Dom Pedro II: Um Exemplo
Um Brasileiro, com“B” maiúsculo
Felipe Leite Acciaris Ribeiro Dias*
Descrito por Monteiro Lobato como sósia moral de um sábio imperador romano, Marco Aurélio, assim era o nosso D. Pedro II, nascido em 1825. Um dos maiores homens da história brasileira, ocupou o cargo de chefe de Estado durante quase 50 anos de paz, prosperidade e avanços importantes.
O menino que viria a ser imperador tornou-se órfão muito cedo, com a morte de sua mãe, a Imperatriz Leopoldina, quando mal contava um ano de idade. Aos seis anos, seu pai, D. Pedro I, foi deposto, falecendo em Portugal poucos anos depois. Sua infância foi bastante solitária, só lhe restando a companhia de suas irmãs, dos filhos dos empregados e dos meninos escravos do paço, isso nas horas em que podia brincar, pois, como futuro imperador, o governo da regência lhe impunha uma intensa rotina de estudos.
Ao assumir o trono em 1840, com apenas 15 anos de idade, libertou todos os escravos do palácio e outros mais que herdara do pai, passando a pagar-lhes salários e custear a educação de seus filhos.
D. Pedro II foi ensinado a amar o Brasil acima de tudo. Punia exemplarmente os políticos e funcionários corruptos, usando dos poderes que a Constituição lhe garantia para removê-los de seus cargos. Venceu importantes disputas diplomáticas, inclusive chegando a desafiar a toda poderosa Grã-Bretanha. Zeloso que era com as verbas públicas, recusou sucessivas propostas de aumento de seu salário, trabalhando durante meio século com o mesmo pagamento, ainda que, durante seu reinado, a economia brasileira tenha crescido dez vezes. Quanto às suas poucas viagens, custeava-as com seu próprio dinheiro. Durante uma de suas viagens, sua filha, a Princesa Isabel, conseguiu a abolição da escravidão em 13 de Maio de 1888, passando à história como redentora dos cativos.
A causa da abolição era outra luta do monarca brasileiro. O Paraguai invadiu o Brasil em 1865, iniciando a Guerra da Tríplice Aliança, vencida a guerra pelo Brasil em 1870, o imperador determinou que seu genro, o Conde d’Eu, requisitasse ao governo do Paraguai que abolisse a escravatura, pedido que foi atendido. Não pode existir prova mais evidente de que D. Pedro II não tolerava a escravidão.
As preocupações imperiais, porém, não se resumiam à solução de problemas característicos do Brasil do Século XIX. Sua visão era muito mais avançada, estendendo-se a preocupações que ainda hoje afligem os brasileiros. Valorizava, acima de tudo, a importância da educação para o progresso do Brasil. O Imperador escreveu: “Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”. Infelizmente, tal lucidez raramente foi demonstrada por nossos estadistas nos últimos 119 anos da república...
O patriotismo do imperador era tamanho que, em suas anotações, escrevia sempre “imperador” e “Brasileiro”, sempre com ênfase à sua qualidade de cidadão do Brasil e não na sua posição como monarca.
Magoado com o modo como fora expulso do país que tanto amara pelos golpistas em 15 de novembro de 1889, o Imperador, ardoroso patriota e amante de todas as coisas do Brasil, faleceu em um simples e discreto hotel parisiense em 5 de dezembro de 1891. Consta que seu único pedido ao deixar o país foi levar um travesseiro cheio da terra brasileira, para repousar sua cabeça na hora da morte. Não aceitou a indenização de cinco mil contos de réis, equivalente a 4.500kg de ouro, que lhe foi oferecida pelos insurgentes. “Não sei com que autoridade esses senhores dispõem dos dinheiros públicos” – disse o monarca, segundo informações colhidas junto à Associação Causa Imperial.
Tal era seu prestígio internacional que o governo francês deu-lhe honras de chefe de Estado e membros da realeza européia e do corpo diplomático das mais diversas nações compareceram ao cortejo fúnebre. Somente o embaixador do Brasil, por despeito do governo republicano diante de tantas homenagens ao monarca, não compareceu. Não é de hoje que nossas autoridades ignoram e desprezam as grandes figuras de nossa História.
*o autor é Secertário Institucional da Associação Causa Imperial.
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