Diante da incapacidade de
profissionais em trazer matérias interessantes e bem construídas, o
sensacionalismo continua a ser uma ferramenta de grande utilização por parte
das editoras e dos jornalistas na busca por maior venda. A revista IstoÉ Independente – que se define
com a mais combativa do país – em sua edição 2252, que chegará as bancas no dia
16 de janeiro, traz em suas páginas exemplo típico do uso deste recurso.
A revista traz mais uma matéria tendenciosa, intitulada “Santa Princesa Isabel?”, de João Loes,
desta vez atacando a Princesa Dona Isabel e o pedido de início de seu processo de
beatificação. Segundo a
publicação, a Arquidiocese do Rio de Janeiro está acuada entre grupos de
católicos que estão contra e os que estão a favor da beatificação da Princesa, sugerindo inclusive
que o Arcebispo Dom Orani está sendo pressionado a resolver a questão. Na
verdade, conforme já publicado no Blog Monarquia Já, Dom Orani já se manifestou
favoravelmente a respeito da beatificação, quando declarou: “eu recebi com
muita alegria o pedido para que nós começássemos a estudar a possibilidade de
encaminhamento da beatificação da Princesa Isabel. No Rio de Janeiro nós temos
um vigário episcopal para essa área [Vida Consagrada], é o Dom Roberto [Lopes].
A ele entreguei todo esse pedido. Ele está encarregado de levar a diante esse e
outros pedidos também… Já consultei o nosso coordenador arquidiocesano, nossos
bispos auxiliares para dar prosseguimento. Nós vamos precisar de algumas
licenças: de onde ela faleceu, onde está sepultada, para depois pedirmos em
Roma e abrirmos um processo. É um primeiro início. Vai haver também um estudo
de sua vida, virtudes, para ser levado a diante. Mas com muita alegria tentamos
responder a esse pedido que, se quiser a vontade de Deus, será bem encaminhado”,
o que pode ser visto novamente no link http://diasimdiatambem.com/2011/11/18/dom-orani-tempesta-falta-um-milagre-para-a-beatificacao-da-princesa-isabel/.
A Revista Ilustrada, em edição do início do século XX, retrata a Princesa Dona Isabel sendo cultuada pelos negros. A república e os "estóriadores" tentam apagar esta verdade
A partir da história inventada que a
república conta sobre Dona Isabel, a revista salienta de maneira incisiva, que
somente a Abolição da Escravatura não serve para canoniza-la. IstoÉ
Independente, na tentativa de desqualificar as ações de Dona Isabel, afirma que
a abolição foi uma consequência da ação de negros cativos e abolicionistas como
Joaquim Nabuco e Luiz Gama. Apesar das colocações da revista, a verdade atesta
o contrário. Comprovadamente, Dona Isabel era uma abolicionista convicta, como
a demostra seu incentivo ao Quilombo do Leblon e o constante patrocínio à
causa. Conforme Eduardo Silva, em trabalho realizado para a Fundação Casa de
Rui Barbosa, intitulado “As camélias do Leblon e a Abolição da
Escravatura”: "a Princesa Isabel
também protegia fugitivos em Petrópolis. Temos sobre isso o testemunho
insuspeito do grande abolicionista André Rebouças, que tudo registrava em sua
caderneta implacável. Só assim podemos saber hoje, com dados precisos, que no
dia 4 de maio de 1888, “almoçaram no Palácio Imperial 14 africanos fugidos das
Fazendas circunvizinhas de Petrópolis”. E mais: todo o esquema de promoção de
fugas e alojamento de escravos foi montado pela própria Princesa Isabel. André
Rebouças sabia de tudo porque estava comprometido com o esquema. O proprietário
do Hotel Bragança, onde André Rebouças se hospedava, também estava comprometido
até o pescoço, chegando a esconder 30 fugitivos em sua fazenda, nos arredores
da cidade. O advogado Marcos Fioravanti era outro envolvido, sendo uma espécie
de coordenador geral das fugas. Não faltava ao esquema nem mesmo o apoio de
importantes damas da corte, como Madame Avelar e Cecília, condessa da Estrela,
companheiras fiéis de Isabel e também abolicionistas da gema. Às vésperas da
Abolição final, conforme anotou Rebouças, já subiam a mais de mil os fugitivos
“acolhidos” e “hospedados” sob os auspícios de Dona Isabel".
Ademais, a história nos mostra que em datas
comemorativas, a Princesa mandava que escravos fossem alforriados. A revista “Aventuras da
História” da editora Abril, de maio de 2008, coloca que em 1885, por ocasião de
seu aniversário, muito escravos foram alforriados, recebendo o certificado de
liberdade das mãos da Princesa. Em sinal de gratidão, os libertos lhe davam um
beijo na mão. Segundo a reportagem: “a relação de afeto entre a mulher e os
negros começava a ser demonstrada publicamente”. A camélia passou a ser o
símbolo do abolicionismo e José Seixas de Magalhaes, português e idealizador do
Quilombo do Leblon, passou a fornecer as flores periodicamente ao Palácio
Laranjeiras, residência da Princesa Isabel.
A reportagem assenta-se em colocações de Mary
Del Priori, que afirma que “a emancipação foi resultado da luta desesperada dos
cativos, de suas rebeliões e do ódio aos seus senhores”, esquecendo-se que foi
do movimento abolicionista, bem como da corajosa atitude da Princesa regente,
que nasceu efetivamente a liberdade.
Mary Del Priori, na mesma linha de IstoÉ, sensacionalista, lançará, em
abril de 2013, seu novo romance. Suas obras se caracterizam pelo baixo teor
histórico, falta de fontes fidedignas e pela inexistente imparcialidade da
autora, sempre tendenciosa e inventiva.
O que a reportagem da IstoÉ Independente não menciona, é o fato de que tanto Joaquim Nabuco, monarquista histórico, quanto o
advogado Luiz Gama, eram tão abolicionistas quanto Dona Isabel. Estavam no
mesmo movimento e comungavam dos mesmos ideais. A favor da Princesa Dona
Isabel, para causa de sua beatificação, obviamente, não se deve contar apenas
com a assinatura da Lei Aurea. Esta ação foi apenas uma, das muitas que Dona
Isabel realizou em favor dos negros. O que deve constar em sua história,
sobretudo para comprovação das virtudes heroicas, é sua religiosidade, caridade
e o amor ao próximo, a expressão dos seus sentimentos de fé, esperança,
caridade, justiça. A riqueza de seus atos, representada na sua fortaleza, mesmo
diante de sua característica moderação. A santidade, como é sabido, está muito
além das atitudes políticas.
Tanto João Loes, autor da reportagem de IstoÉ
Independente, quanto Mary Del Priori, são vítimas de um sistema que há mais de
120 anos vigora no Brasil: a república; que desde seu início substitui os heróis
nacionais por criações e ensina nas escolas, através de seus livros didáticos, uma
estória repleta de mentiras e difamações. A Princesa Isabel, abolicionista e
essencialmente boa, foi substituída por Zumbi dos Palmares, comprovadamente
escravagista e opressor. Infelizmente, a cultura de ódio e desprezo que a república plantou contra o
Império, continua vigorando para os menos
informados.