175 anos da morte de Dom Pedro I
Neste mesmo dia (24 de setembro), há 175 anos, falecia Dom Pedro I do Brasil e IV de Portugal. Transcrevemos, através da gentil concessão do Correio Imperial na pessoa do Senhor Fernando Mascarenhas Silva de Assis, um artigo publicado em 7 de setembro de 2005, no nº 65 do Correio Imperial.
Correio Imperial
Há cento e cinquenta anos (24 de setembro de 1834) [hoje 175 anos] morreu no Palácio de Queluz, por coincidência, no quarto em cujas paredes se vêem as grotescas cenas do Quixote, de Cervantes - D. Pedro de Alcântara, primeiro do nome no Império do Brasil, quarto Pedro dos reis portugueses.
Contando-lhe a vida, faz meio século, num livro de juventude, considerei-o um herói precoce, que galgou a imortalidade cavalgando as grandes crises do século, por isso, justamente, "O Rei Cavaleiro". As crises foram da liberdade contra o absolutismo, na América e na Europa. Aqui, rompeu com a tradição, aceitando a aclamação nacional. Lá, desligou-se do passado, tomando a causa da Constituição. Vem dai o fato, único no mundo, de ser o estadista (à frente das multidões que, ufano chefe das revoluções permanentes, tem o seu monumento nas duas margens do Atlântico, no Rio de Janeiro a cavalo - na Praça Tiradentes e, em Lisboa, no Rossio, ereto sobre a coluna coríntia.
Ninguém o igualou no culto dos povos desentendidos em 1822, na língua comum. Aqui, promovendo a Independência, acolá, impondo a Lei; com a circunstância de pôr no trono os filhos, D. Pedro II no Brasil, D. Maria II em Portugal. Juntou à previsão o entusiasmo. Selou com a vitória o destino. Soube comandar de espada na mão a independência dos brasileiros e a transformação dos patrícios, soldado impetuoso, quer na colina do Ipiranga, quer no cerco do Porto, em ambas as conjunturas ungido pela sorte, que é a ordenança do valor. De um lado (eis o seu legado!) consolidou a unidade brasileira, de um outro, impeliu Portugal para diante, rasgando na antiga colônia e na metrópole decadente, os diplomas de antanho, em nome das luzes da Civilização.
Fundando o Império, guiado peia sabedoria de José Bonifácio de Andrada e Silva, traçou entre a era morta e os novos tempos, a ponte da concórdia em vez de abrir como alhures os abismos da divisão é da guerra. Sem a solução monárquica de 1822, proclamado D. Pedro I Imperador, retalhar-se-ia o Pais em Estados soberanos, num desafio à posteridade, que dificilmente o reuniria, se pudesse fazê-lo um dia, na imagem integra da Pátria. Do mesmo modo, abdicando em 1831 a coroa americana, arrasou no Reino os arsenais da Idade Média, implantando, semelhantes às liberdades que outorgara ao Brasil (Carta de 1 824), as liberdades que vigoraram em Portugal (Carta de 1826).
Não importam os erros políticos que acabaram encurtando o seu governo, tão popular no começo - em que aderiu à Nação adotiva - e tão hostilizado no fim quando parecia ter renegado a democracia que anunciara Sobre os desacertos e os infortúnios agiganta-se o gênio de condutor das massas,o fulgor da estrela cívica, que lhe iluminou a jornada, em ambos os continentes.
Por mais que o discutissem após sua morte, as suas qualidades sobrepujaram os seus defeitos. Foi formidavelmente providencial, quase adolescente (nascera em 1798) e ainda moço (faleceu aos 36 anos) aquém e alem-mar. É o Bolivar dos brasileiros é o Condestável dos portugueses. São comparações razoáveis, nas perspectivas da Historia, em que o ideal ismo e a bravura se aliam à oportunidade - de gera r o tempo o indivíduo que deu corpo e alma à coletividade.
Os monumentos que à beira do Oceano, no Brasil e na Europa, celebrizam o "Rei Cavaleiro", equivalem a mensagens imperecíveis recordando-lhe as lutas, as opções, o poder e a glória.
Morreu há século e meio. E continua lembrado e o reverenciamos em todos os 7 de setembro como se continuasse vivo, a cavalo, no punho triunfante a Suprema Lei, irradiando a majestade do patrono da Independência.
Contando-lhe a vida, faz meio século, num livro de juventude, considerei-o um herói precoce, que galgou a imortalidade cavalgando as grandes crises do século, por isso, justamente, "O Rei Cavaleiro". As crises foram da liberdade contra o absolutismo, na América e na Europa. Aqui, rompeu com a tradição, aceitando a aclamação nacional. Lá, desligou-se do passado, tomando a causa da Constituição. Vem dai o fato, único no mundo, de ser o estadista (à frente das multidões que, ufano chefe das revoluções permanentes, tem o seu monumento nas duas margens do Atlântico, no Rio de Janeiro a cavalo - na Praça Tiradentes e, em Lisboa, no Rossio, ereto sobre a coluna coríntia.
Ninguém o igualou no culto dos povos desentendidos em 1822, na língua comum. Aqui, promovendo a Independência, acolá, impondo a Lei; com a circunstância de pôr no trono os filhos, D. Pedro II no Brasil, D. Maria II em Portugal. Juntou à previsão o entusiasmo. Selou com a vitória o destino. Soube comandar de espada na mão a independência dos brasileiros e a transformação dos patrícios, soldado impetuoso, quer na colina do Ipiranga, quer no cerco do Porto, em ambas as conjunturas ungido pela sorte, que é a ordenança do valor. De um lado (eis o seu legado!) consolidou a unidade brasileira, de um outro, impeliu Portugal para diante, rasgando na antiga colônia e na metrópole decadente, os diplomas de antanho, em nome das luzes da Civilização.
Fundando o Império, guiado peia sabedoria de José Bonifácio de Andrada e Silva, traçou entre a era morta e os novos tempos, a ponte da concórdia em vez de abrir como alhures os abismos da divisão é da guerra. Sem a solução monárquica de 1822, proclamado D. Pedro I Imperador, retalhar-se-ia o Pais em Estados soberanos, num desafio à posteridade, que dificilmente o reuniria, se pudesse fazê-lo um dia, na imagem integra da Pátria. Do mesmo modo, abdicando em 1831 a coroa americana, arrasou no Reino os arsenais da Idade Média, implantando, semelhantes às liberdades que outorgara ao Brasil (Carta de 1 824), as liberdades que vigoraram em Portugal (Carta de 1826).
Não importam os erros políticos que acabaram encurtando o seu governo, tão popular no começo - em que aderiu à Nação adotiva - e tão hostilizado no fim quando parecia ter renegado a democracia que anunciara Sobre os desacertos e os infortúnios agiganta-se o gênio de condutor das massas,o fulgor da estrela cívica, que lhe iluminou a jornada, em ambos os continentes.
Por mais que o discutissem após sua morte, as suas qualidades sobrepujaram os seus defeitos. Foi formidavelmente providencial, quase adolescente (nascera em 1798) e ainda moço (faleceu aos 36 anos) aquém e alem-mar. É o Bolivar dos brasileiros é o Condestável dos portugueses. São comparações razoáveis, nas perspectivas da Historia, em que o ideal ismo e a bravura se aliam à oportunidade - de gera r o tempo o indivíduo que deu corpo e alma à coletividade.
Os monumentos que à beira do Oceano, no Brasil e na Europa, celebrizam o "Rei Cavaleiro", equivalem a mensagens imperecíveis recordando-lhe as lutas, as opções, o poder e a glória.
Morreu há século e meio. E continua lembrado e o reverenciamos em todos os 7 de setembro como se continuasse vivo, a cavalo, no punho triunfante a Suprema Lei, irradiando a majestade do patrono da Independência.
PEDRO CALMON Presidente do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro
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