Dona Maria Elisabeth: uma missão
O Jornal do Brasil, em sua versão online, disponibiliza aos leitores uma belíssima reportagem sobre Dona Maria Elisabeth (filha do Príncipe e da Princesa Dom Francisco de Orleans e Bragança, conseqüentemente, sobrinha de Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil). A matéria traz uma entrevista com a Princesa, que é médica e faz parte da ONG Médicos Sem Fronteiras. Nesta oportunidade ressalto a ampla caridade dos membros da Família Imperial do Brasil, de ontem e de hoje. Confira:
Dom Francisco, Dona Maria Elisabeth e Dona Claudia. (Foto: IDII)
SANGUE BOM
Por Manuela Andreoni
Durante seis meses, a médica carioca Maria Elisabeth se dividiu entre quatro clínicas para pacientes de HIV em Maputo, capital de Moçambique.
Eram 85 horas de trabalho árduo por semana, vendo e ouvindo histórias de uma população em que 25% das pessoas estão contaminadas pelo vírus da Aids. Ela é uma dos 35 brasileiros que trabalham para a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) como expatriados, ou seja, fora do Brasil.
A médica, no entanto, não só representa o país de que vem, mas sua história. Ela não esconde e até parece se orgulhar: tem dez nomes. Anote aí, por favor, e grife os dois últimos: Maria Elisabeth Josepha Angela Rafaela Michaela Gabriela Gonzaga Orleans e Bragança. Tetraneta de Pedro II, aos 27 anos a moça decidiu recuperar o idealismo de seu histórico parente e mergulhar no trabalho social. “É uma desbravadora, como Pedro II foi”, avalia o pai, Francisco Maria José de Orleans e Bragança.
Maria Elisabeth não vai tão longe. Diz que foi a Moçambique como uma trabalhadora humanitária comum.
Tem consciência do peso do seu nome, mas pensa que representa o país tanto quanto seus 34 compatriotas. “Sempre quis ajudar gente carente. E a África parece e sempre me pareceu uma espécie de mundo abandonado. Tinha vontade de fazer a diferença”, esclarece.
“Maria Elisabeth é mais uma boa médica do grupo. Ninguém nem sabia quem ela era quando veio fazer recrutamento”, conta Dominique Delley, recrutador de MSF no Brasil.
A jovem de sangue azul estudou em boas escolas bilíngues; antes de completar o segundo grau, já havia ingressado na faculdade de medicina e, saída de lá, logo se especializou em pediatria. Depois do trabalho em Moçambique, começou a pós-graduação em infectologia para doenças em países tropicais – indicada pelos profissionais do MSF –, que cursa hoje na Antuérpia, onde moram duas irmãs de seu pai.
Maria Elisabeth tem parentes por toda a Europa. Mas nega que seja rica e diz que, sim, verifica extratos bancários com certa frequência.
'A ÁFRICA PARECE UM MUNDO SEM DONO. TINHA VONTADE DE FAZER A DIFERENÇA'
Ela é do ramo imperial de Vassouras, que, ao contrário da parte de Petrópolis, não recebe dinheiro público algum (por ser “dona” da cidade). “O que ela está fazendo não tem nada a ver com ser Orleans e Bragança. Ela é assim”, explica enfática e orgulhosa a mãe, Cláudia Godinho. A princípio, no entanto, ela e o pai de Maria Elisabeth ficaram sobressaltados – “A gente sempre fica apreensiva, né?”, confessa a mãe. “Mas depois que eu mostrei a foto de Maputo, eles viram que a cidade não era tão assustadora assim”, conta a médica, rindo.
O sorriso da moça um tanto comum que costuma fazer piadinhas infames, dessas de riso fácil, só desaparece quando fala com muita seriedade do seu trabalho. E só dele. Nesta entrevista, não quis responder a muitas perguntas sobre a família. Limitou-se a dizer que valoriza muito a sua origem e que os primos são seus melhores amigos. Comparação com antepassados? Só a certeza de que o trabalho além-mar é um aprendizado que volta. “Quando comecei a trabalhar, senti a realidade. As pessoas querem procurar tratamento, mas não conseguem. Poder ajudar é gratificante”. Para a advogada Denise Figueira, amiga da médica há 21 anos, Maria Elisabeth tem o perfil perfeito para esse tipo de missão. Sempre teve. “Ela sempre gostou de viajar, para conhecer culturas e pessoas novas. É uma pessoa simples”.
Mesmo com tal característica, a médica teve que enfrentar a si mesma e a seus antiquíssimos valores. Diz ter voltado outra pessoa e tem certa dificuldade de descrever sua experiência.
Gagueja, olha para o alto e fala com voz calma: “Você começa a questionar o que é a vida e o que é a felicidade. Porque, lá, um pedacinho de terra e uma galinha podem fazer a alegria de alguém”.
Depois da temporada em Maputo, ela diz ter vontade de trabalhar com desnutrição. “Porque é mais emergencial, então você vê o resultado. É difícil trabalhar com HIV. Você chega pensando que vai mudar o mundo, depois acha que não tem jeito. Depois, o tempo mostra o quanto você está fazendo a sua parte”.
Domingo, 20 de Setembro de 2009.
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