Instituto Genealógico Brasileiro: A infância de Dom Luiz
Extraído da Revista Genealógica Brasileira, Ano I, 1º semestre de 1940, nº 1.
A grafia da época foi conservada.
(capitulo de um livro inédito)
Especial para a Revista do “Instituto Genealógico Brasileiro”
Por Guilherme Martinez Auler
O Imperador Dom Pedro II, na “Fala do Trono” de 3 de maio de 1864, disse as seguintes palavras: “Anuncio-vos com prazer que trato do casamento das Princesas minhas muito amadas e queridas filhas, o qual espero que se efetue no corrente ano”.
Tres meses depois, no dia 13 de agosto, partia de Lisboa o vapor “Paraná”, trazendo a bordo os Príncipes Gastão de Orleans e Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, e o General Cristiano Dumas, que fora ajudante de ordens do Rei Luiz Filipe de França.
A 27, os Príncipes conheciam o Recife, e no dia 2 de setembro chegavam ao Rio de Janeiro.
Sentados o Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Dona Teresa Cristina. Em pé a Princesa Dona Isabel e o marido,Príncipe Gastão de Orleans, Conde d’Eu, a Princesa Dona Leopoldina e seu marido, o Príncipe Augusto de Saxe-Coburgo-Gota
O casamento da Herdeira do Trono, a Princesa Dona Isabel, com o Príncipe Gastão de Orleans realizou-se no dia 15 de outubro. Foram padrinhos do noivo o General Dumas e o Marquez de Olinda; por parte da noiva serviram de testemunhas o Conselheiro Francisco José Furtado e o Marquez de Itanhaem. Celebrou o casamento o Arcebispo da Baía, Dom Manuel Joaquim da Silveira, futuro Conde de São Salvador.
Passada a lua de mel em Petropolis, os Príncipes embarcaram para Europa, em viagem de recreio, donde regressaram em 22 de julho de 1865. Nessa época o exercito brasileiro procurava deter a invasão paraguaia. O Imperador estava pessoalmente nos campos de batalha, fardado de Voluntario da Patria.
Poucos dias depois de seu regresso, o Príncipe Gastão embarcou no “Santa Maria” para o Rio Grande do Sul. A 15 de agosto encontrou-se com o Imperador em Caçapava.
Em 22 de março de 1869 era nomeado Comandante em Chefe das forças brasileiras em campanha no Paraguai. Depois de ter conduzido vitoriosamente o exercito brasileiro e aniquilado completamente as mais dificeis resistencias do inimigo, o Príncipe Consorte voltou ao Rio de Janeiro, onde chegou a 29 de abril de 1870.
Somente agora podia dedicar-se à vida de família. No Rio de Janeiro adquiriu uma chacara, nas Laranjeiras, transformando-a no “Paço Isabel” (hoje Palácio Guanabara). Em Petropolis, durante o verão, residia no palacete à Rua Dom Afonso (hoje Avenida Koeller) esquina da Rua 13 de maio, atualmente ocupado pelo Liceu Fluminense.
Os irmãos: Dom Pedro de Alcântara (sentado), ao fundo Dom Antonio e à frente, Dom Luiz
No dia 15 de outubro de 1875 nasceu o primogenito da Princesa Herdeira do Trono, o Príncipe Dom Pedro Alcantara Luis Filipe Maria Gastão Miguel Rafael Gonzaga. Seguiu-se o Príncipe Dom Luiz, nascido em Petropolis no dia 26 de janeiro de 1878 e batisado a 14 de março. Tres anos depois, em 9 de agosto de 1881, nascia o ultimo filho de Dona Isabel, o Príncipe Dom Antonio.
A Família Imperial: atrás, da esquerda para direita, Dom Antonio, Dona Isabel, Dom Pedro de Alcantara, Príncipe Augusto Leopoldo de Saxe, Conde d’Eu. Sentados, à frente, Dom Luiz, Imperador Dom Pedro II, a Imperatriz Dona Teresa Cristina, e o Príncipe Pedro Augusto de Saxe
Primeiramente, os filhos do Conde d’Eu estudaram no Colegio do Padre Moreira. Em 1882, o Imperador encarregou o Barão de Ramiz Galvão da educação dos netos. Dom Luiz era então “reservado, sisudo e, quasi se pode dizer, com uma gravidade que não condizia com seus verdes anos. Estava ali o germem de um pensador, de um homem refletido que não se curva ante as primeiras impressões tanta vez enganadoras” (1).
Em 1887, Dom Luiz matriculou-se no 1.º ano do Colegio Dom Pedro II, obtendo nos exames a nota distinção. Nesse tempo, já demonstrava a sua tendencia para escritor. Por ocasião do aniversario de seu avô paterno, o Duque de Nemours, presenteou seu pai com um pequeno jornal, escrito e composto por ele: o “Correio Imperial”. (2).
No ano seguinte, foi tambem encarregado da educação dos pequenos Príncipes, o Coronel Manuel Cursino Peixoto do Amarante.
Aos 11 anos e meio, quando foi exilado da patria, Dom Luiz conhecia perfeitamente o português e o francês, estudava o alemão, já tinha noções adeantadas de geografia, história, ciências naturais, física e desenho, e começava o estudo da algebra. Afirma o seu preceptor o Barão de Ramiz Galvão que “não era possivel desejar mais uma criança, a qual se davam horas indispensaveis de repouso e folguedo, ao lado de passeios e exercícios físicos, que a boa educação da mocidade reclama como absolutamente necessarias” (3).
Exilado da patria, seguiu viagem no “Alagoas”, embarcando às 3 horas da madrugada do dia 17 de novembro. Acompanhava a Família Imperial um pequeníssimo grupo de fieis: dr. Mota Maia e seu filho Manuel Augusto, Barões de Muritiba, Barões de Loreto, Viscondessa Fonseca Costa, Conde de Alzejur e dr. André Rebouças. Alguns viajavam com a roupa do corpo, pois nem tinham tido tempo de preparar bagagem, como o dr. André Rebouças.
Chegando a Lisboa em 7 de dezembro, vinte e um dias depois morria a Imperatriz, na cidade do Porto. Exilados, sem recursos financeiros, com contas a pagar, o dr, Mota Maia, em nome do Imperador, fez um emprestimo com o Visconde de Alves Machado, de 20 contos de reis fortes. Com esse dinheiro foram pagas as contas do Hotel, transporte do feretro da Imperatriz para Lisboa, despesas do luto, etc. O Conde d’Eu escrevia, então, ao Duque de Nemours: “Quanto à situação financeira, ela está neste momento reduzida a zero” (4).
De Portugal, a Família Imperial dirigiu-se para Cannes, onde os Príncipes freqüentaram o Instituto Stanislas. Sempre preocupado com a educação dos seus filhos, o Conde d’Eu escrevia ao dr. Mota Maia: “Sabe que precisamos tomar uma resolução antes do fim do corrente mez, para podermos cuidar dos estudos dos meninos” (5).
Um ano mais tarde morria Dom Pedro II no pequeno quarto do Hotel Bedford, na Rue de 1’Arcade n.º 17, proximo da Praça Concordia, em Paris. O féretro seguiu para Lisboa, afim de ser instalado em São Vicente de Fóra, onde estava sepultada a Imperatriz. Dom Luiz, juntamente com seu pai, acompanhou o corpo do extremoso avô até a derradeira morada.
No ano seguinte escrevia a seguinte carta ao dr. Mota Maia, que fôra o amigo mais dedicado do Imperador:
“Versailles, 3 de fevereiro de 1892. Querido dr. Mota Maia. Recebi com prazer sua presada carta de 31 de janeiro. Agradeço-lhe muito o presente que o Senhor me mandou pelo intermedio do Sr. Tosta. Ajudou-me muito a obter o velocipede que fui hoje com mamãe comprar em Paris, e de que já me servi. Agradeço-lhe também as condolencias que me mandou por ocasião da morte da boa Mariquinhas que tanto de mim gostava. Aqui vamos passando bem. Espero que o Senhor e sua familia vão gosando de boa saude. Queira, querido Doutor, aceitar as lembranças e um apertado abraço deste seu amigo. (assinado) Luiz” (6).
Segundo escreve Monseigneur Delair, Dom Luiz, “obedecendo ao seu temperamento de homem de ação como à sua tradição militar e ao seu gosto pela profissão das armas” (7), matriculou-se numa Escola Militar austriaca, onde fez todo o curso e depois o estagio necessario no exercito do Imperador Francisco José.
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(1) Discurso do Barão De Ramiz Galvão, em 21-10-1920, no Instituto Historico Brasileiro. Vide Revista, ano 1921, paginas 524 a 530.
(2) “Gastão de Orleans”, por Alberto Rangel, pagina 365.
(3) Discurso no Instituto Historico Brasileiro, vide Revista ano 1921, pg. 524 a 530.
(4) “Gastão de Orleans”, pagina 410.
(5) “O Conde de Mota Maia”, por M. A. Mota Maia, pg. 419.
(6) Idem, idem, pg. 443.
(7) “Um jeune Prince Chretien”, por Mgr. Delair, pg. 27.
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