Vergonha: desvalorização do governo maltrata grande obra artística da Imperatriz Dona Teresa Cristina
Por Gougon, jornalista, mosaicólogo.
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Enquanto cuidava de suas filhas no jardim anexo ao Palácio de S. Cristóvão, no Rio de Janeiro, denominado então Jardim das Princesas, Dona Teresa Cristina fez revelar um de seus dotes artísticos pessoais, o mosaico. Como boa italiana, carregava na alma o gosto pela harmonia das tesselas e foi com conchas, recolhidas nas praias do Rio, e com cacos das peças de serviço de chá da Casa Imperial que recobriu os bancos, tronos, fontes e paredes do Jardim das Princesas, enquanto cuidava das filhas.
Enquanto cuidava de suas filhas no jardim anexo ao Palácio de S. Cristóvão, no Rio de Janeiro, denominado então Jardim das Princesas, Dona Teresa Cristina fez revelar um de seus dotes artísticos pessoais, o mosaico. Como boa italiana, carregava na alma o gosto pela harmonia das tesselas e foi com conchas, recolhidas nas praias do Rio, e com cacos das peças de serviço de chá da Casa Imperial que recobriu os bancos, tronos, fontes e paredes do Jardim das Princesas, enquanto cuidava das filhas.
O estado das obras
São obras delicadas, algumas delas intactas, outras muito mutiladas, que ainda se encontram no local. O Palácio de S. Cristóvão foi sucessivamente habitado por D. João VI, logo após sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1808; depois por D. Pedro I e em seguida por D. Pedro II, até o banimento da família Imperial, imposto pelos militares em 1889. Dois anos depois, o Palácio foi transformado em Museu Nacional de Ciências Naturais, e desde 1891 não sofre alterações. É administrado hoje pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que mantém ali um corpo de pesquisadores. As peças de Ciências Naturais algumas delas reunidas ao tempo do Império são abertas à visitação, mas os mosaicos da Imperatriz são inacessíveis ao público. A área do Jardim das Princesas está fechada desde que, tempos atrás, a abertura do espaço ao turismo descontrolado resultou em retiradas de tesselas e outros objetos de decoração levados como souvenir.
Infelizmente, alguns dos trabalhos musivos de Dona Teresa Cristina estão muito danificados, antes pela depredação de pessoas inescrupulosas, hoje pela ação do tempo e pela exposição às intempéries. Atualmente, o local é totalmente vedado aos visitantes. Não faz parte do cotidiano de visita permitido pela direção do Museu. Para conhecer o trabalho da nossa Imperatriz, mulher de Dom Pedro II, que reinou por quase meio século, é preciso pedir autorização especial à administração do Museu.
A meu ver, parece que uma faceta importante da Imperatriz - a arte musiva - é praticamente ignorada pelos historiadores ou por quem tem responsabilidade neste país pela preservação da memória nacional. As obras de arte da Imperatriz estão se esvaindo no descuido, do lado de fora do Museu. Trata-se de espaço impenetrável. Nada se fala a respeito. Uma lástima. Poderia ser uma fonte importante de inspiração turística, poderia contribuir para que os brasileiros ou mesmo os visitantes estrangeiros tivessem contato com um aspecto muito simpático da mulher de Dom Pedro II.
A primazia
São obras delicadas, algumas delas intactas, outras muito mutiladas, que ainda se encontram no local. O Palácio de S. Cristóvão foi sucessivamente habitado por D. João VI, logo após sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1808; depois por D. Pedro I e em seguida por D. Pedro II, até o banimento da família Imperial, imposto pelos militares em 1889. Dois anos depois, o Palácio foi transformado em Museu Nacional de Ciências Naturais, e desde 1891 não sofre alterações. É administrado hoje pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que mantém ali um corpo de pesquisadores. As peças de Ciências Naturais algumas delas reunidas ao tempo do Império são abertas à visitação, mas os mosaicos da Imperatriz são inacessíveis ao público. A área do Jardim das Princesas está fechada desde que, tempos atrás, a abertura do espaço ao turismo descontrolado resultou em retiradas de tesselas e outros objetos de decoração levados como souvenir.
Infelizmente, alguns dos trabalhos musivos de Dona Teresa Cristina estão muito danificados, antes pela depredação de pessoas inescrupulosas, hoje pela ação do tempo e pela exposição às intempéries. Atualmente, o local é totalmente vedado aos visitantes. Não faz parte do cotidiano de visita permitido pela direção do Museu. Para conhecer o trabalho da nossa Imperatriz, mulher de Dom Pedro II, que reinou por quase meio século, é preciso pedir autorização especial à administração do Museu.
A meu ver, parece que uma faceta importante da Imperatriz - a arte musiva - é praticamente ignorada pelos historiadores ou por quem tem responsabilidade neste país pela preservação da memória nacional. As obras de arte da Imperatriz estão se esvaindo no descuido, do lado de fora do Museu. Trata-se de espaço impenetrável. Nada se fala a respeito. Uma lástima. Poderia ser uma fonte importante de inspiração turística, poderia contribuir para que os brasileiros ou mesmo os visitantes estrangeiros tivessem contato com um aspecto muito simpático da mulher de Dom Pedro II.
A primazia
Todas essas obras têm data. Por circunstâncias do destino, a pesquisadora Maria Beltrão, do Museu Nacional, descobriu recentemente no recosto de um dos bancos no Jardim das Princesas uma inscrição rabiscada na argamassa, apenas com a data 29 de julho de 1852. É a data de aniversário de seis anos da Princesa Isabel. O gesto da princesinha acabou datando a obra da mãe.
A importância dessa datação é que a obra da Imperatriz e sua opção pelo uso de quebras de porcelanas no revestimento de bancos, fontes e paredes ocorre pelo menos 50 anos antes de Gaudi e Josep Jujol optarem pelo uso de azulejosa no revestimento de suas obras no Parque Guell, na Casa Millá e na Casa Batló, em Barcelona, todas dos primeiros anos do século XX. Os mestres da Catalunha provocaram uma verdadeira revolução na história da arte musiva um pouco por toda parte. Claro que a iniciativa individual da nossa Imperatriz não tem a mesma grandiosidade que foi possível a Gaudi e Jujol, através de uma equipe de operários e artesãos. Mas trata-se inequivocamente de uma atitude de grande importância histórica, pela primazia de tê-la concebida em terras brasileiras, com os recursos possíveis para a época e de acordo com as circunstâncias do país. É obra para ser reverenciada por todos os artistas brasileiros e estrangeiros. Mais ainda: é para ser restaurada e exibida com orgulho pelos mosaicistas, especialmente os daqui e pelos italianos, compatriotas da Imperatriz, que se tornou mulher do nosso Imperador e mãe exemplar. Viria a falecer no Porto, em Portugal, pouco depois da partida inglória para o exílio, determinada pelos republicanos. Seus restos mortais, assim como os do Imperador, descansam hoje na Catedral de Petrópolis, desde o translado, ocorrido em 1922, por ocasião da revogação do banimento pelo presidente Epitácio Pessoa, ao se dar conta de que era impraticável comemorar o centenário da independência brasileira sem a presença dos descendentes do nosso primeiro Imperador.
A importância dessa datação é que a obra da Imperatriz e sua opção pelo uso de quebras de porcelanas no revestimento de bancos, fontes e paredes ocorre pelo menos 50 anos antes de Gaudi e Josep Jujol optarem pelo uso de azulejosa no revestimento de suas obras no Parque Guell, na Casa Millá e na Casa Batló, em Barcelona, todas dos primeiros anos do século XX. Os mestres da Catalunha provocaram uma verdadeira revolução na história da arte musiva um pouco por toda parte. Claro que a iniciativa individual da nossa Imperatriz não tem a mesma grandiosidade que foi possível a Gaudi e Jujol, através de uma equipe de operários e artesãos. Mas trata-se inequivocamente de uma atitude de grande importância histórica, pela primazia de tê-la concebida em terras brasileiras, com os recursos possíveis para a época e de acordo com as circunstâncias do país. É obra para ser reverenciada por todos os artistas brasileiros e estrangeiros. Mais ainda: é para ser restaurada e exibida com orgulho pelos mosaicistas, especialmente os daqui e pelos italianos, compatriotas da Imperatriz, que se tornou mulher do nosso Imperador e mãe exemplar. Viria a falecer no Porto, em Portugal, pouco depois da partida inglória para o exílio, determinada pelos republicanos. Seus restos mortais, assim como os do Imperador, descansam hoje na Catedral de Petrópolis, desde o translado, ocorrido em 1922, por ocasião da revogação do banimento pelo presidente Epitácio Pessoa, ao se dar conta de que era impraticável comemorar o centenário da independência brasileira sem a presença dos descendentes do nosso primeiro Imperador.
Um primeiro estudo
Ainda sobre o Jardim das Princesas, o único estudo conhecido sobre a área foi realizado pela arqueóloga Maria Beltrão, do Museu Nacional, em meados dos anos 90 e transformado em publicação avulsa do Museu nacional em1997. A arqueóloga realizou algumas escavações na área, dentro de um projeto histórico que visava conhecer o passado dos que habitaram a área circundante ao Palácio, antes de se tornar residências da s famílias Real e Imperial. Na descrição que a professora faz do Jardim das Princesas, chega a classificar, uma a uma, as diversas conchas recolhidas pela Imperatriz (Patellidae, Trochidae, Arcidae, etc. etc. etc.), mas passa rápido pelos fragmentos de louça, assinalando apenas serem "em sua maioria inglesas". Como arqueóloga, o trabalho tem lá sua importância. Mas falta o olho artístico para perceber o alcance da obra musiva da Imperatriz. Ao menos recolhe, no recosto de um banco, o detalhe que me faltou quando visitei o espaço: a data de aniversário de seis anos da princesa Isabel. Distanciada da questão posta pela autoria artística, a arqueóloga chega a imaginar que as obras musivas sejam de autoria da princesa Isabel, com ajuda das aias, o que é absolutamente improvável. A qualidade do trabalho, a harmonia, a criatividade, a escolha das peças, dos fragmentos das louças, e outros elementos não deixam a menor sombra de dúvida sobre a autoria de alguém mais amadurecida e de espírito mais refinado, seguramente a Imperatriz Teresa Cristina."
Ainda sobre o Jardim das Princesas, o único estudo conhecido sobre a área foi realizado pela arqueóloga Maria Beltrão, do Museu Nacional, em meados dos anos 90 e transformado em publicação avulsa do Museu nacional em
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Fonte: Mosaicos do Brasil
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