Missa por Dona Teresa de Orleans e Bragança, no Rio de Janeiro
A missa em homenagem a Princesa Dona Teresa, na Antiga Sé Catedral, no Rio, contou com a presença de grandes amigos da Princesa falecida e da Família Imperial. Os Príncipes Dom Antonio e Dona Christine de Orleans e Bragança, acompanhados da Princesa Dona Cristina de Bourbon e Orleans e Bragança participaram da emocionante missa solene presidida por Sua Paternidade, o Reverendíssimo Senhor Dom José Palmeiro Mendes, OSB, Abade Emérito do Mosteiro de São Bento.
Transcrevemos integralmente a homilia de Sua Paternidade, o Reverendíssimo Senhor Dom José na missa em sufrágio da alma da tão querida Princesa Dona Teresa de Orleans e Bragança:
“MISSA PELA ALMA DE DONA TERESA
DE ORLEANS E BRAGANÇA
Estamos aqui reunidos para celebrar o sacrifício eucarístico em sufrágio da alma da Princesa Dona Teresa de Orleans e Bragança, Senhora Martorell. Ela estava numa idade respeitável, em junho próximo faria 92 anos. Os amigos e admiradores da Família Imperial Brasileira a veneravam como a última neta viva da Princesa Dona Isabel e do Conde d´Eu. A Redentora, de fato, teve 8 netos, três sendo filhos do Príncipe Imperial Dom Luiz e cinco do Príncipe Dom Pedro de Alcântara, nascidos entre 1909 (D. Pedro Henrique) e 1919 (justamente D. Teresa). É toda uma geração que desaparece, pois, com D. Teresa.
Cada um dos presentes terá suas recordações da Princesa. Várias notícias a seu respeito por ocasião de sua morte referem como era uma mulher de forte caráter e grande referência da família. Uma das últimas grandes damas da velha geração da realeza européia. Alta, extremamente elegante, muito distinta, com um grande senso de humor. Depois da revogação da lei do banimento da Família Imperial, no início dos anos 30, ou seja, bastante jovem, veio morar definitivamente no Brasil – no Palácio Grão-Pará, em Petrópolis – com os pais e irmãos. Viajou com o pai por muitos lugares do Brasil (em 1939, p. ex., estiveram no Rio Grande do Sul). Falecido o pai em 1940, estabeleceu-se no início dos anos 50 em Portugal, onde residia sua irmã D. Maria Francisca, duquesa de Bragança, tendo também lá uma propriedade a outra irmã, Dona Isabel, condessa de Paris. Em Portugal em 1951 faleceu sua mãe, Dona Elisabeth. Em 1957 ali casou com o industrial Ernesto Martorell y Calderó, português, mas de origem espanhola, de quem terá duas filhas. Voltou várias vezes a seu país. Em 1971 para o sepultamento definitivo dos avós, na Catedral de Petrópolis. Em 1972, único membro da Família Imperial presente, presidiu, ao lado do Presidente de Portugal, almirante Américo Tomás, a cerimônia de retirada dos restos de D. Pedro I do panteon de São Vicente de Fora, e seu traslado até o navio “Funchal”, que o trouxe ao Brasil. Ela mesma para cá viajou. Enfim, em 2008 fez sua última viagem ao Brasil, ocasião em que a conheci: para as comemorações pelo 2º centenário da chegada da Família Real Portuguesa.
Quero, porém, assinalar aqui o mais importante: os sentimentos cristãos, a fé de Dona Teresa. Várias noticias a seu respeito destacaram as palavras que disse ao fazer 90 anos: “O segredo para se chegar a esta idade é ser feliz e uma boa cristã, amar a Deus e acreditar sempre”. Foi sem dúvida um belo testemunho, extremamente valioso no momento de deixar esta vida. Uma de suas últimas saídas foi para comparecer na missa celebrada pelo Papa Bento XVI em Lisboa em sua visita a Portugal em maio do ano passado.
Dona Teresa partiu em uma época do ano particularmente expressiva: a Semana Santa, na segunda-feira da Semana Santa. Ou seja, na semana em que recordamos de forma especial os dias em que Jesus nosso Salvador sofreu sua paixão. Agora rezamos esta santa missa na Oitava da Páscoa, isto é, na semana que se segue à Páscoa, a festa das festas, em que recordamos a Ressurreição do Senhor. O júbilo da Igreja pela Ressurreição do Senhor é tão grande que celebramos estes oito dias como um único dia, o Domingo da Páscoa. A oitava da Páscoa tem precedência sobre quaisquer outras celebrações. Pode-se, é claro, rezar pelos mortos, mas não se podem usar os formulários das missas pelos defuntos, a não ser no caso de missas de exéquias, missas antecedendo um sepultamento.
Sim, penso ser belo rezar por Dona Teresa, pelo repouso de sua alma, tendo como pano de fundo a Ressurreição do Senhor. “Irmãos – diz S. Paulo – nós não queremos que ignoreis o que se passa com aqueles que adormeceram na morte, a fim de que não vos entristeçais como os outros, que não têm esperança. Pois se Jesus, como nós cremos, morreu e ressuscitou, também aqueles que adormeceram em Jesus, Deus os tomará com ele” (1 Ts 4,13s).
É expressivo sobretudo o relato da aparição de Cristo ressuscitado aos discípulos de Emaús. Este texto é muito conhecido para que seja necessário descrever toda a sua riqueza; sua tonalidade, muito humana, ressoa profundamente nos corações de todos os que escutam tal episódio, que um comentário arrisca alterar sua excepcional transparência. Digamos apenas que o episódio aparece como a celebração da renovação que a ressurreição de Jesus traz naqueles que aceitam sua mensagem. No fim de sua longa caminhada, os dois discípulos são renovados totalmente. Sua compreensão da vida, da morte igualmente, tornou-se outra. Até então viam na morte o fracasso último da humanidade. A seus olhos, mesmo um grande profeta, poderoso em obras e palavras, se condenado à morte e crucificado, conclui sua vida por um fracasso radical, que destrói todo o seu sentido. Ora, tal idéia, agora modifica-se. Eis que Jesus, após ter passado pelos sofrimentos preditos pelos profetas, entra em sua glória. As palavras do Senhor despertam nos dois peregrinos de Emaús e em nós um grande desejo da vida, despertam esperança e alegria.
Dona Teresa teve em sua vida, sem dúvida, ao lado de momentos de alegria, outros difíceis, de sofrimento. Mas à luz da paixão e da ressurreição de Cristo, vê-se um sentido, embora misterioso, para tais momentos. Que ela agora descanse em paz. “O Deus e Pai todo-poderoso, nós cremos que o vosso Filho morreu e ressuscitou por nós. Concedei que vossa filha, Dona Teresa, adormecida em Cristo, que em Cristo também ressuscite para a alegria eterna”. E que nós, que aqui estamos, sejamos fortificados em nossa fé pelos mistérios pascais e procuremos servir a Deus com amor e fidelidade.
Amém.”
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