Declarações de Dom Bertrand à revista Época: “‘Acompanhei presencialmente toda a exumação’, diz tetraneto de Dom Pedro I”
Por revista Época | Erica Kokay
Dom Bertrand de Orleans e Bragança fala sobre
a pesquisa que abriu os caixões e examinou os restos mortais do imperador e de
suas mulheres
“Impressionante e fundamental para a História
do Brasil”, disse Bertrand de Orleans e Bragança sobre a exumação para estudo
dos restos mortais de Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia. Tetraneto do
imperador, Dom Bertrand, como é conhecido, acompanhou presencialmente as
pesquisas comandadas pela historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel,
divulgadas nesta segunda-feira (17) durante a defesa de seu mestrado, na
Universidade de São Paulo (USP).
Em entrevista a ÉPOCA, Dom Bertrand afirmou
que a família não pensou duas vezes antes de autorizar a abertura dos caixões
dos três personagens históricos, assinada oficialmente pelo irmão Dom Luiz,
que, dentro da hierarquia ainda seguida pela família, de acordo com as normas
dos tempos do Império, é o chefe da Casa Imperial do Brasil (Dom Bertrand é o
príncipe imperial). A pesquisadora, amiga da família há anos, alegou que estava
preocupada com o estado dos restos mortais. Além de o local ser muito úmido,
“inundações já haviam atingido a cripta no Ipiranga, com água chegando
praticamente na altura do sarcófago”, afirmou o príncipe.
Parte das curiosidades descobertas pelo
estudo foi recebida com surpresa pela família. “O mais impressionante foi o
caso de Dona Amélia, em que o corpo estava muito bem conservado: pele, unhas,
pelos, supercílios... Nós não sabíamos da mumificação, descobrimos ao abrir o
caixão.” Dom Bertrand afirmou que não sabia também sobre a roupa com que a
tetravó, Dona Leopoldina, fora enterrada: exatamente a mesma que vestiu na
coroação do marido, Dom Pedro I, em 1822.
Por outro lado, houve uma confirmação do que
já era defendido pela família. Valdirene descobriu, com ajuda de análises
realizadas no Instituto de Radiologia da USP, que Leopoldina não havia nenhuma
fratura nos ossos, contrariando a versão histórica de que a primeira mulher de
Dom Pedro I teria sido derrubada pelo marido de uma escada na então residência
da família real. “Historiadores inventam versões sem fundamento, e os outros
repetem. Nós sempre contestávamos o fato”, disse Dom Bertrand.
A versão, propalada de fato por alguns
historiadores, dizia que a imperatriz teria morrido em decorrência da queda,
após quebrar o fêmur e sofrer um aborto. “O fato foi descartado pelos
cientistas, que realizaram diversos exames de alta qualidade, comprovando que
não foi uma suposta violência que a matou”, afirmou. “Ela realmente sofreu um
aborto, mas foi em uma época em que Dom Pedro I estava no Rio Grande do Sul.
Então não tem nenhuma relação.”
Medalhas, botões e fragmentos de vestes foram
recolhidos dos caixões do imperador e de suas mulheres, e devem ser expostos ao
público em breve. Segundo Dom Bertrand, os pertences foram confiados pela
família ao Departamento de Patrimônio Histórico de São Paulo. A intenção da
Secretaria Municipal de Cultura é expor as peças em vitrines blindadas dentro
do Monumento à Independência, na capital paulista, mesmo local onde os restos
mortais estão depositados.
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