GLOBO: Documentos de viagens do Imperador Dom Pedro II são patrimônio da humanidade
Documentos da viagem de D. Pedro II foram
contemplados pela Unesco. Instituição é o primeiro museu do Brasil a receber a
honraria.
Andressa Canejo
Do G1 Região Serrana
Museu Imperial de Petrópolis (Foto: Marco
Oddone)
Se antes o Museu Imperial de Petrópolis,
Região Serrana do Rio, já era considerado um dos patrimônios mais importantes
da Cidade Imperial e do Brasil, depois da última semana a relevância da
instituição foi ainda mais elevada. Isso porque o “Conjunto relativo às viagens
do Imperador D. Pedro II pelo Brasil e pelo mundo”, do acervo do Museu, foi
inserido no Registro Memória do Mundo da UNESCO (MOW) - honraria que equivale à
patrimônio da humanidade para patrimônio edificado, para documentos em papel
escrito e iconográfico.
A honraria é um reconhecimento da
representatividade do conjunto de documentos em nível internacional. Em 2010, o
material foi agraciado no âmbito nacional com o MOW BR. No ano passado (2012),
a instituição preparou um novo dossiê que foi submetido à UNESCO, que concedeu
o registro. Com a premiação, o Museu Imperial passa a ser a primeira unidade
museológica do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), do Ministério da
Cultura, a receber a importante chancela da Organização das Nações Unidas (ONU)
para a educação, a ciência e a cultura.
Caderneta de viagem de Dom Pedro II com
muitas anotações (Foto: Divulgação)
O acervo inclui 44 cadernetas de viagem do
Imperador D. Pedro II - incluindo textos, cartas e desenhos - e 10 diários da
imperatriz d. Teresa Cristina, além de diários de viagem de Luísa Margarida de
Barros Portugal, a condessa de Barral, e de Luís Pedreira do Couto Ferraz, o
barão do Bom Retiro, que integravam habitualmente a comitiva do Imperador. São
2.210 documentos que reúnem correspondências, itinerários de viagem, livros de
visitas e registros de contatos do Imperador, relatórios de despesas da
mordomia da Casa Imperial do Brasil, jornais e outros periódicos, panfletos, programas,
saudações e homenagens, convites, desenhos e fotografias. O acervo faz parte da
série "Viagens do Imperador – 1840-1913", que integra o fundo Arquivo
da Casa Imperial do Brasil, doado ao Museu Imperial em 1948 pelo Príncipe D.
Pedro Gastão de Orleans e Bragança, bisneto de d. Pedro II.
Desenhos registram as viagens
do Imperador (Foto:
Divulgação)
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“São registros de pessoas e coisas que ele
viu, como os desenhos das Pirâmides do Egito, ou correspondências com grandes
intelectuais, como Alfred Nobel, Louis Pasteur, Victor Hugo, Henry Wadsworth
Longfellow, entre tantos outros. A importância desse reconhecimento se deve à
riqueza desses dados e informações da visão de um observador a seu tempo que
registrou isso. Ele tinha uma visão do século 19 de um observador privilegiado,
um erudito”, destacou o diretor do Museu Imperial, Maurício Vicente Ferreira
Jr.
Curiosidades
entre os registros
Nos anos de 1871, 1876 e 1887, o Imperador
fez viagens à Europa e Estados Unidos, onde registrou suas experiências
pessoais, além de curiosidades e inovações que surpreenderiam a todos, como a
invenção do telefone. “O Conde D’Eu era surdo do ouvido direito e ao conversar
com Graham Bell sobre um aparelho para o problema, o Imperador ficou sabendo do
mais novo invento do cientista, que nada mais era que o telefone. Neste
encontro, D. Pedro declamou Shakespeare e acabou despertando no público
presente o interesse sobre a nova invenção de Graham Bell”, contou Maurício.
Em 1876, o Imperador cruzou os Estados Unidos
duas vezes, de um lado ao outro. Foram três meses de viagem de trem, barco e
carruagem. Segundo o diretor do museu, a imperatriz d. Teresa Cristina não quis
ir e ficou em Nova Iorque. “Em uma dessas viagens, ele foi o único chefe de
estado a ir à exposição comemorativa dos 100 anos de independência dos Estados
Unidos, que aconteceu na Filadélfia”, lembrou o historiador.
D. Pedro II também foi um dos patrocinadores
da construção do Teatro de Bayreuth de Wagner, na Alemanha. “Ele estava na
primeira fileira no dia da inauguração”, revelou Maurício, lembrando que a
segunda metade do século 19 foi um período de muitas evoluções. “Caminhou muito
rápido. Tivemos a invenção do telefone, telégrafo, das comunicações. D. Pedro
II foi um apaixonado por essas tecnologias, pelas transformações. Isto está
neste conjunto, a riqueza dessas informações”.
Novas
honrarias a caminho
E a busca pelo reconhecimento da história não
para por aí. A equipe do Museu Imperial já está preparando um novo dossiê sobre
a Guerra do Paraguai com documentos visuais - com aquarelas, desenhos e mapas.
Com o nome de “Iconografia e cartografia da Guerra do Paraguai em instituições
brasileiras", o documento está sendo elaborado pelo museu e outras sete
instituições detentoras de documentação relativa à guerra do Paraguai.
O dossiê será submetido pela UNESCO em agosto
para ser reconhecido como Memória do Mundo da América Latina (MOW LAC). “A
escolha do assunto é porque ele precisa de um tratamento, ser conhecido. A
intenção não é falar dos horrores da guerra. Essa documentação fala do
território, do conceito de liberdade, já que os negros e escravos que
participavam, quando voltavam ganhavam a alforria. Das relações internacionais
pluralistas”, explicou o historiador.
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