Exposição "Retratos do Império e do Exílio" chega a São Paulo
Acompanhe o texto de Antonio Gonçalves Filho sobre a exposição "Retratos do Império e do Exílio", que chega a São Paulo no dia de hoje. O título possui o erro crasso ao nominar a Família de nobre, quando deveria ser Imperial...
"Álbum de família nobre
Instituto Moreira Salles mostra 165 fotos raras de D. Pedro II e parentes
Terça, 19 de Julho de 2011, 00h00
Antonio Gonçalves Filho
Quando a República foi proclamada, em 15 de novembro de 1889, a família imperial partiu para o exílio na França e Áustria, levando na bagagem más e boas recordações do Brasil. Entre as últimas, estavam fotos de família que só agora são exibidas ao público, numa iniciativa do Instituto Moreira Salles (IMS), responsável pela guarda e conservação desse acervo de quase 800 imagens registradas por célebres fotógrafos, entre eles Marc Ferrez, conhecido por suas idílicas paisagens do Rio, e Revert Henry Klumb, que foi professor de fotografia das princesas Isabel e Leopoldina.
Dessas, 165 fotografias foram selecionadas pelo coordenador de fotografia do IMS, Sergio Burgi, e o príncipe Dom João de Orleans e Bragança, de 56 anos, herdeiro e detentor dessa coleção, além de empresário bem conhecido em Paraty, não só por apoiar iniciativas culturais da cidade como por ter cancelado todos os seus compromissos para prestar ajuda às famílias atingidas pela tragédia das chuvas de janeiro na região serrana do Rio, onde morreram mais de mil pessoas.
Dom Joãozinho, como é conhecido em Paraty, cedeu em comodato ao IMS o belo acervo guardado em sua casa, que tem imagens históricas como a da missa campal em ação de graças pela abolição da escravatura no Brasil, realizada em 17 de maio de 1888 no campo de São Cristóvão, Rio. Nela, é possível ver Isabel em meio a uma multidão de beneficiados pela Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, assinada pela princesa quatro dias antes. A imagem impressiona pela nitidez dos rostos de escravos alforriados que, em primeiro plano, compartilham com senhores de cartola o mesmo território, tendo ao fundo a Redentora.
São da princesa Isabel, aliás, as imagens mais marcantes da exposição, que traz registros de descontração incomuns para uma família real, como o da imperatriz Teresa Cristina, sua mãe, fotografada por Revert Henry Klumb no Rio, em 1861, tendo ao fundo duas garotas sapecas escondidas atrás de uma coluna, justamente as princesas Isabel e Leopoldina. Mesmo no exílio, aos 64 anos, em 1919, a filha de D. Pedro II não parece capaz de guardar rancor por ter sido vítima de positivistas radicais, fazendeiros de caráter duvidoso e militares golpistas. Tampouco por ter sido espoliada (13 leilões dividiram os bens da Casa Imperial entre novos ricos). Na foto mais refinada da exposição, registrada em Paris, em 1910, ela esboça um sorriso sereno no estúdio de Boissonnas e Caponier. Dois anos antes de sua morte, fotografada (por Gavelle) ao lado do marido, o conde d"Eu, em seu castelo na Normandia, a princesa parece resignada com seu desterro. A foto é de 1919. Um ano depois, receberia com emoção a notícia de que a lei que baniu a família real - sem ter cometido nenhum crime para ser expulsa do País - havia sido revogada pelo presidente Epitácio Pessoa.
Dom João, que guardou essas imagens todos esses anos, acha difícil escolher uma predileta de seu álbum de família, mas lembra a importância de uma foto histórica como a da missa da Abolição. "É impressionante quando se reconhece na foto ampliada os rostos de figuras que marcaram a história, além da princesa Isabel", diz, citando o nome do engenheiro abolicionista André Rebouças, que partiu com a família imperial para o exílio, ele que solucionou o problema de abastecimento de água no Rio e criou um torpedo decisivo para o Brasil vencer a guerra contra o Paraguai (há, na mostra, uma foto do imperador Pedro II em traje de campanha, por ocasião da rendição de Uruguaiana em 1865). Rebouças partiu para África quando o imperador morreu, em 1891, apresentando sinais de perturbação emocional um ano depois.
Legalista. "D. Pedro II era um legalista, um homem que tinha profundo respeito pela Constituição, uma segunda religião para ele", comenta Dom João, sem pretender fazer da exposição um manifesto político, até mesmo porque, segundo ele, não são só imagens históricas que integram a mostra. "São também fotos de família, que mostram momentos de carinho, como o da princesa Isabel de mãos dadas com o conde D"Eu no castelo da Normandia."
O príncipe de Paraty cita ainda uma foto engraçada da imperatriz Teresa Cristina, de costas, em 1866, feita pelo fotógrafo Joaquim Carneiro. "É uma foto com frente e verso, coladas uma a outra, ousadia que nem o surrealista Dalí teria imaginado".
Visionário, o imperador Pedro II introduziu a fotografia no Brasil e fez fotos experimentais com o daguerreótipo, que comprou em 1840, antes mesmo desses aparelhos serem vendidos no Brasil. E incentivou todos os que se dedicaram, como ele, à fotografia.
"Julgamos que essa primeira exposição deveria destacar os retratos porque eles permitem uma leitura mais direta da família imperial, vista por fotógrafos que eram íntimos dela, como Marc Ferrez e Henry Klumb", diz o curador Sergio Burgi. De fato, a descontração de momentos como D. Pedro de Alcântara, D. Antonio Gastão e D. Luís, ainda crianças, numa carroça puxada por um carneiro, em 1883, só poderia mesmo ser captada por um fotógrafo como Ferrez.
Agraciado com o título de Cavaleiro da Ordem da Rosa, Ferrez é um dos destaques da mostra, captando momentos de privacidade nos palácios ou fora deles. Otto Hess é outro nome a ser lembrado, ele que fez talvez a última foto da família imperial antes de partir para o exílio, em 1889. Como sempre, D. Pedro II tem o olhar mais grave e a expressão mais tensa da família, como em todas as fotos da mostra. "É uma coleção que fala muito sobre personagens históricos, mas por meio de fotos íntimas, familiares, não pensadas para exposição pública", conclui Burgi.
RETRATOS DO IMPÉRIO E DO EXÍLIO
IMS. Rua Piauí, 844, 3825-2560. 13 h/19 h (sáb. e dom., 13 h/18 h; fecha 2ª). Grátis. Abertura hoje, às 19h30, para convidados.
Dessas, 165 fotografias foram selecionadas pelo coordenador de fotografia do IMS, Sergio Burgi, e o príncipe Dom João de Orleans e Bragança, de 56 anos, herdeiro e detentor dessa coleção, além de empresário bem conhecido em Paraty, não só por apoiar iniciativas culturais da cidade como por ter cancelado todos os seus compromissos para prestar ajuda às famílias atingidas pela tragédia das chuvas de janeiro na região serrana do Rio, onde morreram mais de mil pessoas.
Dom Joãozinho, como é conhecido em Paraty, cedeu em comodato ao IMS o belo acervo guardado em sua casa, que tem imagens históricas como a da missa campal em ação de graças pela abolição da escravatura no Brasil, realizada em 17 de maio de 1888 no campo de São Cristóvão, Rio. Nela, é possível ver Isabel em meio a uma multidão de beneficiados pela Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, assinada pela princesa quatro dias antes. A imagem impressiona pela nitidez dos rostos de escravos alforriados que, em primeiro plano, compartilham com senhores de cartola o mesmo território, tendo ao fundo a Redentora.
São da princesa Isabel, aliás, as imagens mais marcantes da exposição, que traz registros de descontração incomuns para uma família real, como o da imperatriz Teresa Cristina, sua mãe, fotografada por Revert Henry Klumb no Rio, em 1861, tendo ao fundo duas garotas sapecas escondidas atrás de uma coluna, justamente as princesas Isabel e Leopoldina. Mesmo no exílio, aos 64 anos, em 1919, a filha de D. Pedro II não parece capaz de guardar rancor por ter sido vítima de positivistas radicais, fazendeiros de caráter duvidoso e militares golpistas. Tampouco por ter sido espoliada (13 leilões dividiram os bens da Casa Imperial entre novos ricos). Na foto mais refinada da exposição, registrada em Paris, em 1910, ela esboça um sorriso sereno no estúdio de Boissonnas e Caponier. Dois anos antes de sua morte, fotografada (por Gavelle) ao lado do marido, o conde d"Eu, em seu castelo na Normandia, a princesa parece resignada com seu desterro. A foto é de 1919. Um ano depois, receberia com emoção a notícia de que a lei que baniu a família real - sem ter cometido nenhum crime para ser expulsa do País - havia sido revogada pelo presidente Epitácio Pessoa.
Dom João, que guardou essas imagens todos esses anos, acha difícil escolher uma predileta de seu álbum de família, mas lembra a importância de uma foto histórica como a da missa da Abolição. "É impressionante quando se reconhece na foto ampliada os rostos de figuras que marcaram a história, além da princesa Isabel", diz, citando o nome do engenheiro abolicionista André Rebouças, que partiu com a família imperial para o exílio, ele que solucionou o problema de abastecimento de água no Rio e criou um torpedo decisivo para o Brasil vencer a guerra contra o Paraguai (há, na mostra, uma foto do imperador Pedro II em traje de campanha, por ocasião da rendição de Uruguaiana em 1865). Rebouças partiu para África quando o imperador morreu, em 1891, apresentando sinais de perturbação emocional um ano depois.
Legalista. "D. Pedro II era um legalista, um homem que tinha profundo respeito pela Constituição, uma segunda religião para ele", comenta Dom João, sem pretender fazer da exposição um manifesto político, até mesmo porque, segundo ele, não são só imagens históricas que integram a mostra. "São também fotos de família, que mostram momentos de carinho, como o da princesa Isabel de mãos dadas com o conde D"Eu no castelo da Normandia."
O príncipe de Paraty cita ainda uma foto engraçada da imperatriz Teresa Cristina, de costas, em 1866, feita pelo fotógrafo Joaquim Carneiro. "É uma foto com frente e verso, coladas uma a outra, ousadia que nem o surrealista Dalí teria imaginado".
Visionário, o imperador Pedro II introduziu a fotografia no Brasil e fez fotos experimentais com o daguerreótipo, que comprou em 1840, antes mesmo desses aparelhos serem vendidos no Brasil. E incentivou todos os que se dedicaram, como ele, à fotografia.
"Julgamos que essa primeira exposição deveria destacar os retratos porque eles permitem uma leitura mais direta da família imperial, vista por fotógrafos que eram íntimos dela, como Marc Ferrez e Henry Klumb", diz o curador Sergio Burgi. De fato, a descontração de momentos como D. Pedro de Alcântara, D. Antonio Gastão e D. Luís, ainda crianças, numa carroça puxada por um carneiro, em 1883, só poderia mesmo ser captada por um fotógrafo como Ferrez.
Agraciado com o título de Cavaleiro da Ordem da Rosa, Ferrez é um dos destaques da mostra, captando momentos de privacidade nos palácios ou fora deles. Otto Hess é outro nome a ser lembrado, ele que fez talvez a última foto da família imperial antes de partir para o exílio, em 1889. Como sempre, D. Pedro II tem o olhar mais grave e a expressão mais tensa da família, como em todas as fotos da mostra. "É uma coleção que fala muito sobre personagens históricos, mas por meio de fotos íntimas, familiares, não pensadas para exposição pública", conclui Burgi.
RETRATOS DO IMPÉRIO E DO EXÍLIO
IMS. Rua Piauí, 844, 3825-2560. 13 h/19 h (sáb. e dom., 13 h/18 h; fecha 2ª). Grátis. Abertura hoje, às 19h30, para convidados.
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