Dilma legitima os crimes políticos de Maduro
Por José Carlos Sepúlveda da Fonseca
Quando se menciona o papel de um mediador,
entre indivíduos, instituições, empresas, grupos políticos ou países em
posições antagônicas, vem-nos à mente uma figura isenta e sem compromissos com
as partes, que possa debelar injustiças, abrandar posturas hirtas, harmonizar
interesses opostos, alcançar acordos.
Ao
longo de anos no poder, a diplomacia lulo-dilmo-petista criou diversas figuras
bizarras, entre elas a do mediador-cúmplice. Em vez de isento, o mediador-cúmplice é
comprometido por inteiro com uma das partes, inclusive com suas injustiças,
arbitrariedades e até crimes e se propõe dessa forma buscar o “entendimento”.
É o que ocorre presentemente com a diplomacia
brasileira – cada vez mais subjugada e degradada pelo petismo – na situação que
vive a Venezuela.
Sem
espaço para o desacordo
Todos os regimes totalitários – comunistas,
nacional-socialistas, etc. – consagram o princípio de que as instituições e o
conjunto da população se devem submeter ao projeto ideológico emanado do
Estado, a serviço de um partido ou de uma organização política.
Não há, nessa perspectiva, espaço para o
desacordo e todos aqueles que o manifestam são declarados inimigos do povo,
conspiradores, traidores, a serviço de interesses escusos ou até de algum
inimigo externo, de algum fantasmagórico imperialismo.
Assim
se dá na Venezuela de hoje. A política é uma exclusividade do regime e dos
fiéis ao “chavismo”. Todo aquele que, na relativa liberdade ainda reinante, se
tornar opositor, passa a ser imediatamente visto como inimigo do povo, a ser
esmagado; e qualquer manifestação pública de desacordo, um ato golpista e um
atentado à pátria bolivariana.
A
“ordem democrática” petista
Esta pervertida visão da democracia é
endossada por Dilma Rousseff (a Presidente em exercício), por Lula da Silva (o
Presidente de fato) e pelo Partido dos Trabalhadores.
De
acordo com essa abjeta cartilha ideológica, qualquer protesto, ainda que seja
de uma inofensiva estudante empunhando um cartaz, só pode ser considerado um
ato de violência; as execuções de manifestantes – na sua maioria com um tiro na
cabeça – um ato de defesa contra a “traição à pátria”; e a mediação como o
inequívoco apoio ao regime “chavista”, liderado por Nicolás Maduro. É o que,
cinicamente, Dilma Rousseff qualifica de manutenção da ordem democrática.
Sabotagem
na OEA em prol da Unasul
Foi animado por esta postura ideológica que o
Brasil votou contra o envio de observadores da OEA (Organização dos Estados
Americanos) à Venezuela e se opôs a uma reunião de chanceleres, no âmbito da
organização, para debater os eventos naquele país.
Fazendo eco à retórica “chavista”, a
diplomacia brasileira justificou sua atitude alegando que uma intervenção da
OEA, pela presença dos Estados Unidos nos quadros da organização, poderia
agravar os conflitos. Enquanto o Brasil – dito seja de passagem – finge que não
vê a presença crescente de cubanos no controle de organismos do Estado
venezuelano, inclusive nas Forças Armadas.
Dilma Rousseff apostou, pois, por uma reunião
da Unasul – solicitada por Nicolás Maduro – a fim de “mediar” a crise na Venezuela.
O resultado não podia ser outro. A Unasul
(União de Nações Sul-Americanas), concebida desde sua origem para apoiar a
integração sul-americana bafejada pelo projeto bolivariano, deu respaldo ao
regime de Maduro e à chamada Conferência Nacional pela paz, convocada por este
último; um simulacro de diálogo montado como arma de propaganda, enquanto o
regime prende opositores, sem o devido processo legal, e a Guarda Nacional
Bolivariana e os “colectivos” (forças paramilitares e gangues armadas) continuam
a perseguir e executar manifestantes nas ruas, e a invadir residências sem
qualquer mandato.
Projeto
de poder socialista e autoritário
As
atitudes da Presidente Dilma Rousseff, e de sua diplomacia, deixam patente que
o governo petista é animado – e sempre o foi – por um projeto socialista e
autoritário de poder.
No passado muitos repetiam, ardilosamente,
que as vias do lulismo eram diversas das do chavismo e que a moderação de Lula
continha o radicalismo de Chávez. O tempo se encarregou de demonstrar que o
lulo-petismo (hoje na versão Dilma Rousseff) sempre tentou acobertar e salvar
em suas crises o “chavismo” (hoje na versão Nicolás Maduro). Quando o regime da Venezuela
descamba para a repressão assassina e para a catástrofe econômica, a diplomacia
conduzida por Dilma Rousseff e inspirada pela nefasta figura de Marco Aurélio
Garcia, tenta cimentar na América do Sul a ditadura do “socialismo do século
XXI”, amparada por Cuba, Rússia e China.
Dilma
degrada a diplomacia
O jornal O
Estado de S. Paulo estampou ontem (13.mar.2014) um editorial inequívoco a
este respeito, que gostaria de compartilhar com os leitores deste blog. Seu
título: Dilma degrada a diplomacia:
·
A
presidente Dilma Rousseff definitivamente rebaixou o Brasil à condição de
cúmplice de regimes autoritários na América Latina. Não bastasse a reverência (e o vasto
financiamento) à ditadura cubana, Dilma agora manobra para que os atos
criminosos do governo de Nicolás Maduro contra seus opositores na Venezuela
ganhem verniz de legitimidade política.
Em vez de honrar as
tradições do Itamaraty e cobrar do regime chavista respeito aos direitos
humanos e às instituições democráticas, a presidente desidratou a única
iniciativa capaz de denunciar, em um importante fórum internacional, a
sangrenta repressão na Venezuela, que já matou duas dezenas de pessoas. Mandou
o representante do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA) votar
contra o envio de uma missão de observadores à Venezuela e impediu que a
entidade reunisse seus chanceleres para discutir a crise.
Como todos os líderes
populistas da região, Dilma considera que a OEA é quintal dos Estados Unidos. O
falecido caudilho Hugo Chávez costumava referir-se à organização como
"instrumento do imperialismo", entre outros nomes menos simpáticos.
Para o governo petista, contaminado pelos ares bolivarianos, uma decisão da OEA
sobre a Venezuela poderia ser considerada inoportuna e com potencial para
acirrar as tensões. Assim, a título de não melindrar Maduro, premiam-se a
brutalidade e a indisposição para o verdadeiro diálogo democrático.
Manietada pelo Brasil
e por seus parceiros bolivarianos, a OEA limitou-se a emitir uma nota cuja
anodinia mal disfarça a tentação de apoiar Maduro. O comunicado manifesta
"solidariedade" ao presidente e dá "pleno respaldo (...) às
iniciativas e aos esforços do governo democraticamente eleito da
Venezuela" no "processo de diálogo nacional" - como se fosse
autêntica a pantomima a que os chavistas chamam de "Conferência de
Paz". Estados Unidos, Canadá e Panamá votaram contra essa nota, pela razão
óbvia de ela não refletir os compromissos da OEA com a democracia e os direitos
humanos.
O passo seguinte da manobra, este ainda mais escandaloso,
foi convocar uma reunião de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas
(Unasul) para acertar o envio de um grupo de "mediadores" para a
Venezuela. A Unasul, como se sabe, é instrumento dos governos bolivarianos -
desimportante, ela hoje só existe para dar reconhecimento a governos claramente
antidemocráticos, em nome de uma certa "integração latino-americana".
Assim, os tais
"mediadores" da Unasul não farão nada além do que deles se espera,
isto é, fazer vista grossa às ações violentas de Maduro. Ao anunciar a
iniciativa, Dilma explicou, em seu linguajar peculiar, que a ideia é
"fazer a interlocução pela construção de um ambiente de acordo, consenso,
estabilidade, lá na Venezuela". Ora, que "diálogo" é possível
quando não se pretende exercer a necessária pressão diplomática sobre Maduro,
que reprime manifestantes usando gangues criminosas e encarcera dissidentes sem
o devido processo legal?
Portanto, a constituição de uma comissão na Unasul para a
Venezuela tem o único objetivo de deixar Maduro à vontade, sem ser constrangido
a recuar e a ouvir as reivindicações da oposição - que basicamente protesta
contra a destruição da Venezuela pelo "socialismo do século 21".
Percebendo o truque,
os oposicionistas venezuelanos trataram de enviar uma carta à Unasul em que
pedem aos países-membros que observem os acontecimentos no país "com
objetividade" e que a entidade "não seja usada como um instrumento de
propaganda". Mas é
justamente disso que se trata: se tudo ocorrer conforme o script bolivariano, a
Unasul vai respaldar o governo Maduro, revestindo-o de legitimidade - o que,
por conseguinte, transforma a oposição em golpista.
Ao tratar de forma
leviana este grave momento, em respeito a interesses que nada têm a ver com a
preservação da ordem democrática na região, o Brasil torna-se corresponsável pela consolidação de um
regime delinquente.
(A ilustração que encima este post é de uma
campanha lançada na Venezuela e que se espalhou pelas redes sociais - twitter:
@_calavera_)
0 comentários. Clique aqui para comentar também!