Os Imperadores do Brasil
Desde a Independência, em 1822, até o golpe militar que instituiu a república, em 1889, o regime monárquico garantiu 67 anos de estabilidade ao país, com a Chefia de Estado executada por dois Imperadores. Conheça os Monarcas brasileiros, dos quais descendem a Família Imperial do Brasil:
O IMPERADOR DOM PEDRO I
No Brasil, Sua Majestade Imperial, o Senhor Dom Pedro I, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil
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Em Portugal, Sua Majestade Fidelíssima, D. Pedro IV, Rei de Portugal e Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.
Dom Pedro I (1798-1834) foi o primeiro Imperador do Brasil e Rei de Portugal.
Nasceu em de 12 de outubro de 1798 no Palácio Real de Queluz, Portugal, recebendo o nome de Pedro em homenagem a São Pedro de Alcântara.
Era o segundo filho mais velho de Dom João e Dona Carlota Joaquina, o quarto filho no geral, tornando-se o herdeiro de seu pai com o título de Príncipe da Beira, em 1801, após a morte de seu irmão mais velho D. Francisco Antônio.
Passou seus primeiros anos no Palácio de Queluz, cercado de governantas e professores. Entre seus mestres estavam Dr. José Monteiro da Rocha e Frei Antônio de Nossa Senhora da Salete. Aprendeu falar latim, francês e inglês.
No dia 29 de novembro de 1807, com a iminência da invasão de Lisboa pelas tropas de Napoleão, a família real portuguesa embarca para o Brasil, chegando à Bahia em janeiro de 1808. Em março, instala-se no Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista.
Frei Antônio de Arrábida tornou-se o principal mestre e confessor de Dom Pedro I.
Tinha aulas de pintura e música, aprendeu a compor e tocar pequenas peças. Dedicava-se também à equitação. Gostava da vida ao ar livre no palácio de São Cristóvão e na fazenda Santa Cruz.
Dom Pedro I teve formação musical bastante esmerada, tendo sido aluno de mestres como o Padre José Maurício Nunes Garcia, Marcos Portugal e Sigismund Neukomm. Tocava clarineta, fagote e violoncelo.
De Dom Pedro I se conhece uma Abertura, executada no Teatro Italiano de Paris (1832), um Credo, um Te Deum, o Hino da Carta, adotado posteriormente como Hino Nacional Português (até 1910), e o Hino da Independência do Brasil.
Em março de 1816, com a morte de sua avó, Dona Maria I, Dom Pedro torna-se Príncipe Real herdeiro de Dom João VI.
Depois de várias negociações diplomáticas, estava a caminho do Brasil a Arquiduquesa Carolina Josefa Leopoldina, filha do Imperador da Áustria.
Dona Leopoldina foi a escolhida para ser esposa de Dom Pedro. Casaram-se no dia 5 de novembro de 1817 e tiveram sete filhos.
"O Imperador Dom Pedro I" Óleo sobre tela de Pedro Américo, 1871 Acervo do Museu Nacional de Belas Artes |
Com o falecimento de Dona Leopoldina, em 1826, Dom Pedro veio a casar-se com Dona Amélia de Leuchtenberg, com quem teve uma filha.
Em 1820, Portugal passava por grave crise política e social. A Revolução Liberal do Porto se espalhou por todo país, e a constituição era a palavra de ordem.
Dom João VI retorna a Portugal em 26 de abril de 1821, ficando Dom Pedro como Príncipe Regente do Brasil. A corte de Lisboa despachou então um decreto exigindo que o Príncipe retornasse a Portugal.
O decreto vindo da corte provocou grande desagrado popular. Um abaixo-assinado com oito mil assinaturas foi levado a Dom Pedro, solicitando sua permanência no Brasil.
No dia 9 de janeiro de 1822, cedendo às pressões, Dom Pedro declara: "Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto. Diga ao povo que fico". O dia do Fico era mais um rompimento com Portugal.
A atitude de Dom Pedro desagradou a Corte Portuguesa, que suspendeu o pagamento de seus rendimentos. José Bonifácio foi escolhido para chefiar seu novo ministério.
Com a popularidade cada vez mais em alta, quando viajava de Santos para a capital paulista, recebeu uma correspondência de Portugal, comunicando que fora rebaixado da condição de regente a mero delegado das cortes de Lisboa.
O Grito da Independência
Em 7 de setembro de 1822, junto ao riacho do Ipiranga, Dom Pedro rompeu definitivamente com Portugal com o histórico brado de "Independência ou morte!".
De volta ao Rio de Janeiro, Dom Pedro foi proclamado Imperador Constitucional do Brasil. A cerimônia teve lugar no Campo de Santana.
"Sagração de D. Pedro I em 1822" Óleo dobre tela de Jean Baptiste Debret Acervo do Museu Nacional de Belas Artes |
No dia 1º de dezembro, recebeu a Coroa Imperial. Em 1823, a Assembleia Constituinte iniciou suas atividades. Dos noventa deputados, muitos não compareciam. A redação da Carta Magna era lenta. Insatisfeito, Dom Pedro dissolve a Constituinte e cria um Conselho de Estado para redigir a Constituição, que foi promulgada no dia 25 de março de 1824.
Em meio a dificuldades financeiras e várias rebeliões localizadas, instalou a Câmara e o Senado vitalício, em 1826, porém um fato provocou desconforto geral e o seu declínio político no Brasil.
Com a morte de D. João VI, em 1826, decidiu assumir, como herdeiro do trono português, o poder em Lisboa como Pedro IV, 27º rei de Portugal.
Dom Pedro foi a Portugal e, constitucionalmente não podendo ficar com as duas coroas, instalou no trono sua filha primogênita, Maria da Glória, como Rainha de Portugal, nomeando como regente seu irmão, Dom Miguel.
Porém, sua indecisão entre o Brasil e Portugal contribuiu para minar sua popularidade, somando-se a isto o fracasso militar na Guerra da Cisplatina (1825-1827).
Os constantes atritos com a assembleia, o seu relacionamento extraconjugal (1822-1829) com Domitila de Castro, a quem fez Viscondessa e depois Marquesa de Santos, o constante declínio de seu prestígio e a crise provocada pela dissolução do gabinete, após quase nove anos como Imperador do Brasil, abdicou do trono, no dia 7 de abril de 1831, em favor de seu filho Pedro, então com cinco anos de idade.
Voltando a Portugal, com o título de Duque de Bragança, assumiu a liderança da luta para restituir à filha Maria da Glória o trono português, que havia sido usurpado pelo seu irmão, Dom Miguel, travando uma guerra civil que durou mais de dois anos. Inicialmente criou uma força expedicionária nos Açores (1832), invadiu Portugal, derrotou o irmão, restaurando o trono de sua filha.
Dom Pedro I morreu de tuberculose, no palácio de Queluz, no dia 27 de setembro de 1834. Foi sepultado no Panteão de São Vicente de Fora, como simples general e não como rei, como determinava seu testamento.
Seus restos mortais estão localizados tanto em Portugal, onde está seu coração em relicário na Igreja de Nossa Senhora da Lapa, desde 1835, como no Brasil.
No Sesquicentenário da Independência do Brasil, em 1972, após um acordo diplomático entre Brasil e Portugal, seus restos mortais foram trasladados para a Cripta do Monumento do Ipiranga, na Cidade de São Paulo.
AS DUAS ESPOSAS DO IMPERADOR DOM PEDRO I
Imperatriz Dona Leopoldina
Na Áustria, Sua Alteza Imperial e Real, a Arquiduquesa Leopoldina da Áustria, Princesa da Hungria, Boêmia, Croácia e do Reino Lombardo-Vêneto
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No Brasil, Sua Majestade Imperial, a Imperatriz do Brasil
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Em Portugal, Sua Majestade Fidelíssima, a Rainha de Portugal
O ano de 1997 assinalou o bicentenário do nascimento daquela que foi a primeira Imperatriz do Brasil, Dona Carolina Josefa Leopoldina.
As numerosas e justas comemorações ocorridas ao longo do ano realçaram o vulto de D. Leopoldina, resgatando-o do esquecimento no qual infelizmente foram colocados tantos e tantos de nossos maiores.
Dando-se por inteiro à terra à qual a conduziram os desígnios da Providência, ela secundou e incentivou seu augusto esposo, o futuro Imperador D. Pedro I, nos passos e decisões de que resultou nossa soberania plena.
E bem exatamente foi uma carta sua, com o relato comentado das últimas notícias do Rio de Janeiro e da Corte portuguesa, que inspirou ao Príncipe Regente o histórico Brado do 7 de Setembro.
"Maria Leopoldina da Áustria, Imperatriz do Brasil" Óleo sobre tela de Joseph Kreutzinger, 1815 Acervo do Palácio de Schönbrunn, Áustria |
Muito justamente, pois, a esposa de nosso primeiro Imperador pode ser aclamada como Mãe dos Brasileiros.
Necessitaríamos hoje de figuras como a de D. Leopoldina!
Nossas presentes incertezas, exigências e responsabilidades excedem muito aquelas que em 1822 tocavam aos brasileiros.
Diante das apreensões e desatinos de um mundo que parece desfazer-se entre desabamentos sucessivos e enganosas fulgurações, o Brasil precisa imperiosamente reencontrar as vias indicadas por suas tradições católicas.
Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão de Natal de 1997 de Dom Luiz de Orleans e Bragança).
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Trechos das resoluções pessoais da jovem D. Leopoldina.
Desde o despertar, o meu primeiro pensamento será a lembrança da presença de Deus; minhas primeiras palavras serão: Ó Santíssima e adorável Trindade, eu Vos dou meu coração e minha alma, adoro-Vos com todos os coros dos Anjos. Ó Jesus, meu Salvador, tende piedade de mim!
Longe de mim os gastos inúteis, o luxo pernicioso, os adereços indecentes, as vaidades mundanas e as vestes escandalosas. Minha virtude tão necessária será sempre a modéstia, para conservar a pureza de meu coração, sem a qual não poderei agradar a Deus.
Lembrar-me-ei frequentemente das promessas que fiz no dia de meu casamento diante da Igreja e das obrigações que contraí. Guardarei inviolavelmente a fidelidade devida a meu esposo.
"Leopoldina, Imperatriz consorte do Brasil" Retrato por Luís Schlappriz. Acervo do Museu do Estado de Pernambuco. |
Se a Providência me favorecer dando-me filhos, guardá-los-ei como como um penhor precioso do céu que Deus pedirá um dia de minhas mãos. Terei cuidado de lhes dar uma educação esmeradamente cristã, e tratarei sempre de lhes imprimir o respeito que os filhos devem aos pais.
Longe de mim todo o ar de arrogância e de soberba; serei grave e modesta em todos os sentidos, honesta, suave, afável e polida com os grandes e pequenos.
Aceitarei todas as penas e aflições como vindas da mão de Deus, unindo-as aos sofrimentos de Jesus Cristo; sem falar delas a não ser com Jesus e com meu confessor.
(Excerto do Cartão de Natal de 1997 de Dom Luiz de Orleans e Bragança).
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Há 180 anos, Dona Leopoldina, Regente do Brasil na ausência do Príncipe Dom Pedro, assinava a 2 de setembro a ata da Reunião do Conselho de Estado em que se decidiu nossa Independência.
Essa jovem Princesa, vinda dos esplendores da corte imperial de Viena, entendeu e amou profundamente a vocação extraordinária da Pátria que adotara.
Ao firmar com os ministros de Estado a decisiva deliberação que cinco dias depois seu Esposo chancelaria e converteria em realidade no histórico brado do Ipiranga, ela por certo intuía tudo quanto de grandioso estava reservado à Terra de Santa Cruz.
Grandeza que só poderia estar na linha do desenvolvimento da semente de civilização aqui plantada pela ação missionária e colonizadora de Portugal, e que deveria desabrochar no futuro para formar um grande Império, todo ele pacífico, benfazejo e enriquecedor para outras nações da terra, pelo pleno aproveitamento dos quase infindos recursos naturais de que a Providência o dotara e, principalmente, pelo luzir cristão da alma de seu povo.
Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão de Natal de 2002 de Dom Luiz de Orleans e Bragança).
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No ano de 2017, deu-se a coincidência de efemérides centenárias da maior importância para o Brasil e para o mundo. Dentre elas o casamento, faz 200 anos, do Príncipe Real D. Pedro com a Arquiduquesa D. Leopoldina, que viriam a ser nossos primeiros Imperadores.
Assente, já no Congresso de Viena, o reconhecimento do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, impunha-se assegurar, para o herdeiro do Príncipe Regente D. João, uma união à altura do novo patamar a que se elevara a dinastia lusa.
D. João apontou alto: deveria vir da Casa d’Áustria a escolhida. Mas não era indiferente ao Império austríaco a pretensão: "bella gerant alii, tu felix Austria nube" (guerras, que outros as façam; tu, Áustria feliz, casa-te), rezava o adágio vienense.
Incumbido das tratativas e com precisas instruções de D. João, o Marquês de Marialva firmou com o Príncipe de Metternich, em novembro de 1816, um contrato nupcial muito conveniente às duas partes.
A Família Imperial austríaca em 1805, por Joseph Kreutzinger Porträt der Familie des österreichischen Kaisers, c. 1805 Dona Leopoldina é a penúltima, sentada, da esquerda para direita |
O novel Reino Unido se associava à Casa dos Habsburgos, equilibrando assim a influência britânica, e por sua vez a Áustria lograva projeção num Novo Mundo que se destacava da velha Europa.
D. Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena recebeu a educação primorosa e requintada que preparava as arquiduquesas para as mais exigentes alianças.
A isso presidia a Fé católica e se acrescentava a formação do caráter, expressa nos “Propósitos” por ela assumidos ainda bem jovem.
Estabelecido seu destino empenhou-se no estudo das coisas de sua futura Pátria, o Brasil, e incorporou a seu nome o “Maria” tão costumeiro no mundo português.
O casamento, por procuração, foi celebrado pelo Arcebispo de Viena no dia 13 de maio de 1817, na Igreja de Santo Agostinho, Capela Imperial, sendo D. Pedro representado pelo tio de D. Leopoldina, o Arquiduque Carlos.
Ponto culminante das cerimônias, a esplendorosa recepção oferecida por Marialva no Augarten de Viena marcou época, sendo até hoje corrente entre os vienenses a expressão “casamento brasileiro" para rotular um enlace particularmente faustoso.
Depois de longa viagem e em meio a jubilosa expectativa, D. Leopoldina chegou ao Rio de Janeiro no dia 5 de novembro, conhecendo então seu marido, ele contando 19 anos, ela 20. No dia seguinte receberam a Bênção Nupcial, e a capital brasileira teve três dias de brilhantes festejos.
D. Pedro, voluntarioso, generoso, não precisamente mortificado, sinceramente religioso nos grandes momentos, encontrou na preparada e piedosa Arquiduquesa providencial complementação.
Já Princesa Real, o devotamento de D. Leopoldina ao esposo foi inteiro, dando-lhe sete filhos nos nove anos de casamento, quatro dos quais chegaram à idade adulta e dois reinaram: D. Maria II em Portugal e D. Pedro II no Brasil; este, soma feliz das qualidades das duas dinastias e o maior dos governantes brasileiros.
Aplicando-se desde logo à sua nova condição, fez-se benquista em todos os níveis e logrou verdadeira popularidade, que, em aumento constante, viria a tornar-se geral veneração no final de seus dias, em 1826.
Com a volta de D. João VI a Portugal em 1821 por exigência das Cortes, D. Leopoldina envolveu-se paulatinamente nos assuntos de governo, secundando D. Pedro, agora Príncipe Regente, nas decisões a tomar.
Seu discernimento das linhas mestras da política nacional, daquilo que estava em jogo, é hoje largamente reconhecido por historiadores.
Três vezes Regente em ausências prolongadas de D. Pedro, ante a ameaça de um retorno do Brasil à condição anterior e o consequente confronto entre “portugueses” e “brasileiros”, D. Leopoldina sustentou firmemente, em colaboração com o grande José Bonifácio, a preservação da soberania nacional.
Foi decisiva sua intervenção para o “Fico”.
E face ao ultimato das Cortes portuguesas exigindo o imediato embarque de D. Pedro, presidiu, como Regente, a reunião do Conselho de Estado de 2 de setembro de 1822 que deliberou a independência do Brasil.
A ata da reunião, firmada por ela e logo enviada ao marido, na Província de São Paulo, ia acompanhada da exortação: “Pedro, o pomo está maduro, colhe-o agora ou apodrecerá”.
O Grito do Ipiranga, no dia 7, seria a culminação desse processo, assegurando, com a soberania, a integridade de nosso imenso território, que pedia como corolário lógico, embora não automático, o reconhecimento do estatuto imperial.
Eficazmente reivindicado por D. Pedro junto à Santa Sé e às Coroas europeias, para tal reconhecimento foi determinante a anuência obtida por D. Leopoldina de seu pai o Imperador Francisco I.
Estava concluída a obra da Independência.
Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão de Natal de 2017 de Dom Luiz de Orleans e Bragança).
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Participação decisiva da Imperatriz Leopoldina na nossa Independência
A atitude de D. Leopoldina, defendendo os interesses brasileiros, acha-se eloquentemente estampada na carta que escreveu a D. Pedro I, por ocasião da Independência do Brasil:
É preciso que volte com a maior brevidade. Esteja persuadido de que não é só o amor que me faz desejar mais que nunca sua pronta presença, mas sim as circunstâncias em que se acha o amado Brasil. Só a sua presença, muita energia e rigor podem salvá-lo da ruína”.
Dentre as influências que recebeu D. Pedro I, conduzindo-o a proclamar a Independência, destaca-se a da Imperatriz.
A convivência diária com D. Leopoldina ampliava muito o horizonte de D. Pedro I, que escutava atento, com interesse, o que ela contava de sua terra natal, da corte vienense, de Napoleão, da política e história europeias, dos monarcas no Velho Mundo, etc.
A cultura de D. Leopoldina impressionava D. Pedro. Era o meio que lhe garantira, após conquistar a confiança do marido, uma ascendência crescente sobre o seu irrequieto espírito.
Os historiadores reconhecem a grande participação que teve D. Leopoldina nos acontecimentos que prepararam a Independência.
São expressivos os textos de algumas das cartas que ela escreveu nos dias ansiosos que precederam o 7 de setembro de 1822:
“Fiquei admiradíssima quando vi de repente aparecer meu esposo, ontem à noite. Ele está mais bem disposto para os brasileiros do que eu esperava, mas é necessário que algumas pessoas influam mais, pois não está tão positivamente decidido como eu desejaria.
Dizem que as tropas portuguesas o obrigarão a partir. Tudo então estaria perdido, e torna-se necessário impedi-lo. Os ministros vão ser substituídos por filhos do País, que sejam capazes. Muito me tem custado alcançar tudo isso. Só desejaria insuflar uma decisão mais firme”.
Vasconcelos Drummond, amigo dos Andradas e participante direto dos acontecimentos, afirma:
“Fui testemunha ocular, e posso asseverar aos contemporâneos que a Princesa Leopoldina cooperou vivamente, dentro e fora do País, para a Independência do Brasil. Debaixo desse ponto de vista, o Brasil deve à sua memória gratidão eterna”.
Mulher superior ao seu tempo, D. Leopoldina trouxera para o Brasil missões científicas, prestigiara a vinda de sábios, tais como Emanuel Pohl e von Martius, que pode ser considerado como o primeiro estrangeiro a revelar à Europa o Brasil.
Dom Pedro I lançara, na colina do Ipiranga, o grito famoso que fez independente o Brasil. Dias depois, nos salões repletos do Paço, reclamava ele que lhe trouxessem fitas verdes, pois queria que todos usassem o laço das cores representativas do Brasil livre.
Vendo que ainda faltavam alguns distintivos, voltou-se alegremente para Dona Leopoldina, perguntando-lhe: — Não haverá mais fitas verdes no palácio?
Sorrindo, ela respondeu que não; mas, ainda assim, dirigiu-se aos seus aposentos, para mais uma busca. Abriu e remexeu quantas gavetas encontrou, mas nada de fitas verdes.
Já desanimava, e dispunha-se a voltar ao salão com as mãos vazias, quando seus olhos caíram sobre o leito, cujas fronhas ostentavam, a correr pelos ilhoses do bordado, fitas da cor procurada.
Não se deteve a pensar. Arrancou-as todas e voltou ao salão, ruborizada e feliz, para distribuir os distintivos. Em seu entusiasmo, exclamou: — Não havia mais fitas verdes, mas arranquei as dos travesseiros de minha cama!
Imediatamente, sentindo o silêncio que se fizera, corou. Viu que ninguém se sentia digno da honra de tais distintivos. No meio daquela indecisão, o primeiro a dar um passo para a frente foi Antônio de Menezes Vasconcelos Drummond.
Dona Leopoldina estendeu para ele a mão, que segurava um laço verde. E sobre aquela mão e aquele laço se inclinou a cabeça do patriota, que beijou os dedos de Leopoldina, exclamando: — Obrigado, Majestade!
Era a primeira vez que se dava a Dona Leopoldina esse título.
A Imperatriz Leopoldina, modelo de vida familiar e cristã
Francisco I, pai da Imperatriz Leopoldina, fez chegar a D. Pedro I, por intermédio da embaixada austríaca, estas recomendações:
“Recomendo-vos que peçais ao meu genro que faça respeitar a Religião e promover os bons costumes. Se tomar estes conselhos, não é necessário preocupar-se com constituições. Esta é a melhor constituição, a constituição prática. As outras são teorias impraticáveis e quiméricas”.
Narra Vasconcelos Drummond que, já em 1824, a tropa pretendia forçar a abdicação de D. Pedro I, e só a veneração que tinham à Imperatriz Leopoldina é que pôde demovê-los do seu intento. Foi então que lhe ofereceram secretamente a coroa, ao que ela respondeu: — Sou cristã, e dedico-me inteiramente ao meu marido, aos meus filhos. Antes de consentir num semelhante ato, eu me retirarei para a Áustria.
A primeira tentativa de uma colonização não portuguesa, baseada na pequena propriedade, foi formada em Nova Friburgo, em 1819, com suíços de língua francesa e alemã, e reforçada posteriormente por alemães. Fracassou em consequência de o terreno ser pouco favorável, da falta de habilitação dos imigrantes para a agricultura, e de boas comunicações com a capital.
Muitos colonos transferiram-se para o Rio, fomentando o artesanato local, ou alistaram-se nos corpos estrangeiros, enquanto as mulheres trabalhavam como enfermeiras ou empregadas. Muitas famílias chegaram ao extremo da miséria, tanto que as crianças saíam a pedir esmolas pelas ruas.
D. Leopoldina esvaziou várias vezes seus cofres pessoais para acorrer às viúvas e aos órfãos. Era este um dos motivos pelos quais ela se viu moralmente obrigada a contrair dívidas secretamente, para poder socorrer os necessitados.
A Imperatriz Leopoldina não se interessava por roupas caras e enfeites, mas era uma inveterada gastadora, pois seu bom coração a levava muitas vezes a distribuir esmolas da sua própria dotação a todos os que sofriam e vinham apelar para a sua magnanimidade. Com isso ela gastava mais do que podia.
Quando morreu, em 1826, verificou-se que tinha algumas dívidas, decorrentes de suas obras de caridade. A Assembleia Legislativa sentiu-se honrada em mandar efetuar o pagamento desses débitos deixados pela Imperatriz.
(Excerto do livro Revivendo o Brasil Império, de Leopoldo Bibiano Xavier).
A Imperatriz Dona Amélia
Na França, Sua Sua Alteza Imperial, a Princesa Amélia de Beauharnais,
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Na Alemanha, Sua Alteza Real, a Princesa Amélia de Leuchtenberg
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No Brasil, Sua Majestade Imperial, a Imperatriz do Brasil
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Em Portugal, Sua Majestade Imperial, a Imperatriz Dona Amélia, Duquesa de Bragança
Dona Amélia, nossa segunda Imperatriz, teve fugaz passagem na História do Brasil, mas deixou nela bela e perfumada marca.
A perda prematura de D. Leopoldina levara D. Pedro I a buscar nas Cortes europeias uma nova consorte, encontrada por seus enviados nessa princesa bávara de 17 anos, que ao nome ilustre de Leuchtenberg somava os predicados de virtude e formosura.
Chegada ao Rio de Janeiro em 16 de outubro de 1829, D. Amélia, no dia imediato, recebia com o Imperador a bênção nupcial e era apresentada aos quatro filhos que ele dera a D. Leopoldina.
Cheia de afeto, a nova Imperatriz cobriu de abraços carinhosos aquelas crianças que recebia como suas.
Dois anos depois, porém, D. Pedro I abdicava, na fundada esperança de assegurar, em torno da pessoa de seu filho, a unidade do novo Império.
Dona Amélia perdia assim, de um golpe, a situação de Imperatriz, a Pátria e os filhos que adotara.
O devotamento de D. Amélia a D. Pedro, nas vicissitudes que se seguiram, até sua morte em 1834, o benéfico influxo de sua firmeza de caráter sobre o impulsivo esposo, a dedicação à única filha de ambos, D. Maria Amélia, até a morte precoce dela aos 22 anos, o recolhimento austero que se impôs depois no Paço das Janelas Verdes, em Lisboa, já não são partes das Histórias do Brasil, mas fazem pensar no espaço que ela teria ocupado, e no bem que teria feito, se aqui tivesse podido permanecer.
Fez questão de se fazer tratar, até sua morte, aos 61 anos, como “Imperatriz Viúva do Brasil”.
Solenemente trasladados para o Brasil, em 1982, seus restos repousam junto aos de D. Pedro I e de D. Leopoldina, no Monumento do Ipiranga.
Nos tempos turvos nos quais vivemos, em que o Brasil repetidamente é convidado a renunciar à sua identidade, em aras de modelos pretensamente novos, é sempre benéfico recordar exemplos de bondade, de dignidade e de limpidez, como os de Dona Amélia, engendrados pela influência milenar da civilização cristã.
Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão Comemorativo dos 180 anos do Casamento de D. Pedro I com D. Amélia).
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Firmeza de atitudes da jovem Imperatriz Da. Amélia
No Palácio de São Cristóvão, depois da bênção de núpcias de D. Pedro I com Da. Amélia de Leuchtenberg, o Imperador lhe apresentou os seus filhos.
Com afetuosidades de comover, D. Amélia cobriu de abraços carinhosos, maternalmente, as princesinhas e o príncipe herdeiro.
De repente, D. Pedro lembrou-se de sua filha adulterina, e pediu à Marquesa de Itaguaí:
— Minha boa Francisca, vá buscar a duquesinha de Goiás.
Aquela ordem foi um choque. Da. Amélia estremeceu. Secou-lhe bruscamente o sorriso nos lábios. Com voz firme, fitando o Imperador nos olhos, disse:
— Majestade! Poupe-me a dor dessa apresentação. Eu quero ser mãe dos filhos de D. Leopoldina. Mas unicamente dos filhos de D. Leopoldina. Eu não quero conhecer – nem sequer conhecer! – a filha bastarda da Marquesa de Santos. Peço a Vossa Majestade, portanto, que faça retirar imediatamente essa menina do Paço. É o primeiro pedido, senhor D. Pedro, que a Imperatriz faz ao Imperador.
Sem esperar resposta, incisiva e decidida, ordenou:
— Marquesa, vá avisar às açafatas que a Duquesa de Goiás deve sair já deste Paço. Que preparem as malas.
Atônita, D. Francisca não sabia o que fazer. Olhou para D. Pedro, suplicando uma decisão. D. Pedro balbuciou apenas:
— Cumpra as ordens da Imperatriz, Marquesa.
***
Francisco Gomes da Silva, conhecido como “Chalaça”, era um indivíduo de péssimos costumes, e exerceu funesta influência sobre o Imperador D. Pedro I.
Durante algum tempo, seu poder no Paço era quase absoluto. Era necessário removê-lo, mas ninguém se sentia com ascendência para pedir isso ao Imperador.
O Marquês de Barbacena, chamado ao Paço, ouviu de D. Pedro:
— Meu Barbacena, o Chalaça, como Vossa Excelência sabe, tem trabalhado com afinco nos meus negócios particulares. É de uma dedicação rara. Eu preciso, portanto, dar uma prova de amizade a ele. Vossa Excelência conhece a paixão que ele tem por dignidades. Vamos, por conseguinte, satisfazer-lhe a vaidade. Mande lavrar um decreto concedendo-lhe o título de marquês.
— Marquês?! O Chalaça?!
— Sim, meu Barbacena. E por que não?
— Perdão, Majestade, mas é necessário ponderar um pouco. Esse decreto é uma temeridade. É um ato comprometedor. Fazer do nosso vulgaríssimo Chalaça um marquês, é graça verdadeiramente escandalosa. Vossa Majestade vai irritar o País com tão acintosa mercê. Como Primeiro Ministro, não referendo esse decreto.
— Não referenda?
Em 17 de outubro de 1829, o Imperador Dom Pedro I e a Imperatriz Dona Amélia recebem a bênção nupcial na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé.
"Segundo casamento de S.M.I. Dom Pedro I" Óleo sobre tela de Jean-Baptiste Debret, 1829 Second marriage de S.M.I. D. Pedro I er Imagem pública |
— Não! Não referendo. E digo mais. Se Vossa Majestade quiser conservar-me no Ministério, há de fazer a mim esta mercê, que reputo essencial à moralidade e ao prestígio do Trono: despedir o Chalaça. Mandar o Chalaça embora do Brasil.
Nisto, abre-se a porta e entra no salão Da. Amélia.
Logo D. Pedro lhe comunica, risonho:
— Sabe? Aqui o Barbacena está me pedindo uma graça incrível.
— Uma graça? Então é necessário concedê-la já. Não se pode negar coisa alguma ao nosso Barbacena.
— Mas é preciso ver o que pede o Barbacena...
— Que há de ser, meu Deus?!
— Um disparate! A saída do Chalaça do Brasil.
D. Amélia toma então ares sérios. Pensativa e grave, diz:
— O nosso Marquês tem razão. Esse homem precisa sair do Império.
— Que diz a minha Imperatriz?
— Digo que o Chalaça precisa sair daqui.Vossa Majestade perdoe, mas eu digo mais: esse tipo é abominável. Eu o detesto, e detesto-o porque ele desmoraliza o Paço. Porque prejudica o Império. Porque impopulariza o regime. Porque compromete Vossa Majestade.
A Imperatriz e o Primeiro Ministro foram implacáveis. Ao final, cedendo às evidências, D. Pedro decidiu conceder ao Chalaça uma missão diplomática em Nápoles.
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(Excerto do livro Revivendo o Brasil Império, de Leopoldo Bibiano Xavier).
O IMPERADOR DOM PEDRO II
Sua Majestade Imperial, o Senhor Dom Pedro II, Pela graça de Deus, e unânime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil
Sua Majestade Imperial, o Senhor Dom Pedro II, Pela graça de Deus, e unânime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil
No dia 2 de dezembro do ano de 1825 no Palácio da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro nasceu o segundo Imperador do Brasil.
Dom Pedro II aos 10 meses de idade Imagem pública |
Sétimo filho e terceiro varão de D. Pedro I e da Imperatriz D. Maria Leopoldina, que faleceu quando D. Pedro II tinha apenas um ano de idade.
Herdou o direito ao trono com a morte de seus irmãos mais velhos Miguel e João Carlos.
Tinha 5 anos quando o pai abdicou e ficou no Brasil sob a tutela de José Bonifácio de Andrade e Silva e, depois (1833-1840) sob a tutela de Manuel Inácio de Andrade Souto Maior, Marquês de Itanhaém.
Durante sua menoridade o Brasil foi dirigido por uma Regência. Começou a estudar sob a orientação da camareira-mor D. Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho, mais tarde condessa de Belmonte.
Foi aclamado segundo imperador do Brasil, aos seis anos de idade e assumiu o trono aos 15 anos (18/06/1841), um ano depois de ser declarado maior e começar a reinar.
"O ato de Coroação de Dom Pedro II" Óleo sobre tela de François-René Moreau, 1842 Acervo do Museu Imperial de Petrópolis |
Com diversos mestres ilustres de seu tempo, o jovem imperador instruiu-se em português e literatura, francês, inglês, alemão, geografia, ciências naturais, música, dança, pintura, esgrima e equitação.
A um de seus preceptores, o de português e literatura, Cândido José de Araújo Viana, futuro Marquês de Sapucaí, atribui-se influência não pequena nas atitudes resolutas do jovem de apenas 15 anos.
Quando da revolução da Maioridade, por exemplo, ao receber a delegação parlamentar que lhe fora indagar se desejava esperar mais três anos ou assumir desde logo o poder, respondeu: "Quero já!".
No dia 30 de maio do ano de 1843, D. Pedro II casou-se com a Princesa napolitana Teresa Cristina Maria de Bourbon, filha de Francisco I, do Reino das Duas Sicílias.
Dom Pedro II foi pai de quatro filhos, mas só dois sobreviveram: as Princesas Isabel e Leopoldina.
No seu reinado o Brasil teve um grande desenvolvimento, progrediu enormemente no campo social. No início de seu governo fez viagens diplomáticas às províncias mais conflituosas.
Interessado pelas letras e pelas artes, manteve correspondência com cientistas europeus, entre eles Pasteur e Gobineau, sempre protegendo os intelectuais e escritores.
Durante seu reinado, percorreu quase todo o Brasil, viajou para várias partes do mundo, visitando a América do Norte, a Rússia, a Grécia e vários outros países da Europa e Oriente Médio (1871-1887), procurando trazer para o Brasil várias inovações tecnológicas.
O Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Dona Teresa Cristina, em 1871, diante das mais famosas pirâmides do Egito Coleção da Família Imperial Brasileira |
Apoiado pelo partido Conservador, criou o Conselho de Estado e a reforma do código de processo criminal, o que provocou a revolta dos Liberais (1842), em Minas Gerais e São Paulo, contornada só após o final da guerra dos Farrapos (1845). Em consequência desse feito, surgiu a Insurreição Praieira (1848), em Pernambuco.
Em virtude destas revoltas iniciou um amplo trabalho de conciliação política apartidária, nas nomeações dos integrantes do Conselho de Estado e dos Presidentes de Província, sob a coordenação do Marquês de Paraná, Honório Hermeto Carneiro Leão.
O Marquês de Paraná dobrou a resistência do Partido Conservador, que culminou com a criação da Liga Progressista (1860), que, reduzindo os membros conservadores, permitiu a Zacarias de Góis e Vasconcelos, à frente do Conselho de Ministros, realizar importantes reformas no final do período.
Neste período, importantes acontecimentos sociais e econômicos ocorreram, como o declínio do escravismo, sobretudo a partir de 1850, com a extinção do tráfico negreiro e a contratação dos ingleses (1850), para elaborarem e implantarem sistemas de esgotamento para o Rio de Janeiro e São Paulo, à época, as principais cidades brasileiras.
Com o final da guerra do Paraguai (1870), os conservadores estavam novamente fortalecidos e as divergências políticas mais agudas, o que fez surgir o Partido Republicano (1870), dando início a decadência política do Império.
Na questão religiosa (1872), foram presos os bispos D. Vital e D. Macedo Costa, por desafiarem o poder central. Julgados e condenados pelo Supremo Tribunal (1875), foi-lhes concedida a anistia.
Na sua última viagem ao exterior como Imperador (1887), com muitos problemas de saúde, visitou a França, Alemanha e Itália (1887) e, em Milão, foi acometido de uma pleurisia e levado para Aix-les-Bains, onde permaneceu em tratamento, antes de poder voltar ao Brasil (1888).
Na sua ausência, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, sancionada a 13 de maio de 1888, determinando o encerramento de mais um ciclo econômico e acelerando também o fim do regime político.
Com o golpe de 15 de novembro de 1889, Dom Pedro II foi feito prisioneiro do Paço da Cidade, para onde viera, descendo de Petrópolis.
"Dom Pedro II na Abertura da Assembléia Geral" Óleo sobre tela de Pedro Américo, 1872 Acervo do Museu Imperial do Petrópolis |
O governo provisório deu-lhe 24 horas para deixar o país, e assim, partiu com a família para Portugal em 17 de novembro, chegando a Lisboa em 7 de dezembro de 1889.
Seguiu para a cidade do Porto, onde a Imperatriz Teresa Cristina veio a falecer no dia 28 de dezembro de 1889.
Viveu então entre Cannes, Versalhes e Paris, onde assiste a espetáculos de arte e participa de palestras e conferências.
Viveu até 66 anos, morrendo de pneumonia, no modesto Hotel Bedford, em Paris, no dia 5 de dezembro do ano de 1891.
Seus restos, transladados para Lisboa, foram colocados no convento de São Vicente de Fora, junto aos da esposa.
Revogada a lei do banimento (1920), foram os despojos dos imperadores trazidos para o Brasil.
Depositados de início na catedral do Rio de Janeiro (1921), foram transferidos para a de Petrópolis (1925) e definitivamente enterrados (1939).
O ilustre governante passou à história como um intelectual, apreciador da ciência, das artes e da liberdade de informação e como homem tolerante, aberto ao diálogo e às transformações da vida social.
A Imperatriz Dona Teresa Cristina
No Reino das Duas-Sicílias, Sua Alteza Real, a Princesa Teresa Cristina das Duas Sicílias
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No Brasil, Sua Majestade Imperial, a Imperatriz do Brasil
Se o Brasil deve a D. João VI as sábias decisões que tornaram possível nossa soberania, e a D. Pedro I sua resoluta concretização, a D. Pedro II deve sobretudo a fixação dos padrões da monarquia brasileira, que nortearam o Segundo Reinado e permaneceram vivos na memória nacional.
Padrões – hauridos da tradição cristã do Ocidente – todos feitos de honra, de respeitabilidade, de venerabilidade, que dimanavam do Imperador pairante sobre as contingências da esfera política e marcavam profundamente a vida da Nação.
Nessa obra foi fundamental a parte de minha trisavó, a Imperatriz D. Teresa Cristina.
A essa Princesa da Casa de Bourbon-Duas Sicílias nascida em Nápoles a 14 de março de 1822, filha do Rei Francisco I e da Rainha D. Maria Isabel, tocou a sorte que pelo casamento tão frequentemente cabe a Princesas: ir para terras distantes, para um país desconhecido que deve adotar como próprio e com o qual se identificará.
O retrato da família de Francisco I Il Ritratto della famiglia di Francesco I Óleo sobre tela de Giuseppe Cammarano Acervo do Museu Nacional de Capodimonte |
Seu matrimônio não obedeceu aos ditames românticos tão ao gosto do século XIX. Mas os fatos mostraram que aquela foi uma aliança acertada para o Brasil.
Por suas qualidades de alma e seu temperamento D. Teresa Cristina conquistou o Imperador e os brasileiros: inteligente, sensível, com primorosa formação clássica e artística, era consorte bem à altura do erudito esposo; afável, benevolente, religiosa, com discreta nota de dama sofredora, compunha com D. Pedro II o par régio que verdadeiramente inspirava a vida nacional, tanto pública quanto familiar.
Acompanhou sempre o Imperador em suas muitas viagens e tornou-se em extremo querida pela população, ficando conhecida como "a Mãe dos brasileiros".
Toda mãe sofre ao ser apartada dos filhos e da casa.
Assim foi notadamente com D. Teresa Cristina após 46 anos de doação à terra que adotara.
Abalada a fundo com a derrubada do Trono e a inclemência do desterro, sua saúde declinou rapidamente durante a viagem para o exílio, vindo a falecer a 28 de dezembro de 1889 em modesto hotel na cidade do Porto.
À Baronesa de Japurá confiou suas últimas palavras: "Não morro de moléstia, morro de dor e de desgosto... Brasil, terra abençoada que nunca mais verei..."
Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão de Natal de Dom Luiz de Orleans e Bragança)
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A Imperatriz Teresa Cristina, Mãe dos Brasileiros
Com a Imperatriz Teresa Cristina, a caridade sentou-se no trono brasileiro
Nos 46 anos que viveu entre nós, realizou Dona Teresa Cristina, a terceira Imperatriz, o perfeito protótipo de virtudes cristãs, pelo que lhe coube esse título de “mãe dos brasileiros”, no consenso unânime dos corações.
A Impertariz Dona Teresa Cristina, c. 1876 Fotografia de Joaquim José Insley Pacheco Acervo da Família Imperial do Brasil |
Durante a viagem que nos trouxe a Imperatriz Teresa Cristina, adoeceu um oficial de um dos navios brasileiros. A Imperatriz exigiu então que lhe informassem minuciosamente sobre a marcha da moléstia.
E quando soube que o estado do distinto oficial era cada vez pior, mandou que parassem os navios e, em alto mar, deixando a capitânea, foi para bordo do navio onde estava o doente, a fim de ministrar-lhe seus cuidados.
Ficou junto à cabeceira do oficial até que ele expirasse. Desde esse instante verificaram os membros da comitiva imperial quão grande era o coração da nova Imperatriz.
A 3 de setembro de 1843, chegava ao Rio a esquadra que nos trouxe de Nápoles a Imperatriz Teresa Cristina, e no dia seguinte ela desembarcava com o Imperador, que havia ido recebê-la no navio.
As qualidades excelsas de Dona Teresa Cristina sintetizam-se no cognome que lhe ficou, de mãe dos brasileiros, e resume-se na frase com que Benjamin Mossé encerra a notícia da sua chegada aqui: Desde esse dia a caridade se assenta no trono do Brasil.
Referindo-se a D. Pedro II e Dona Teresa Cristina, Machado de Assis conclui uma poesia com estes versos:
“Bem-vindo! diz-te o povo, e a frase poderosa
É como que fervente e tríplice ovação;
— Ouve-a tu, que possuis um anjo por esposa,
Por mãe a liberdade, e um povo por irmão!”
Para que a auréola de sua esposa não fosse trocada pela coroa de espinhos, D. Pedro II aconselhou-a, com prudência e sabedoria, a limitar-se à sua dupla missão de esposa e mãe, e que nunca atendesse a pedidos de favores de quem quer que fosse, pois para cada pretendente servido haveria dúzias e centenas de pretensões malogradas.
A Imperatriz assim fez. Sempre que se atreviam a importuná-la com pedidos, dizia:
— Isso é lá com o Imperador.
Dona Teresa Cristina rapidamente se adaptou ao novo ambiente. Seu completo alheiamento em relação à política, sua generosidade para com os necessitados, seu sorriso terno e o trato sempre amável ganharam a admiração do povo. Ela se tornou a “mãe dos brasileiros”, e a mulher mais popular e mais respeitada em todo o Império.
A visita de D. Pedro II a Jerusalém, em 1876, foi um dos marcantes acontecimentos locais da época.
Para só citar um exemplo, basta dizer que a Imperatriz Dona Teresa Cristina, conforme sublinham as crônicas, foi a primeira imperatriz, depois de Santa Helena, mãe do Imperador Constantino, que pisou naquelas terras tão caras aos cristãos.
Durante a estada de D. Pedro II em Paris, Dona Teresa Cristina dava recepções no salão do Grande Hotel.
Enquanto ela recebia as senhoras, o Imperador ficava quase sempre num salão vizinho, com algumas personalidades das ciências e das letras, que Gobineau lhe apresentava. Se alguém perguntava pelo Imperador, ela respondia:
— Está com os doutores.
O Príncipe de Joinville, casado com Da. Francisca, irmã do Imperador, brincava com a esposa:
— Diga-me uma coisa, Chica: se você me tivesse perdido, iria procurar-me entre os doutores?
— Eu te procuraria por toda a parte – respondia a Princesa, sorrindo.
Da Imperatriz Teresa Cristina, nada há de mal a dizer
Ao tempo da proclamação da República, muito se havia zombado do Império, escarnecido o seu pessoal, envilecido o seu princípio essencial, infamado o Imperador nas pessoas dos seus antepassados.
Não era possível fazê-lo nas pessoas da sua esposa e das suas filhas, cuja compostura e virtudes exigiam uma veneração à qual só um louco se poderia esquivar.
D. Teresa Cristina era respeitada por todos os partidos e pelos jornais de todos os matizes.
Era extremamente caridosa. Quando teve de partir para o exílio, ficou desolada por não mais poder socorrer grande número de famílias desprotegidas da sorte, que tinham sempre dela o apoio moral e financeiro.
Que iria acontecer a essa pobre gente?
O Governo Provisório comprometeu-se a não abandonar os pobres mantidos pela bolsa particular do casal imperial.
No angustioso momento da partida para o exílio, a Imperatriz chorava convulsivamente.
O Barão de Jaceguai a aconselhou:
— Resignação, minha senhora.
— Tenho-a, e muito. Mas a resignação não impede as lágrimas. E como deixar de vertê-las, ao sair desta minha terra que nunca mais hei de ver?
No dia 28 de dezembro de 1889, 40 dias após o banimento da Família Imperial da nossa Pátria, morreu em um hotel de Lisboa a Imperatriz Teresa Cristina.
Nos seus últimos instantes de vida, confidenciou à Baronesa de Japurá:
— Maria Isabel, eu não morro de doença. Morro de dor e de desgosto.
O historiador Max Fleiuss afirma: “Costuma-se dizer que o dia 15 de novembro foi uma revolução incruenta, feita com flores. Houve, porém, pelo menos uma vítima: a Imperatriz”.
Os jornais europeus comentaram a morte da Imperatriz.
“Le Figaro” escreveu em 29 de dezembro de 1889:
“A Europa saudará respeitosamente esta Imperatriz morta sem trono, e dir-se-á, falando-se dela: sua morte é o único desgosto que ela causou a seu marido durante quarenta e seis anos de casamento”.
No mesmo dia o jornal “Le Gaulois” afirmou:
“Era uma mulher virtuosa e boa, da qual a História fala pouco, porque nada há de mal a dizer-se”.
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