Um ano sem Dom Pedro Luiz
“Penso que meu filho era bom demais, e talvez por isso Deus tenha o chamado para perto mais cedo. O problema é a saudade, que é muita.”
Dom Antonio de Orleans e Bragança, à revista Época – 04/06/09
Há um ano o mundo acordava com a triste notícia do acontecimento de uma das maiores tragédias aéreas da história mundial. Eram os jornais que noticiavam o desaparecimento do avião que fazia o vôo 447 da Air France, que saiu do Aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro, em 31 de maio, às 19h30mim, com destino ao Aeroporto parisiense Charles de Gaulle.
Com 228 pessoas a bordo, sendo 12 tripulantes e 216 passageiros, entre eles um bebê, inúmeros idosos, homens e mulheres, o Airbus A330, nunca chegou ao destino, desaparecendo no Atlântico. Na manhã de 1º de junho, além dos familiares das vítimas, um grupo de pessoas em especial, assistia ansiosamente aos noticiários, lia os jornais daquele dia, acessava os vários portais da internet que noticiavam o potencial acidente: o grupo especial era formado por monarquistas brasileiros à espera de um milagre, pois o jovem Príncipe Dom Pedro Luiz de Orleans e Bragança, futuro Herdeiro do Trono Brasileiro, estava naquele vôo, voltando a Europa após alguns dias com sua família no Brasil. Naquela altura a tragédia não era tratada como tal, havia hipóteses de que o avião tivesse sido seqüestrado ou tivesse ocorrido uma pane qualquer, de forma que o comandante achou por bem aterrissar em algum ponto isolado. Havia a esperança de que passageiros e tripulação tivessem achado abrigo nos rochedos do arquipélago de São Pedro e São Paulo. Infelizmente a esperança morreu. Após a confirmação, não restavam dúvidas de que o avião havia sido engolido pelo enorme Oceano. França e Brasil uniram-se para fazer buscas a sobreviventes e destroços, foram enviados navios, helicópteros e equipamentos de última geração ao provável local do acidente; outros países também manifestaram vontade de ajudar, afinal, havia no vôo cidadãos de 32 países diferentes. Somente no 5º e 6º dias de procura, foram achados os primeiros restos do avião e também as primeiras duas vítimas. Pela localização inóspita e difícil acesso, os corpos e destroços teriam que ser trazidos a costa por navios, o que exigiu grande tempo, arrastando ainda mais a dor das Famílias envolvidas.
Naquela manhã de 1º de junho o Príncipe Brasileiro Dom Antonio de Orleans e Bragança, que havia recém acordado, ligou a televisão e se deparou com a triste noticia que assolava o mundo. Logo identificou o nº do vôo e local de destino, com o avião, que um dia antes o filho havia embarcado. Um choque inesperado e que até agora não pôde ser traduzido por Dom Antonio. Tendo a notícia, teve que transmiti-la à esposa, Dona Christine, e aos filhos, Dona Amélia, Dom Rafael e Dona Maria Gabriela. Conta o Príncipe, que naquele momento começaram a rezar intensamente, “pois a fé tudo transforma”. Deslocaram-se da serra carioca, onde moram, para o Rio, a fim de acompanhar com precisão o que estava ocorrendo. No caminho, Dom Antonio relembrava o que havia dito ao filho, as trocas de olhares e de experiências que haviam feito um dia antes no mesmo trajeto, quando a família se dirigia ao aeroporto para dele se despedir. Conta Dom Antonio que durante o trajeto até o Galeão, conversaram sobre a partida de golf que haviam jogado pela tarde, sobre banalidades da vida, mas também conversaram “coincidentemente, sobre fé e religião. Ele disse que estava feliz e que Deus era muito importante em sua vida”. Depois da chegada da família ao Rio, desta vez para acompanhar as buscas pelo vôo 447, correram-se semanas de incertezas, dor e tristeza.
Dom Pedro Luís Maria José Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança, nascido em 12 de janeiro de 1983, era filho do Príncipe Dom Antonio João de Orleans e Bragança e de Dona Christine, nascida Princesa de Ligne, de importante Família Principesca da Bélgica. Era o 4º na linha de sucessão ao trono do Brasil, constituída por seus tios, o Príncipe Dom Luiz, atual Chefe da Casa Imperial do Brasil, Dom Bertrand, Príncipe Imperial do Brasil, ambos solteiros, e de seu pai, Dom Antonio. Desempenhou papel fundamental no plebiscito de 1993, pois simbolizava o processo de continuidade da monarquia, traduzia a juventude do movimento e toda a capacidade do sistema perante uma sociedade tão carente de grandes líderes. Era o símbolo de um sistema de governo atual, que em longo prazo nos possibilitaria a vivência de um terceiro Reinado, espelhado em seu antepassado, Dom Pedro II. Para tanto coube ao Príncipe buscar formação à altura. Era formado em Administração de Empresas pela Ibmec e pós-graduado em Economia pela FGV. Em 2005, Dom Pedro Luiz foi viver no Luxemburgo, Grão-Ducado governado por seu primo, o Grão-Duque Henri. Lá trabalhava no importante Banco Paribas, tendo, atestado por seu chefe, trajetória profissional invejável e promissora. Naqueles dias, anteriores ao acidente, veio ao Brasil para visitar sua Família, em especial a avó, que tanto o amava. Veio ver Petrópolis e viver o Brasil. Ninguém nunca imaginaria o que ocorreria no final da curta temporada no Rio de Janeiro.
Naquele momento difícil, o apoio de todos era fundamental. Os Príncipes de Ligne mandaram celebrar missa no Castelo de Beloeil, com presença de membros da nobreza européia e da Família Real da Bélgica, logo vieram para o Brasil. Da África veio Dona Maria Elisabeth, que estava lá em missão da ONG Médicos Sem Fronteira. O Conde Alexander de Stolberg, então noivo da Princesa Dona Isabel, esteve também presente às manifestações de pesar da Família. A Família Real da Bélgica também divulgou nota a respeito da tragédia, compadecendo-se das vidas perdidas, em especial a de Dom Pedro Luiz. A Duquesa Diana do Cadaval e seu marido, o Príncipe Charles-Phillipe de Orleans, Duque de Anjou, também declararam a revistas de Portugal -- a dor sentida pela trágica morte do primo. No site do Conde de Paris ainda é visível a nota de pesar sobre o acontecimento: “Monseigneur le Comte de Paris partage la douleur des familles des victimes du vol d'Air France 447 qui reliait Rio à Paris et a le regret d'annoncer la présence du prince Pedro Luiz d’Orléans-Bragance parmi ces victimes”. Em Portugal, o Duque e a Duquesa de Bragança mandaram celebrar missa na Igreja da Encarnação, pela alma do primo e “amigo que os visitava todos os anos”. Esta missa lotou o templo, eram os amigos de Dom Pedro Luiz, que depois de ir tantas vezes às terras dos antepassados, conquistou a muitos. Dona Isabel de Orleans e Bragança Martorell, filha de Dona Teresa, última neta viva da Princesa Dona Isabel, a Redentora, também estava presente. Sempre que Dom Pedro Luiz ia a Portugal passava em Sintra na Casa dos Duques de Bragança e no Porto, em casa de Dona Teresa. Era, por todos, muito amado.
Em 8 de junho, o Chefe da Casa Imperial do Brasil, Dom Luiz de Orleans e Bragança, tio de Dom Pedro Luiz, divulgou nota de pesar:
Transido de pesar, cabe-me o dever de registrar, enquanto Chefe da Casa Imperial do Brasil, o desaparecimento de meu querido e já saudoso sobrinho, D. Pedro Luiz de Orleans e Bragança, no fatídico acidente do vôo da Air France (Rio-Paris), ocorrido no dia 31 de maio, em pleno Oceano.
Diante da pungente dor de seus pais, D. Antonio e D. Christine, de seus irmãos, D. Amélia, D. Rafael e D. Maria Gabriela, e de minha querida Mãe, D. Maria, volto para eles minha especial solicitude e meu particular afeto. Solicitude e afeto que volto igualmente – e, junto comigo, toda a Família Imperial - para aqueles que perderam seus entes queridos no referido acidente aéreo. A todas estas famílias - de modo muito especial às brasileiras – a Família Imperial estende seus sentimentos e roga a Deus pelo descanso eterno de cada vítima.
Nestes dias, de todo o Brasil e até do exterior, chegaram aos pais de D. Pedro Luiz, bem como a mim e a toda a Família Imperial, numerosas e sinceras manifestações de pesar por tão trágico sucesso. Não posso deixar de ver nessas sentidas manifestações a expressão viva e autêntica do sentimento familiar e dos laços de afeto que sempre uniram a Família Imperial e os brasileiros, monarquistas ou não.
D. Pedro Luiz – até então, 4º na linha de sucessão dinástica – era um jovem Príncipe que despontava na sua geração como uma promessa, suscitando o interesse e a atenção de muitos, por seu modo aprazível, por suas inegáveis qualidades e pela tradição que representava.
Como fruto da exímia formação e do senso do dever, incutidos por seus pais, após se ter formado em Administração de Empresas pelo IBMEC do Rio de Janeiro, e se pós-graduado pela FGV, dava ele os passos iniciais de uma promissora carreira profissional, no BNP Paribas, no Luxemburgo, tendo a preocupação e o empenho de fazer ver aos estrangeiros as grandes potencialidades de nosso País.
Mas sua presença era especialmente querida entre aqueles que acreditam ser o regime monárquico uma solução adequada para o Brasil hodierno.
Foi D. Pedro Luiz presidente de honra da Juventude Monárquica e participou de ações e eventos de relevo em prol dos ideais monárquicos - muitas vezes na companhia de seus pais - chegando até a representar a Casa Imperial, em mais de uma ocasião, sendo-me especialmente grato recordar sua presença, em Portugal, em comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil.
Se o momento é de apreensão e de tristeza, não pode ele ser desprovido de esperança. Esperança que se volta, de modo particular, para D. Rafael – irmão do desaparecido – a quem auguro ânimo e determinação diante do infortúnio, e exorto a que seja, na sua geração, um exemplo de verdadeiro Príncipe, voltado para o bem do Brasil e exemplo de virtudes cristãs.
Ao encerrar esta dolorosa comunicação, volto meu olhar a Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, a quem suplico confiante que acolha na eternidade a D. Pedro Luiz. E rogo especiais orações por ele, bem como por seus pais, irmãos e por minha querida Mãe, a todos aqueles que, com espírito de fé, acompanham a Família Imperial neste momento de luto.
São Paulo, 8 de junho de 2009
Dom Luiz de Orleans e Bragança
Chefe da Casa Imperial do Brasil
Nesta nota, S.A.I.R. Dom Luiz expressa toda dor por conta do ocorrido, sem descuidar das atribuições que são de responsabilidades da Família Imperial Brasileira.
A 8 de junho, celebrou-se em São Paulo, na Igreja de Nossa Senhora do Brasil, às 11 horas, --- missa de 7º dia por Dom Pedro Luiz, estando presente Dom Luiz, Dom Bertrand, Dom Antonio e Dona Christine, Dom Rafael e suas irmãs. No Rio de Janeiro, no dia 10, às 13h30mim, a Antiga Sé ficou lotada por familiares, amigos e monarquistas de todas as partes, para o mesmo fim, em missa celebrada pelas maiores autoridades da Igreja do Rio de Janeiro, em cerimônia solene. Presidiu o rito sagrado o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta. Leandro Mairink, representante da Associação Causa Imperial, relata como foi à celebração:
“Nesta quarta-feira, na Antiga Sé Imperial e Real, reunidos com a Família Imperial estavam muitos amigos e parentes, havendo a impressão de que nada seria capaz de separar a família naquele momento. Primos, irmãos e amigos falaram sobre sua convivência com o príncipe D. Pedro Luiz, muito emocionados, isto todos puderam sentir. Em uma missa – um evento que talvez não ocorresse desde o final do Império – o clero da Igreja se uniu para a celebração, Bispos, Arcebispos, Abades e diversos Presbíteros do Rio de Janeiro, Niterói e Petrópolis foram acompanhados pela música tocante de diversos compositores clássicos na interpretação do Coral dos Canarinhos de Petrópolis.
Unidos, D. Rafael, D. Amélia e D. Maria Gabriela falaram sobre D. Pedro Luiz, muito emocionados. Quando as lágrimas interrompiam a voz das princesas, D. Rafael prontamente as amparava. O jovem príncipe, que demonstrou por suas palavras que sabe bem o peso da responsabilidade que sobre ele agora se encontra, falou do irmão mais velho como seu ídolo, seu exemplo de vida, no qual ele e suas irmãs buscavam constante apoio. Emocionado, mas com muita força e determinação, D. Rafael falou sobre a responsabilidade que tinha D. Pedro Luiz para com sua família, em especial com os irmãos e de sua missão para com o Brasil. O jovem príncipe deixou claro que sabe que agora essa responsabilidade é sua e que irá cumpri-la com a mesma dedicação que o irmão.
Naquele momento, no qual três irmãos unidos não falavam apenas da grande perda que sofreram, mas também da responsabilidade que sabem que têm para com o Brasil, todos os presentes ficaram extremamente emocionados. Lágrimas correram sobre tantas das faces dos presentes.
Não só os irmãos, mas também os primos e amigos pessoais do príncipe, proferiram palavras de amor e fé. Em nenhum momento se falou da morte, apenas da vida e da alegria que o príncipe D. Pedro Luiz passava a todos, alegria contagiante. Todos citaram momentos de felicidade com o príncipe e o exemplo que haviam recebido ao longo dos anos de convivência com ele. D. Pedro Luiz é considerado por todos os seus primos e amigos um exemplo incomparável.
Foram muitos os presentes, entre eles: Lily Marinho, João Henrique de Orleans e Bragança, Miguel de Ligne e sua esposa D. Eleonora de Orleans e Bragança, o conde Alexander de Stolberg-Stolberg e sua noiva D.Isabel de Orleans e Bragança.
Ao final da Missa, a Família Imperial, nas pessoas de SS.AA.II.RR os príncipes D. Luiz e D. Bertrand, SS.AA.RR o príncipe D. Antônio e sua esposa D.Christine, assim como seus filhos, cumprimentaram a todos os presentes, recebendo deles palavras de força e fé.”
A missa de um mês foi celebrada em Petrópolis, onde Dom Pedro Luiz cresceu, onde passou a maior parte de sua vida. Terra de seus antepassados. Cidade de Pedro.
Em 5 de julho, quando evoluíram as buscas por destroços e corpos de vítimas, um agente da Policia Federal telefonou ao Príncipe Dom Antonio para informar que havia sido encontrado o corpo de seu filho. Acabava tristemente a expectativa de um bom final. A todos nós, restou apenas a conformidade de poder enterrar o ente tão querido, sorte que tantas famílias afetadas não tiveram. Transladado do Recife para Vassouras, oficiou a missa de corpo presente, na igreja paroquial, o amigo da família e monarquista histórico, o Abade Emérito do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, Dom José Palmeiro Mendes, juntamente com o Padre Jorjão e o primo do falecido, o Padre Alexandro de Bourbon Duas-Sicílias. Uma cerimônia triste, a que tios, primos e alguns amigos mais íntimos, acompanhados dos pais e irmãos do Príncipe, se juntaram em choro e dor.
A tragédia do vôo 477 foi notícia por vários dias em todo mundo, mais de 300 jornais brasileiros noticiaram a morte do Príncipe. Quando muitos despertaram para conhecer Dom Pedro Luiz, já era tarde, mas, como registro ficou o que todos unanimemente dizem sobre o saudoso Príncipe. Dom Antonio e Dona Christine, pais zelosos, tiveram parte de suas vidas arrancadas, quantas lágrimas neste um ano, quantos momentos de desespero, quanta saudade? Um ano sem o bom filho, o querido irmão, o amado neto, sem o exemplar sobrinho, o primo companheiro, o amigo de todas as horas, sem o bom aluno, o ótimo funcionário. Um ano sem o saudoso Príncipe Dom Pedro Luiz.
Dom Pedro Luiz em seu batizado
Ainda criança
Na residência de Petrópolis: a Família reunida
No plebiscito de 1993, acompanha seu pai, o Príncipe Dom Antonio
Em discurso no Outeiro da Glória
Durante o Encontro Monárquico do Rio de Janeiro
Dom Bertrand, Dom Pedro Luiz e Dom Rafael num evento promovido em Brasilia
No aniversário da avó, S.A.I.R. Dona Maria
Dom Pedro Luiz e seus irmãos na Europa: Dona Amélia, Dona Maria Gabriela e Dom Rafael
Em Pterópolis nos 160 anos da Redentora, Dona Maria Gabriela, Dom Rafael, a Condessa de Stolberg; Dona Isabel e Dom Pedro Luiz
Dom Pedro Luiz e Dom Rafael na cidade do Porto, em casa de Dona Teresa de Orleans e Bragança
No Natal, em Família, os pais, os irmãos e a avó materna, a Princesa Alix de Ligne
Em evento no castelo da Família Principesca de Ligne
No Banco Paribas onde trabalhava, em Luxemburgo
No casamento de Marie-Christine da Áustria
Em evento com o Príncipe de Liechtenstein
Na serra carioca
Livreto distribuido na missa pela alma de Dom Pedro Luiz
Nas missas e enterro, toda a dor sentida pela Família e amigos do Príncipe
O enterro em Vassouras
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