Evaldo Cabral de Mello: um contador de estórias
O pesquisador Evaldo Cabral de Mello acabou de ser eleito para Academia Brasileira de Letras e já causou polêmica.
"D. Pedro era um maluco. Que sorte pode ter um país que consegue a independência sob a égide de um cafajeste, como D. Pedro, criado nas estrebarias, um sujeito que dava pontapé em senhora grávida (a mulher dele, D. Leopoldina".
Evaldo Cabral de Mello
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Evaldo Cabral de Mello Bel Pedrosa O Globo |
Eleito para substituir João Ubaldo Ribeiro, cujo patrono é o Padre António Pereira Sousa Caldas e o fundador foi João Manuel Pereira da Silva, em seu discurso de posse resolveu não fazer a tradicional alusão aos seus antecedentes na Casa, esquecendo-se de citá-los durante a posse.
Além deste mal estar, Evaldo chocou os leitores do jornal "O Globo", na edição de 29.03, na entrevista que foi intitulada "O Brasil é o país da megalomania até na corrupção", mostrando pleno desconhecimento da história do país, como pode ser visto na transcrição de duas perguntas, feitas ao pesquisador:
[Jornal O Globo] "A História do Brasil é cheia de casos de corrupção..."
[Evaldo Cabral de Mello] "É verdade, mas não tinha a gravidade deste caso da Lava-Jato porque o país era mais pobre. O que havia antes, comparado com este caso agora, é coisa de criança. Hoje chama muita atenção o vulto da roubalheira. O brasileiro não tem noção de medida. Ele perde isso em qualquer atividade a que se dedique. Inclusive a de roubar. Aqui tudo toma dimensões continentais, como o tamanho do país. O Brasil é vítima da megalomania. Se eu ainda escrevesse livros, escreveria “De D. Pedro I a Lula, a megalomania brasileira.”
Nesta pergunta, o novo "imortal" refere que outros casos de corrupção, anteriores a Lava-Jato não tinham gravidade. Ora, o governo petista, completando em 2015, 13 anos, já acumula mais de 30 casos de corrupção, que somados extrapolam os 88 bilhões investigados na operação "Lava-Jato". Em seguida, dando noções de ética e moral, ensina que "o brasileiro não tem noção de medida. Ele perde isso em qualquer atividade a que se dedique. Inclusive a de roubar", como se quantidade do roubo tivesse tanta importância quanto a intenção de roubar... Depois, coloca, sem nenhuma argumentação, o nome de Dom Pedro I em suas acusações, inferindo que desde sua época, ou seja, há 185 anos, o Brasil está mergulhado numa megalomania por corrupção! Destaca-se o fato de que, em todos os anos do Império, não houve absolutamente nenhum caso de corrupção envolvendo nomes de membros da Família Imperial.
[Jornal O Globo] "Da onde vem esta nossa megalomania?"
[Evaldo Cabral de Mello] "Vem desde D. Pedro. Ele bolou um país desse tamanho quando já éramos tão diversificados. E o país só fez diversificar de lá pra cá, com a imigração alemã, a italiana... O primeiro ministro anterior a José Bonifácio era Conde dos Arcos. A ideia dele era fazer do Brasil cinco países menores, presididos por cinco membros da Casa Real Portuguesa. E D. Pedro chegou a se animar com a ideia. Mas aí chegou o José Bonifácio, outro megalomaníaco, e acabou com isso. D.Pedro era um maluco. Que sorte pode ter um país que consegue a independência sob a égide de um cafajeste, como D. Pedro, criado nas estrebarias, um sujeito que dava pontapé em senhora grávida (a mulher dele, D. Leopoldina)?"
Evaldo Cabral de Mello afirma, mais uma vez, que megalomania vem desde Dom Pedro (supostamente o I, já que o pesquisador não diferencia), argumentando que a diversidade de etnias e culturas (como as alemãs e italianas), que enriqueceu o país, é a causa de todos os problemas. Também o ato de Dom Pedro I unificar os 8.515.767 km² sob uma única bandeira - criando o Brasil, evitando a divisão, como ocorreu com a América espanhola, foi criticado pelo pesquisador Evaldo Cabral de Mello. Fato desconhecido deste pesquisador, é que o esfacelamento da América Espanhola foi a grande responsável pelas lutas sangrentas da independência, do caudilhismo, e dos regimes totalitários que se fizeram naqueles países latinos. Ao contrário, no Brasil a independência foi uma cissão familiar, acordada sem banhos de sangue e sem caudilhismo nenhum. A diversidade cultural, feita pela composição daqueles que construíram o país, sob a égide da Coroa Portuguesa e depois do Império, engrandeceram e enriqueceram o Brasil.
Mostrando que não é adepto de fontes fidedignas, Evaldo cita uma estória, em que afirma que o Conde dos Arcos era a favor da divisão do Brasil e que teria, em algum momento, convencido Dom Pedro I desta ideia, o que não possui nenhuma confirmação formal pela historiografia.
Para finalizar, ofende a figura de Dom Pedro I, grande criador da identidade e nacionalidade brasileira, que concedeu a Independência ao país, o colocando como "cafajeste". Ora, que mérito tem um pesquisador que acusa falaciosamente, sem oferecer provas, numa tentativa de denegrir a imagem do Imperador, vendendo uma imagem tal qual a oferecida pela república em seu livros didáticos? Segue, Evaldo Cabral de Mello, repetindo velhos absurdos sem razão: referindo que o Imperador foi criado em "estrebarias". Otávio Tarqüino de Souza, em sua obra "A vida de Dom Pedro I", tomo 1, ensina que Dom Pedro I foi educado pelos preceptores Dr. José Monteiro da Rocha e frei Antônio de Nossa Senhora da Salete, grandes nomes da cultura da época, além de ter tido aulas com Padre José Maurício Nunes Garcia, Marcos Portugal e Sigismund Neukomm. Falava, lia e escrevia em português, francês e latim, além de compreender o alemão e o inglês. Tinha vocação para música e sabia tocar instrumentos como piano, flauta, fagote, trombone, violino, clarinete, violão, lundu e cravo, tinha também grande tino para poesia, sendo dele conhecidos alguns versos. Foi o compositor do Hino da Independência. Dom Pedro I foi criado entre os Palácios de Queluz, em Portugal, e São Cristóvão, no Rio de Janeiro.
Dom Pedro I compondo o Hino da Independência
Além de manifestar completo desconhecimento sobre Dom Pedro I, o "pesquisador" ignora as últimas descobertas arqueológicas realizadas nos despojos Imperais da cripta do Ipiranga, em São Paulo. Em 2013, a Professora Valdirene do Carmo Ambiel realizou a exumação do corpo de Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia, sepultados na Cripta Imperial do monumento à Independência, ocasião em que foram realizadas inúmeras pesquisas que atestaram que que a Imperatriz Dona Leopoldina não morreu vitimada por uma agressão do Imperador Dom Pedro I, conforme sugere o "novo imortal".
Durante a entrevista, Evaldo, quando perguntado se gostava de ser brasileiro, respondeu, "não é questão de gostar. É questão de ser. Se pudesse escolher um outro país para nascer em outra encarnação, escolheria a Nova Zelândia".
Como se vê, Evaldo Cabral de Mello segue a linha do colega Zuenir Ventura. Na internet e nos círculos de discussão sobre história, onde o tema ganhou repercussão, há quem diga "não levem a mal, o que Evaldo entende é sobre a ocupação holandesa e não sobre o Brasil e os Brasileiros".
Com Zuenir Ventura, Evaldo Cabral de Mello, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso nos quadros da Academia Brasileira de Letras, o que se pode esperar da intelectualidade brasileira?
Se o leitor quiser se manifestar a Ancelmo Gois, do jornal "O Globo" ou a "coluna do leitor" daquele jornal, escreva para:
Para ler (e não se enganar!):
A vida de Dom Pedro I, de Otávio Tarqüino de Souza, 1954 (Livro em 3 volumes)
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