqueta, nascida Arquiduquesa da Áustria-Este.
Ao nascer, portanto, a Princesa pertencia a
uma prestigiosa família real reinante, referência em toda a Europa pela Cultura,
pelo apoio as artes e refinamento, estando sempre ligados ao Papado, aos
Império dos Habsburgo, à França, à Península Ibérica e a Europa de modo
geral. Efetivamente em 1914, ano de seu
nascimento, o mundo experimentava os infortúnios do início da Primeira Guerra
Mundial, a Família Real da Baviera não ficou imune aos acontecimentos e até
mesmo o Príncipe Francisco envolveu-se na Guerra, sendo general do Exército
bávaro. Em 1918, eclodiu na Alemanha a Revolução Espartaquista, com forte
influência da terrível Revolução Russa de 1917, que acabou por assassinar o
Czar Nicolau II e sua Família. Este movimento era de ideal comunista e
conseguiu primeiramente controlar a região da Baviera. Em 7 de novembro daquele
ano, o Rei Luís III e sua Família, entre eles a pequena Princesa Dona Maria,
foram obrigados a partir de Munique. O Rei foi o primeiro a ser deposto e a
Família passou a sofrer a hostilidade dos revoltosos. A Família Real da
Baviera, contudo, conservou todo o seu prestígio, tendo-se inclusive falado em
certa época na hipótese de uma restauração da monarquia na Baviera, integrando
a República Alemã.
A Rainha Maria Teresa, avó de Dona Maria,
herdou de sua família um riquíssimo patrimônio, que incluía propriedades na
Moravia e Sárvár, na Hungria. Neste último país, num castelo de mesmo nome da
localidade, Dona Maria passou a infância. Seu avô, por ameaças, teve ainda de
se transferir para o Liechtenstein e para a Suíça. Neste contexto a infância da
Princesa Dona Maria foi bastante conturbada e até mesmo traumática. Na década
de 30, a Família retornou à Baviera e parte de seus bens foram devolvidos pelo
governo republicano. Seu avô, o Rei Luís III, faleceu em 1921 (mesmo ano da
morte da nossa Princesa Dona Isabel, a Redentora), deixando como herdeiro o Príncipe
Rupprecht - filho mais velho e tio de Dona Maria. Este se declarou contra o
regime nazista, sendo sua esposa, a Princesa Antonieta, nascida Princesa do
Luxemburgo – irmã da Grã-Duquesa Carlota do Luxemburgo, e seus filhos,
capturados em 1944 e levados para o campo de concentração em Brandemburgo e,
anos mais tarde, a Dachau (DARAU), sendo libertados pelo exército
norte-americano. A Princesa não resistiu e faleceu anos depois. A Família teve
de se exilar na Itália. O nazismo ensejava a Segunda Guerra Mundial.
Em 19 de agosto de 1937, a Princesa Dona
Maria foi desposada na capela do Castelo de Nymphenburg pelo Príncipe Dom Pedro
Henrique Afonso Filipe Maria Gastão Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e
Bragança, Herdeiro dos Imperadores do Brasil, Chefe da Casa Imperial, de jure,
S.M.I., o Imperador Senhor Dom Pedro III do Brasil. A cerimônia foi assistida
por dois Soberanos, a Grã-Duquesa Carlota do Luxemburgo e o Rei Alfonso XIII da
Espanha, além do Chefe da Casa Real das Duas Sicílias (Ferdinando, Duque de
Calábria, tio de Dom Pedro Henrique) e os Príncipes Herdeiros da França, Condes
de Paris (ela Princesa Dona Isabel de Orleans e Bragança, prima irmã de Dom
Pedro Henrique), além de outros da realeza e da nobreza. O tio de Dona Maria, o
Príncipe Rupprecht, também presente, fez questão de mostrar o desprezo da
Família Real, da Baviera aos comandantes nazistas, não os convidando para o
enlace. O casamento de Dona Maria foi notícia também pelo fato do celebrante, o
Cardeal Faulhaber, Arcebispo de Munique, ter aproveitado a ocasião para, no
sermão, criticar firmemente o regime de Hitler.
Pelos trágicos acontecimentos na Europa,
impedidos de vir ao Brasil, e conseqüentemente afetados pelas sanções
impostadas pelos nazistas aos parentes e as mortes derivadas das ações daquele
grupo, o casal fixou-se primeiramente em Mandelieu, na França, onde habitava
Dona Maria Pia, mãe de Dom Pedro Henrique. Ali nasceram o Príncipe Dom Luiz,
atual Chefe da Casa Imperial do Brasil (1938), Dom Eudes (1939) e Dom Bertrand
(1941), atual Príncipe Imperial do Brasil. Pelas precipitações da Segunda
Grande Guerra, Dom Pedro Henrique teve de se refugiar com a esposa e os filhos
em La Bourbole, em Puy-de-Dôme, região central da França, aonde as violências
da guerra provavelmente não chegariam. Lá nasceu Dona Isabel (1944).
O ano de 1945 foi decisivo para a vida de
Dona Maria, visto que precisaria deixar a Europa, onde era cercada por parentes
próximos e queridos, para finalmente fixar residência no Brasil, realizando o
sonho de seu marido. Em maio daquele ano o navio Serpa Pinto deixou Portugal e
rumou para a América do Sul, num roteiro raro naqueles tempos de guerra. Em 17
de maio de 1945 a Família Imperial assistiu a Primeira Comunhão da Princesa
Diana de França, filha da Condessa de Paris, em Pamplona, na Espanha,
embarcando depois Dom Pedro Henrique e Dona Maria (grávida) e seus cinco
filhos, para o Brasil. O embarque não agradou inicialmente a Princesa Dona
Maria Pia, que achava errado Dona Maria fazer esta longa viagem estando
grávida. Pelos acontecimentos da guerra
e a dificuldade de se arranjar meio de transporte para o Brasil, Dona Maria Pia
acabou consentindo e admitindo a necessidade da viagem.
Em Petrópolis, Dona Maria deu a luz, no ano
de 1945, ao Príncipe Dom Pedro de Alcântara. Na chegada ao Brasil ocorreu um
doloroso episódio: o Príncipe Dom Pedro Henrique foi informado pelo primo, Dom
Pedro Gastão, sobre sua condição de ex-sócio da Companhia Imobiliária de
Petrópolis, a empresa constituída para administrar a antiga Fazenda Imperial. O
Príncipe e sua família, com grandes dificuldades, foram acolhidos por amigos
valorosos que prestaram auxílio. Sobre isso, inclusive, a Princesa Dona Maria,
sempre disse que a Providência nunca abandona as famílias numerosas. De fato, Dom Pedro Henrique residiu certo
tempo em Petrópolis, numa casa no bairro do Retiro. Já no Rio de Janeiro, em
1948 nasceu Dom Fernando e, em 1950, Dom Antonio. Residiram por certo tempo
também em casa alugada no bairro de Santa Teresa. Apenas em 1951 conseguiu Dom Pedro Henrique
comprar uma propriedade agrícola, que denominou Fazenda Santa Maria, na cidade
de Jacarezinho, no Estado do Paraná. Lá nasceram Dona Eleonora (1953) e Dom
Francisco (1955). E em Jundiaí do Sul, também no Paraná, nasceram Dom Alberto
(1957) as Princesas gêmeas, Dona Maria Gabriela e Dona Maria Teresa (1959). Em
1965, necessitando estar mais próximo dos grandes centros, Dom Pedro Henrique
vendeu a Fazenda Santa Maria e comprou, em Vassouras, o sítio Santa Maria,
conservado na familia até os dias atuais.
Em 5 de julho de 1981, faleceu o Príncipe Dom
Pedro Henrique, deixando viúva a Princesa Dona Maria. Ascendeu a Chefia da Casa
imperial o seu filho, Dom Luiz.
O Brasil, parece ter sido agraciado com as
virtudes de nossa Rainhas e Imperatrizes. Foi assim com a primeira a pisar nas
Américas, a Rainha Dona Maria I, que com sua fé e caridade, promoveu a
religião, as artes e a cultura de modo geral. Foi também com a Rainha Dona
Carlota Joaquina, que mesmo coadjuvante, defendeu os interesses de Portugal e
gerou os herdeiros do Reino. No Império, o Brasil foi novamente abençoado com a
Imperatriz Dona Leopoldina, dama de grande cultura, que sobre tudo
versava, conservadora e precursora de
nossa independência, de cultura incrível. A Imperatriz Dona Amélia acolheu os
filhos do Imperador Dom Pedro I, dando-lhes educação e amor, mesmo de longo na
Baviera ou em Portugal, aconselhava sobre política e avida pessoal, seu querido filho, o Imperador Dom Pedro II.
Tivemos também Dona Teresa Cristina, que por suas características foi apontada
como a Mãe dos Brasileiros, morrendo de desgosto por estar longe do Brasil,
pátria que adotou como sendo sua. A filha desta, a Princesa Dona Isabel,
reconhecida por todos como a Redentora, apesar de não ter sido coroada, teve
sua vida marcada pelas virtudes. A prudência de seus atos, a justiça que a
levou libertar os escravos, a fortaleza que demonstrou em sua regência e
momentos como os de 1889, e temperança, demonstrada em seu equilíbrio de sempre
amar e respeitar, mesmo àqueles que lhe deram as costas, lhe conferiram,
recentemente, a possibilidade de abertura de inicio de processo de
beatificação. Sua nora, a Princesa Dona Maria Pia, católica, exemplo de esposa,
de mãe e de Princesa, criou seus filhos, mesmo com as dificuldades dos 53 anos
de viuvez, com grande dignidade, transferindo-lhes os mais caros valores. A
Princesa Dona Maria, homenageada com nossa conferência, reuniu o que havia de
melhor nestas 7 grandes damas. Já dizia
o grande pensador e intelectual católico, Dr. Plinio Correa de Oliveira, numa
das edições do prestigiado Legionário, que a Casa de Wittelsbach tinha
verdadeira vocação para produzir grandes homens e grandes mulheres, portanto, o
casamento de Dona Maria com o Herdeiro dos Imperadores do Brasil, foi uma
grande dádiva, pois uniu o sangue dos Orleans e Bragança com o dos Wittelsbach.
Verdadeiro ícone de uma geração de Grandes do Gotha, Dona Maria se junta a um
seleto grupo que representam as tradições das antigas gerações da realeza das
monarquias que governaram a Europa e o Brasil como o Grão-Duque João do
Luxemburgo (90 anos), o Príncipe Phillip, Duque de Edimburgo (89 anos) e o Rei
Miguel da Romênia (89 anos). Senhores e Senhoras de um passado majestoso e
único, que levaram uma vida de grande dignidade.
Depois da morte do marido, a Princesa Dona
Maria passou a morar num apartamento na rua Custódio Serrão, na Lagoa, na
cidade do Rio de Janeiro, com sua filha,
a Princesa Dona Isabel. Nos últimos anos foi enfraquecendo lentamente, sendo
sempre sustentada por sua grande fé religiosa. Referência da Família, a
Princesa sempre foi amada pelos 12 filhos, 25 netos e também pelos pequenos
bisnetos e reverenciada pelos monarquistas brasileiros. O Clube de Engenharia,
há anos atrás, a considerou a Mãe do Ano.
Prima do Herdeiro do Trono Bávaro, Franz,
Duque da Baviera, 77 anos (neto do Príncipe Rupprecht), Dona Maria teve cinco
irmãos: o Príncipe Ludwig, falecido em 2008 com 95 anos, casado com sua prima,
a Princesa Irmgard da Baviera (são os pais do Príncipe Luitpold, 60 anos,
Herdeiro de Franz, Duque da Baviera, que é solteiro – esteve recentemente no Brasil; a Princesa
Aldegunda, falecida em 2004, com 87 anos, a Princesa Eleonora, falecida em
2009, com 91 anos, a Princesa Dorotéia, 91 anos, que casou com Gottfried,
Arquiduque d´Austria, Grão-Duque de Toscana; o Príncipe Rasso, 85 anos, casado
com a Arquiduquesa Teresa da Áustria (são os pais, entre outros filhos, da
Princesa Gisela, esposa do Chefe da Casa Real da Saxônia, Alexander, Príncipe
de Saxe-Gessaphe).
A Princesa Senhora Dona Maria faleceu no dia
13 de maio de 2011. Foi velada na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição,
no centro de Vassouras, com missa de Corpo Presente, o sepultamento se deu no
jazigo da Família Imperial no cemitério daquela cidade. Várias missas foram
celebradas em sufrágio de sua alma. No Rio de Janeiro, a celebração oficiada
por Dom Orani João Tempesta, Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro, reuniu 600 pessoas. Publicações como o jornal “O Estado de São Paulo”
e as revistas “Vogue” e “Point de Vue” renderam homenagens a Princesa.
O ano de 2014 marca o centenário de
nascimento da Princesa Senhora Dona Maria, que além de Princesa da Baviera e,
de jure, Imperatriz do Brasil, foi um estandarte da caridade, bondade e fé
cristã.
Castelo de Nymphenburg, Munique
Castelo de Sárvár
Dona Maria, récem nascida, com com sua mãe, a Princesa Isabelle de Croÿ
Dona Maria em 1916
Dona Maria, com a mãe e o irmão, o Príncipe Ludwig
Com a família, pouco antes do casamento
Foto oficial do noivado
O casamento em Nymphemburg
A visita ao Santo Padre, no Vaticano
Com os filhos, na Fazenda Santa Maria
Na catequese da Primeira Comunhão para os filhos dos colonos, no estado do Paraná
Com a Rosa de Ouro, enviada pelo Papa Leão XIII à Princesa Dona Isabel e doada à Arquidiocese de São Sabastião do Rio de Janeiro pelo Príncipe Dom pedro Henrique
Com os irmãos e cunhadas na Alemanha
Em 2002, no Outeiro da Glória, com SS.AA.II.RR., os Príncipes Dom Luiz e Dom Bertrand
Dona Maria, de jure Imperatriz do Brasil
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