Dilma custa aos brasileiros o dobro da rainha Elizabeth II para os britânicos
Por O Globo, Blog do Noblat
18/10/2015 - 07h10
José Casado, O Globo
A presidente vai reduzir seu salário, do
vice-presidente e dos 31 ministros a partir de novembro. Dilma Rousseff ganha
R$ 26,7 mil mensais e deve perder 10%, pouco mais de três salários mínimos.
O corte salarial no topo do poder, porém, é
meramente simbólico num governo onde os gastos são crescentes.
O caso da Presidência da República é
exemplar. Na última década, se tornou um agrupamento burocrático de dezenas de
organismos, fundos e secretarias extraordinárias. Gastou R$ 9,3 bilhões no ano
passado —210% mais que em 2005, já descontada a inflação do período.
É um volume de dinheiro quase três vezes
maior, por exemplo, que o gasto anual do Estado do Rio na manutenção da rede
pública de saúde, com 60 hospitais (1.050 leitos de UTI).
Ano passado, as despesas do núcleo
administrativo diretamente vinculado a Dilma somaram R$ 747,6 milhões, recorde
no primeiro mandato.
Pouco mais da metade disso (R$ 390,3 milhões)
foi usado para pagar assessoria e serviços prestados à presidente nos palácios
onde trabalha e reside e durante as viagens, segundo dados da Secretaria de
Administração da Presidência disponíveis no Portal da Transparência, do governo
federal.
Dilma já custa para os brasileiros
praticamente o dobro do que a rainha Elizabeth II e a família real para os
súditos britânicos. A monarquia consumiu, em 2014, o equivalente a R$ 196,3
milhões, segundo relatório anual da Casa Real, tendo-se como referência a
cotação da moeda (libra) no fim de agosto.
Numa comparação republicana, o custeio do
gabinete de Dilma equivale a 60% do escritório de Barack Obama. O presidente
dos Estados Unidos gastou R$ 648 milhões com serviços na Casa Branca e na
residência oficial, segundo relatório sobre a execução orçamentária no último
ano.
Em Washington, como em Brasília, parte das
despesas presidenciais acaba dissimulada no orçamento. A diferença fica por
conta da credibilidade sobre as contas dos dois governos e a eficácia do
controle público.
Nos EUA, Congresso e organizações sociais
mantêm ativa fiscalização. No Brasil, sobra desconfiança, e o controle é
rarefeito. “Aqui, além da pouca transparência, o excesso de truques e
maquiagens fez crescer em progressão geométrica o descrédito nas contas
governamentais”, diz Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas.
Em Brasília, a rotina de Dilma fica
circunscrita a um raio de 15 quilômetros: trabalha no Palácio do Planalto, mora
no Alvorada e passa fins de semana na Granja do Torto, uma casa de campo.
Logo cedo, a presidente passeia nos jardins
do Alvorada, à margem do Lago Paranoá, entre araucárias e sibipurunas plantadas
por Yoichi Aikawa, jardineiro do imperador japonês Hirohito, que doou o projeto
paisagístico há mais de meio século.
Caminha sobre um tapete vegetal três vezes
maior que o Maracanã, com sutil variação de tons de verde derivada das gramas
Esmeralda (Zoysia japonica), Batatais (Paspalum notatum) e São Carlos (Axonupus
compressus). A irrigação e a jardinagem consomem R$ 4 milhões anuais.
Os prédios da Presidência abrigam multidões
de servidores públicos, assessores contratados e a mão de obra alugada de
secretárias, telefonistas, vigilantes, faxineiros e garçons, entre outros. Os
serviços de manutenção somam R$ 220 milhões por ano.
Vigilância e limpeza custam R$ 5,7 milhões
anuais. Nas portarias, há um batalhão de vigias. Representam uma fração (R$ 1,5
milhão) de uma das maiores despesas do setor público: R$ 3 bilhões ao ano em policiamento
privado, com elevada concentração em quatro grupos (Confederal, TBI, Albatroz e
Santa Helena Vigilância).
Ano passado, esse tipo de gasto superou os
investimentos realizados por um conjunto de 33 órgãos, incluídos os ministérios
do Esporte, das Comunicações e da Cultura.
Há despesas mais prosaicas, como R$ 9,7 mil
para quatro camareiras que lavam as roupas do vice-presidente Michel Temer, sob
compromisso de “sigilo de informações”. E R$ 7,8 mil para tratamento semanal da
piscina do Palácio do Jaburu, onde Temer mora.
Recorrentes mudanças administrativas, produto
da instabilidade nas relações da presidente com aliados, levaram à contratação
permanente (por R$ 1milhão por ano) de empresa especializada na montagem e
desmontagem de paredes divisórias no Planalto.
Cada despesa nova leva uma justificativa
pomposa. Exemplo: os R$ 39 mil pagos para encerar o piso de mármore do Planalto
têm “o objetivo de manter a nobreza dos ambientes por onde circulam
autoridades”, diz o contrato.
O esmero burocrático se reflete na mesa do
poder, com espaço para opções individuais, como a escolha do chefe de cozinha.
Nem sempre dá certo.
No governo Fernando Henrique Cardoso, por
exemplo, um sargento da Marinha foi enviado a Paris com a missão de aprender a
cozinhar. Voltou, agradeceu e partiu para a aventura de um negócio próprio.
Nas 28 copas, a prestação de serviços custa
R$ 7,4 milhões. Por elas circulam 88 garçons, sempre em camisa branca, calça,
paletó de dois botões e cinco bolsos, gravata-borboleta e sapatos pretos.
Há 58 copeiras em calças sem pregas, blusa de
mangas três-quartos, em microcrepon (do tipo anarruga), sob avental xadrez
preto e branco, com viés nas laterais. Os uniformes são exigência contratual.
A intensidade do movimento entre copa e
cozinha varia conforme a predileção do governante por festas e homenagens. O
governo Dilma foi de comemorações no primeiro mandato: gastou-se R$ 302,7
milhões, 40% mais que Lula em oito anos. Em 2014, foram R$ 77,3 milhões, média
de R$ 213 mil por cada dia do calendário da reeleição.
Luxo e fartura ambientam as cozinhas dos
palácios. Paga-se R$ 9 mil por banho restaurador dos utensílios em prata 925
(esterlina, com 92,5% de pureza). Os gastos com alimentação no Planalto somam
R$ 16 milhões anuais.
Desse total, uma fatia de R$ 1,3 milhão fica
reservada para prover a despensa, os cardápios sob encomenda e a adega da
presidente, com capacidade para 2.000 garrafas. Quase tudo é mantido em
segredo.
Aos curiosos, a presidência acena com um
decreto (nº 7.724) assinado pela própria Dilma, em 2012, onde se lê: “As
informações que puderem colocar em risco a segurança do presidente da
República, vice-presidente e seus cônjuges e filhos ficarão sob sigilo até o
término do mandato em exercício ou do último mandato, em caso de reeleição.”
Como nem os donos de segredos de Estado
conseguem guardá-los, sabe-se que um dos mais caros cardápios é mantido à
margem da contabilidade rotineira de copa e cozinha palaciana: custa R$ 2
milhões anuais o serviço de comida a bordo do avião presidencial.
Já foi mais. Em 2006, Lula chegou a gastar R$
3,7 milhões — mais que a conta dos cinco mil telefones da presidência naquele
ano. Ele instituiu um padrão em voos, preservado por Dilma, com variedade de
carnes (coelho assado, costeleta de cordeiro, rã, pato, picanha e peixe).
O café da manhã a bordo custa R$ 58,60; a
bandeja de frutas, R$ 102; cada canapé de caviar sai a R$ 7; camarão ou salmão
defumado, a R$ 4,60.
Em viagens ao exterior, Dilma prefere hotéis
às residências oficiais nas embaixadas brasileiras. Em junho, passou três dias
numa suíte do St. Regis, em Nova York, decorada por joalheiros da Tiffany.
Depois, passou um dia em São Francisco,
Califórnia, no hotel Fairmont, cuja suíte principal tem um mapa estelar em folhas
de ouro contra um céu de safira. O custo médio das diárias nos EUA foi de R$ 36
mil.
Para servi-la e à comitiva foram contratados
19 limusines, 15 motoristas, dois ônibus e um caminhão para transportar
bagagens. Custou R$ 360 mil (o pagamento atrasou dois meses).
Em Atenas, na Grécia, em 2011, a presidente
gastou R$ 244 mil numa “escala técnica" de 24 horas — mais de R$ 10 mil
por hora.
Palácio da Alvorada (Foto: Divulgação)
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